Assim na terra como no céu
Dedico este artigo ao meu colega o filósofo grego Aristóteles, que falou: o Homo sapiens é um animal satírico
MONTANHAS DA JAQUEIRA -- E por falar na peleja do capitão de bravata em revogar e não revogar os decretos de luto em homenagem a personalidades históricas, o Padre Cícero Romão/Pádim Ciço teve uma visão profética e assim falou aos romeiros, numa entrevista em 1931: “O comunismo foi fundado pelo Demônio. Lúcifer é o seu nome e a disseminação de sua doutrina é a guerra do diabo contra Deus. Conheço o comunismo e sei que é diabólico. É a continuação da guerra dos anjos maus contra o Criador e seus filhos”.
Corriam os anos 1930 e o ditador Joseph Stalin era o grande Satã do comunismo na União Soviética. Stalin e o nazista Hitler foram os grandes Satãs e genocidas da humanidade, encarnação do mal, responsáveis por dezenas de milhões de assassinatos (estes são dados de realidade histórica). Ainda hoje disseminam discípulos no mundo, anjos do mal, vendedores de ilusões.
O venerável Padim Ciço foi excomungado pela Congregação da Santa Fé (ex-inquisição) e depois reabilitado pelo Vaticano. O padre virou lenda e morreu de morte morrida aos 90 anos, em 1934, cercado pela devoção dos romeiros e pelo carinho das beatas. O lendário cangaceiro Lampião, devoto do Padim Ciço, morreu de morte matada em 1938, cercado pela paixão de Maria Bonita e os rifles das volantes policiais. São capítulos da epopeia nordestina.
Em matéria de devoção, o capitão de fandango está mais próximo de Frei Damião de Bozzano, que ameaçava excomungar “os comunistas, as raparigas e as mulheres de minissaia”.
Na sua proverbial ignorância, o capitão de fandango referiu-se ao Padre Cícero como tendo nascido “no Pernambuco”. A estátua do meu Padim estremeceu nas bases de concreto no epicentro em Juazeiro do Norte e os sísmicos abalaram as placas tectônicas no Crato. O capitão confundiu o Padre Cícero com o bode rouco, porque disse que são muito parecidos, na cabeça de coco dele. Se eu fosse o Papa, mandava excomungar os hereges da seita vermelha e da nova seita do gado.
A memória do arcebispo Dom Helder Câmara também esteve na mira dos decretos insanos do capitão de bravata. O magistral Nelson Rodrigues, que se auto intitulava reacionário e “flor da obsessão”, chamava o pequeno grande homem de “arcebispo vermelho”. A bandeira vermelha combatia a ditadura e defendia a liberdade. Dom Hélder hoje reina acima das misérias humanas.
Além dos horizontes da condição humana de pecadores, Dom Helder, Frei Damião e o Padim Ciço hoje são abençoados e venerados, assim na terra como no céu.
*Jornalista
[email protected]
- Os artigos publicados nesta seção não refletem necessariamente a opinião do jornal. Os textos para este espaço devem ser enviados para o e-mail [email protected] e passam por uma curadoria para possível publicação.
