conflito

Ataque aéreo de Israel mata parentes de líder militar Mohammed Deif, diz Hamas

Deif sobreviveu a pelo menos cinco tentativas de assassinato nos últimos anos

Carro de Mohammed Deif, destruído em setembro de 2002, depois que ele foi alvejado por mísseis de helicópteros israelensesCarro de Mohammed Deif, destruído em setembro de 2002, depois que ele foi alvejado por mísseis de helicópteros israelenses - Foto: AFP

Autoridades do Hamas afirmaram que ataques aéreos israelenses na noite desta terça-feira (10) atingiram a casa da família de Mohammad Deif, líder do braço militar do Hamas que está por trás da ofensiva deflagrada no último sábado (7). Bassem Naim, alto funcionário do Hamas, confirmou à agência Associated Press que o bombardeio matou pai, irmão e pelo menos dois outros parentes de Deif na cidade de Khan Younis. O paradeiro do líder militar dos terroristas é desconhecido.

Há quem diga que ele só tem um olho, que perdeu uma mão e anda em uma cadeira de rodas desde que um ataque de Israel, em 2002, lhe tirou a perna. Sempre envolto em mistério, o líder do braço militar do Hamas foi quem deu voz ao anúncio da operação do grupo terrorista em Israel, no último sábado. “À luz dos crimes contínuos contra o nosso povo, à luz da orgia da ocupação e da sua negação das leis e resoluções internacionais e à luz do apoio americano e ocidental, decidimos colocar um fim a tudo isto”, avisou.

Durante a madrugada, enquanto sua mensagem tomava conta das rádios na Faixa de Gaza, centenas de militares do Hamas se moviam para a fronteira e se preparavam para lançar milhares foguetes contra o território de Israel, num ataque inédito que já deixou milhares de mortos.

Apesar de ser um dos homens mais procurado pelos militares israelenses desde 1995 — por orquestrar os assassinatos de soldados e civis israelenses — Deif sobreviveu a pelo cinco tentativas de assassinato nas últimas duas décadas. A última, em maio de 2021, aconteceu durante a operação que ficou conhecida como Guardião dos Muros, uma resposta ao lançamento de 4,3 mil foguetes, até então sem precedentes. Após intensas negociações diplomáticas, um cessar-fogo entrou em vigor 11 dias depois, em 21 de maio.

Mohammad Masri, seu nome original, nasceu em 1965, no campo de refugiados Khan Yunis, em Gaza. Ainda que a família tivesse dificuldades, conseguiu estudar na Universidade Islâmica de Gaza, onde teria se formado em Biologia. Depois de ingressar no Hamas, em 1990, ficou conhecido como Mohammed Deif (Deif significa “convidado” em árabe), devido ao seu estilo de vida nômade.

Naquela época, Ghazi Hamad, hoje porta-voz do Hamas, compartilhou uma cela de prisão com Deif depois que ambos foram presos pelos israelenses.

"Desde o início de sua vida no grupo, ele estava focado em sua trajetória militar" costuma dizer Hamad. "Ele era muito gentil. O tempo todo um patriota que fazia pequenos desenhos para nos fazer rir".

Sobre ele não circulam imagens — a última é de 1996 — e Deif se mantém longe da internet e dos celulares, por isso, também é conhecido como “fantasma”. Em 1996, os serviços secretos israelenses assassinaram o seu mentor: Yahya Ayyash, mais conhecido como “engenheiro”, perito em fabricar explosivos usados em atentados suicidas. Ele morreu ao atender a ligação de um celular que tinha sido armado com uma bomba.

Deif se tornou o comandante militar supremo das Brigadas al-Qassam depois que Israel assassinou Salah Shehade, em julho de 2002. No seu primeiro áudio como líder prometeu aos inimigos: "A sua vida será um inferno". Na primeira tentativa de assassinato, Deif teria perdido um olho e, na segunda, uma parte do braço.

"Mohamed al Deif merece a morte igual a Osama bin Laden, é um alvo legítimo", justificou nesta manhã o ministro israelense de Interior, Gideon Sa'ar. "Apareceu uma ocasião para eliminá-lo", acrescentou em entrevista à rádio militar aéreo israelense.

"Mohamed Deif merece a morte igual a Osama bin Laden, é um alvo legítimo" justificou à época o então ministro do Interior, Gideon Sa'ar.

Em 2009, Deif entrou para a lista de terroristas dos EUA. Em entrevistas, analistas o descrevem como um homem quieto e intenso, que não se interessa pelas rivalidades internas das facções palestinas.

"Deif tentou começar a segunda guerra da independência de Israel" disse ao Financial Times Eyal Rosen, coronel na reserva do Exército israelense que ocupava um posto na Faixa de Gaza. "O principal objetivo é destruir Israel, em etapas. Este é um dos primeiros passos; é apenas o começo".

Seu legado inclui a fabricação de foguetes Qassam, a criação de uma infraestrutura de túneis e a aproximação com o Irã, que permitiu um forte aumento do fornecimento de armas. Um agente ligado ao Shin Bet, o serviço de segurança de Israel, disse, ao Financial Times, que Deif buscava alvos de alto impacto, como colonos e soldados, no caso dos territórios ocupados, ou ônibus em Jerusalém e em Tel Aviv.

A aposta nos sequestros é também um traço do braço armado do Hamas liderado por Deif — uma das táticas usadas neste novo ataque. O grupo terrorista tem raptado milhares de israelenses que seriam usados como moeda de troca para reaver os palestinos presos por Israel.

Internamente, Deif costuma de opor às concessões que o Hamas faz de tempos em tempos, concordando em interromper os combates em troca de fundos adicionais para a Faixa de Gaza, que o grupo controla, ou mais autorizações de trabalho para os palestinos que vivem no local. Ele considera os Acordos de Oslo, que prometeram uma paz negociada no final dos anos 1990, uma traição à sua resistência e ao objetivo original de substituir Israel por um Estado palestino.

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