Atchim! El Niño também pode influenciar doenças alérgicas; entenda
Alteração de regime de chuvas e variação de temperatura acentuadas pelo fenômeno podem aumentar crises de rinite e asma
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O inverno já é uma estação desafiadora para alérgicos: o ar seco pode irritar a mucosa do nariz, responsável por filtrar partículas do ar, e afetar as vias aéreas, levando a infecções. Este ano, a complicação adicional fica por conta do fenômeno El Niño, cujos efeitos não se restringem ao clima: a alteração do regime de chuvas e as seguidas variações de temperatura também afetam nossa saúde - e haja sistema imunológico. Como essa combinação influencia nas doenças alérgicas? O que fazer em termos de prevenção e tratamento? Confira a seguir.
El... quem?
O El Niño é um aquecimento anômalo das águas do Oceano Pacífico, na região equatorial. Esse fenômeno modifica a circulação dos ventos na atmosfera e também o transporte de umidade. Gera modificações no regime de chuvas em várias áreas do planeta, incluindo o Brasil. Além das chuvas, mexe na temperatura: em locais quentes, onde chove mais, a chuva pode tornar o clima mais ameno. Onde chove menos, fica ainda mais quente.
— O El Niño costuma favorecer um aumento das chuvas no Sul e uma diminuição nas chuvas no Norte e Nordeste do país. Já as regiões Centro-Oeste e Sudeste têm, por vezes, influência dessa área seca, e em outras, da área chuvosa. O El Niño acentua essas mudanças bruscas — explica o meteorologista Giovanni Dolif, coordenador de Operação e Modelagem do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden).
Para completar, nessa fase de transição do inverno para a primavera, é comum haver variabilidade de temperaturas mais acentuada do que em outras épocas do ano, inclusive num mesmo dia (a amplitude térmica), diz o pesquisador:
— São normalmente estações de transição. O El Niño não é a causa da variabilidade, mas certamente a amplifica.
E o nariz com isso?
O epitélio das vias aéreas, que recobre nariz e pulmões, é sensível a mudanças de clima. E reage a elas.
— Essas variações afetam o sistema imunológico. Quando são mudanças drásticas, o corpo não tem nem tempo de se adaptar e fica suscetível a várias questões de saúde, incluindo as alergias — diz Dolif.
As alterações acentuadas pelo El Niño agravam a irritação das vias aéreas.
— O nariz tem uma série de receptores específicos para temperatura, concentração de poluentes no ar, tipos irritantes, tipos de cheiro. Se as alergias não estão bem controladas, essas mudanças de esquenta e esfria, ar quente e ar frio, podem aumentar a inflamação — conta Fábio Chigres Kuschnir, presidente da Associação Brasileira de Alergia e Imunologia (Asbai).
Os sintomas todo alérgico conhece: espirros, irritação no nariz, coceira. E até conjuntivite: estima-se que 60% das pessoas com rinite também tenham conjuntivite alérgica.
O ar frio, completa Kuschnir, também estimula terminações nervosas da mucosa nasal, liberando as mesmas substâncias de uma reação alérgica.
— O nariz é um filtro muito eficaz, tanto para alergênicos quanto para poluentes. Normalmente, quando inspiramos o ar, ele entra e é aquecido pelo nariz, e entra na mesma temperatura do corpo para as vias aéreas inferiores, os pulmões. Se o nariz não está funcionando direito, essa função de filtro se perde: o ar vai entrar pela boca, frio, e pode afetar vias aéreas inferiores — alerta o médico.
Poluição
Para complicar, o ar seco favorece o acúmulo de poluentes.
— É outro fator de irritação dos epitélios e pode causar inflamação, crises de asma, de rinite — diz o médico.
E mais nessa época do ano, que coincide ainda com a época de queimadas. A concentração de gases tóxicos, afirma, afeta em cheio as vias aéreas.
— A piora na qualidade do ar não vem só das emissões de poluentes geradas pelos homens, nos carros, nas indústrias. Nesse período há maior incidência de fogo em matas e vegetações, o que libera fumaça e também piora a qualidade do ar — explica Dolif, do Cemaden.
Prevenção e tratamento
Para os que já são alérgicos, o mais importante é que a doença esteja controlada. A doença crônica mais frequente é a rinite: estima-se que até 30% da população conviva com ela. Mas nem todos buscam as causas e menos ainda o tratamento.
— É preciso buscar a causa junto a um especialista. Sabemos que nem todos têm acesso a um, mas um diagnóstico preciso pode levar a tratamentos eficazes e seguros. Existem sprays nasais de medicações que melhoram muito os sintomas. Para os que são sensíveis a ácaros, ou pólen, que também se acentuam nessa época, é possível fazer uma imunoterapia específica, com vacinas antialérgicas que podem mudar a história da doença. E, no caso da asma, também há sprays, mas o mais importante é usar a medicação de controle — enumera o presidente da Asbai.
Os cuidados também valem para não alérgicos. Nos períodos de seca, muito aquecimento e pouca umidade do ar, o ideal é se hidratar bem, tomar bastante líquido e usar soro nasal com frequência, para que a mucosa do nariz não fique ressecada e perca sua capacidade de "filtro".
— Toda alteração física, com a mudança de temperatura, quanto química, com a ação de poluentes, pode causar sintomas, mesmo em quem não seja alérgico — diz o médico. — A atenção aos casos é fundamental.