ATENTADO

Assassinato no Equador tem impacto direto nas eleições e pode beneficiar direita

Candidato assassinado a tiros em ato de campanha era forte crítico ao governo de Rafael Correa; discurso linha-dura contra a criminalidade deve se sobressair nos próximos dias

Cartaz do candidato presidencial Fernando Villavicencio, assassinado no EquadorCartaz do candidato presidencial Fernando Villavicencio, assassinado no Equador - Foto: AFP

O assassinato do candidato Fernando Villavicencio, de centro-direita, na última quarta-feira, em Quito, terá um forte impacto nas eleições do próximo dia 20. Em uma campanha eleitoral que já era atípica, meses depois que o presidente Guillmermo Lasso dissolveu a Assembleia Nacional e antecipou a convocação do pleito, o crime tem potencial, inclusive, de alterar o resultado no primeiro turno, onde a candidata Luisa González, pupila do ex-presidente Rafael Correa, era unanimidade nas pesquisas e tinha chances de vencer.

De qualquer maneira, os desdobramentos após o crime favorecerão o anticorreísmo e os candidatos mais à direita do espectro político, apontam especialistas, que alertam ainda para o risco de que a participação no pleito seja menor, dada à insegurança sentida pela maioria dos eleitores.

"A discussão antes do crime era se Luisa González seria eleita no primeiro turno ou se haveria um segundo turno. Agora, as coisas mudaram: as candidaturas que pediam uma resposta de força, de linha-dura a esse cenário de insegurança, podem se ver favorecidas com o assassinato" explica o cientista político Franklin Ramírez.

María Villarreal, professora do Programa de Pós-graduação em Ciência Política da UniRio e da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, concorda:

"Se tem alguém que se beneficia é a direita e todo seu discurso de mão de ferro e repressão" diz a especialista equatoriana. "Mas é preciso ter muito cuidado para evitar a instrumentalização da morte do Villavicencio com fins políticos."

Uma das principais propostas de governo do candidato assassinado era a aplicação do Plano Nacional Antiterrorista, cujas medidas incluíam construir "uma prisão de segurança máxima" para criminosos mais perigosos, além de militarizar portos para controlar o narcotráfico.

Na questão da segurança pública, a plataforma se assemelha ao do candidato Jan Topic, do Partido Social Cristão, que foi comparado durante a campanha ao presidente salvadorenho Nayib Bukele por defender sua polêmica guerra contra às gangues. Por isso, Topic pode ser um dos mais beneficiados com o novo cenário, apontam os especialistas.

Após a morte, o candidato, que já aparecia em terceiro ou quarto de acordo com as pesquisas, interrompeu a campanha, mas reiterou a necessidade de "agir com firmeza contra a criminalidade".

Já a correísta Luisa González tende a perder votos. O nome de Correa foi um dos mais citados nas redes sociais, onde muitos o acusaram, sem provas, de estar por trás do assassinato. Alguns jornais locais também relembraram suas falas duras contra o candidato que, antes de ser político, foi um jornalista crítico ao governo do esquerdista.

No Twitter, o ex-presidente, exilado na Bélgica, pediu que o crime não fosse usada para fins políticos. Sua pupila, que liderava a disputa, no entanto, deve ser a maior prejudicada no primeiro turno.

"Villavicencio era o candidato mais anticorreísta, por isso muito provavelmente seus votos irão se distribuir entre outros candidatos que são contrários a Correa. De qualquer forma, o segundo lugar continuará sendo muito disputado" acredita Franklin Ramírez.

A lei eleitoral obriga que o partido de Villavicencio escolha outro candidato, mas ainda não se sabe se haverá força ou vontade política para isso.

Abstenção pode ser maior
O órgão eleitoral do país garantiu, ainda na quarta-feira, que a data do pleito não será adiada, apesar de alguns pedidos de setores políticos que pediam o cancelamento do pleito. Do lado da extrema direita, também se multiplicaram vozes que pediam o Exército nas ruas. O pedido foi atendido pelas Forças Armadas que iniciaram, na quinta-feira, "um destacamento imediato em todo o território (...) até à conclusão do processo eleitoral” disse Luis Lara, ministro de Defesa, em um rápido pronunciamento.

Ainda assim, o clima de insegurança deve afastar os eleitores.

"Há uma desolação profunda e nervosismo por todas as partes. O fato de que o assassinato tenha ocorrido em Quito, na capital, adiciona mais um elemento à campanha, já que este tipo de crime costumava acontecer sobretudo na costa, nos portos [onde há atuação do narcotráfico]" afirma Ramírez. "Um assassinato desse nível na capital adquire outra dimensão. Ninguém mais se sente seguro para exercer seu voto. Não há uma percepção entre os cidadãos de que eles podem se expressar de modo livre."

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