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Astrônomos detectam planeta errante do porte da Terra vagando pela Via Láctea

Os chamados planetas errantes devem ser extremamente comuns, mas, como se pode imaginar, muito difíceis de ver

Via Láctea em 3dVia Láctea em 3d - Foto: J. Skowron/OGLE/Universidade de Varsóvia

Um grupo internacional de astrônomos fez a primeira detecção do que provavelmente é um planeta com a massa da Terra - ou talvez ainda menor - vagando sozinho pela Via Láctea. Surpresa zero de que astros assim existam, mas sua detecção mostra que essa população de objetos já pode ser estudada pelos astrônomos, o que é um avanço importante.

Os chamados planetas errantes devem ser extremamente comuns, mas, como se pode imaginar, muito difíceis de ver. Sabemos que o processo de formação planetária é bastante turbulento, e interações gravitacionais por vezes podem ejetar mundos inteiros de seu sistema de origem. Então, em vez de girarem ao redor de estrelas (como fazem os nossos planetas em torno do Sol), eles vagam pela Via Láctea, em órbitas ao redor do centro galáctico.

Devem, portanto, existir aos montes. Mas é muito difícil detectá-los, por duas razões: na escuridão do espaço interestelar, não emitem radiação luminosa suficiente para serem notados. E, o que torna tudo ainda mais difícil, não sabemos onde procurá-los.

Bem, então como o grupo liderado por Andrzej Udalski, da Universidade de Varsóvia, na Polônia, encontrou esse pequeno mundo errante? O truque é vasculhar o céu à procura das chamadas lentes gravitacionais. Como parte de um projeto conduzido há 28 anos, chamado OGLE, os pesquisadores vasculham o céu em busca de estrelas que possam passar por uma súbita alteração em seu padrão luminoso que indique a presença de uma microlente gravitacional.

Trata-se de um efeito predito pela relatividade geral, em que raios de luz são curvados pela presença de um objeto com massa em seu caminho entre o objeto de origem e nossos telescópios na Terra. Esse padrão pode ser registrado e indicaria a passagem de um astro pequeno demais para ser visto, entre nós e uma estrela distante, agindo literalmente como uma lente.

Em novo artigo publicado no periódico Astrophysical Journal Letters, o grupo de Udalski reporta a mais rápida microlente gravitacional já registrada, com duração de 41,5 minutos. Tudo isso aconteceu em 18 de junho de 2016 e ficou na base de dados do OGLE até o evento ser analisado detalhadamente pelos cientistas.

A modelagem indica que o objeto a produzir a lente, registrada como OGLE-2016-BLG-1928, muito provavelmente é um objeto com massa inferior à da Terra, talvez apenas um pouco maior que Marte. Claro, uma vez concluída a lente, o astro nunca mais pode ser visto. Ninguém sabe exatamente a que distância está, de onde vem, para onde vai. Só se pode dizer que está a milhares de anos-luz de distância.

Os pesquisadores não conseguem nem mesmo descartar a hipótese de que o planetinha esteja preso a alguma estrela, embora possam afirmar não ter encontrado nenhum astro candidato a uma distância de 8 unidades astronômicas da lente (pouco menos que a distância do Sol a Saturno).

Tudo aconteceu na direção do centro da galáxia, e a interpretação dos dados depende da identificação da distância da estrela distante que teve sua luz distorcida pelo planeta. Se ela estiver no bojo da galáxia (região mais central), isso significa que ela está mais longe e a lente foi maior, colocando a massa do planeta em torno de duas vezes a da Terra. Contudo, análises de dados do satélite Gaia dessa estrela sugerem que ela está mais próxima, no disco galáctico, o que colocaria a lente ainda mais perto de nós e menos intensa. Aí a massa do planeta seria apenas de 30% da terrestre.

"Portanto, a lente é uma das melhores candidatas para um planeta errante de massa terrestre já detectadas até hoje", dizem os cientistas em seu artigo. "Esta população de planetas livres (ou de órbita larga) de baixa massa pode ser mais explorada por experimentos vindouros de microlentes." Os pesquisadores estão particularmente de olho nos resultados que poderão vir do telescópio espacial Nancy Grace Roman (antes conhecido como WFIRST), que a Nasa pretende lançar na segunda metade desta década. 

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