Assassinos de Marielle não estão arrependidos e têm características de sociopatas, diz promotor
Representantes do Ministério Público foram os primeiros a falar no segundo dia do julgamento de Ronnie Lessa e Élcio de Queiroz
O segundo dia do julgamento dos ex-policiais Ronnie Lessa e Élcio de Queiroz, réus confessos no assassinato da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes, começou na manhã desta quinta-feira com representantes do Ministério Público apresentando suas argumentações contra os criminosos, cada um com 29 minutos à sua disposição. O promotor de Justiça Fábio Vieira, segundo a falar, disse que sua impressão é que o arrependimento apresentado nas falas de Lessa e Élcio é "uma farsa".
Definindo a dupla que está no banco dos réus como "sociopatas", Vieira disse que os assassinos "não têm emoção em relação aos outros", muito menos sentimentos ou empatia.
— O que vocês viram ontem no interrogatório dos dois foi uma farsa. Na verdade, eles não estão com sentimento de arrependimento, eles estão com uma tristeza de terem sido pegos. Porque ninguém foi lá bater na porta da DH (Delegacia de Homicídios), quando todo mundo queria saber (e disse) "olha só, fui eu, tá? Estou arrependido disso. Fui eu e fiz dessa forma. Fui eu e quem mandou foi isso". Isso só aconteceu quando as provas que existem no processo, através do trabalho árduo do Ministério Público, junto com seguimentos da polícia, e com Defensoria e tudo mais, chegou à conclusão absoluta de que os executores eram aqueles, não tinham como eles fugirem disso — argumentou Fábio Vieira.
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Já o promotor Eduardo Moraes, que falou em seguida, também questionou a fala dos réus sobre estarem arrependidos do crime, afirmando que as informações foram compartilhadas com as investigações por um interesse: o de obter redução de pena após a condenação.
— Eles são réus colaboradores. Eles não vieram se arrepender. Eles chegaram ao Ministério Público e pediram algo em troca para falar o que eles falaram. Porque, até ontem, eles estavam aqui, os dois, até outro dia, negando todas as imputações — disse o promotor, que chegou a questionar "que arrependimento é esse?".
Promotora diz que colegas desistiram de cargo no 4º Tribunal do Júri por temerem caso Marielle
Quem abriu o julgamento nesta quinta-feira foi a promotora Audrey Majorie Leocadio, primeira a sustentar os debates pela acusação, às 9h27. Audrey falou do receio dos colegas para assumirem a vaga da promotoria do 4º Tribunal do Júri por causa justamente do júri de Ronnie Lessa e de Élcio de Queiroz. De última da lista de transferência, ela disse que foi a única a aceitar o desafio, diante da complexidade do caso.
— Muitos colegas desistiram. São mais de 60 volumes, entendi ser trabalhoso. Eu pensei e concluí: não vou me acovardar — relatou Audrey. — É inegável a importância desse processo. É inegável que ele repercuta não só no Rio, mas diria, no mundo.
Ela agradeceu às promotoras Simone Sibilio e Letícia Emile, cujo trabalho reuniu provas contra Lessa e Élcio, na primeira fase das investigações. Também falou do apoio do Gaeco e de outros colegas. Ao final de seus 10 minutos de argumentação, pois o tempo dos debates foi dividido com outros promotores. Audrey repetiu uma frase da viúva de Marielle, Monica Benicio:
— Monica disse ontem (quarta-feira), que Justiça era não estar aqui e ter Marielle e Anderson aqui. Mas já que estamos, vamos fazer justiça, senhores jurados.