Rússia

Atentado em Moscou: Medvedev sugere participação da Ucrânia, mas Kiev acusa Putin de "ação interna"

Ex-presidente diz que resposta será "impiedosa" contra os responsáveis pelo ataque que deixou 40 mortos; EUA 'inocentam' ucranianos

Fachada do Crocus City Center, cenário do maior atentado na Rússia em duas décadas Fachada do Crocus City Center, cenário do maior atentado na Rússia em duas décadas  - Foto: Olga Maltseva/AFP

Pouco depois do atentado que deixou 40 mortos e cerca de 100 feridos em um centro comercial nos arredores de Moscou, as autoridades russas anunciaram o início de uma investigação com base na legislação sobre atos terroristas. Até o momento, nenhuma organização ou grupo assumiu a autoria de um dos maiores massacres em solo russo em décadas. Contudo, a incerteza sobre quem está por trás das mortes e da destruição do Crocus City Hall não impediu que autoridades russas, ucranianas e americanas dessem declarações e levantassem hipóteses.

Em entrevista coletiva, em Washington, o porta-voz do Conselho de Segurança Nacional dos EUA, John Kirby, afirmou que "não há nenhuma indicação neste momento de que a Ucrânia ou os ucranianos estejam envolvidos num ataque armado".

— É óbvio que há pessoas em Moscou e na Rússia que não concordam com a forma como o Sr. Putin comanda o país. Mas não creio que possamos estabelecer uma ligação entre o ataque ao centro comercial e o regime político neste momento — disse Kirby.

As declarações foram prontamente questionadas pela porta-voz do Ministério das Relações Exteriores russo, Maria Zakharova, que questionou Kirby se os americanos têm elementos para "inocentar" alguém.

"Com base em que as autoridades em Washington tiram quaisquer conclusões sobre a inocência de alguém no meio de uma tragédia? Se os Estados Unidos têm ou tiveram informações confiáveis a esse respeito, elas devem ser imediatamente transferidas para o lado russo. E se não existirem tais dados, a Casa Branca não tem o direito de conceder indulgências a ninguém", escreveu Zakharova no Telegram, afirmando que "todos os envolvidos, conforme afirmou a liderança russa, serão identificados pelas autoridades competentes".

Como de hábito, o ex-presidente e vice-chefe do Conselho de Segurança, Dmitry Medvedev, elevou o tom, e prometeu encontrar e destruir" os responsáveis pelo ataque, sugerindo que teriam sido obra da Ucrânia.

“Se for estabelecido que estes são terroristas do regime de Kiev, é impossível lidar de forma diferente com eles e com os seus inspiradores ideológicos. Todos eles devem ser encontrados e destruídos impiedosamente como terroristas. Incluindo funcionários do Estado que cometeram tal atrocidade”, disse, no Telegram.

Desde o início da guerra, ou "operação militar especial", a Rússia se refere a ataques ucranianos em seu território como "atos terroristas", mesmo que tenham sido organizados e conduzidos por forças militares — isso inclui, por exemplo, ações com drones contra cidades russas, como Moscou, onde nem o Kremlin escapou das aeronaves não tripuladas. Refinarias em várias regiões foram alvejadas, suspendendo temporariamente parte atividades do setor petrolífero do país.

Mas houve atentados no sentido mais conhecido da palavra, tendo como alvos figuras próximas do Kremlin ou das Forças Armadas. No caso mais conhecido, em 20 de agosto de 2022, Darya Dugina, filha do filósofo e "guru" de Vladimir Putin, Alexander Dugin, morreu quando uma bomba instalada no carro dela foi detonada nos arredores de Moscou.

Em abril de 2023, um blogueiro militar, Vladlen Tatarsky, cujo nome real era Max Fomin, morreu quando um explosivo foi detonado em um café de São Petersburgo, e em maio do mesmo ano, uma mina antitanque explodiu sob o carro de Zakhar Prilepin, político e escritor ultranacionalista. Prilepin sobreviveu, mas o segurança dele não resistiu aos ferimentos.

Em todos os casos, Kiev negou qualquer participação nos ataques, que ao contrário do atentado desta sexta-feira, tinham alvos específicos, não cidadãos comuns, como no Crocus City Hall. Logo depois da confirmação das mortes, Mykhailo Podolyak, assessor do chefe do Gabinete do Presidente da Ucrânia, negou veementemente qualquer envolvimento do país.

“O seu objetivo é justificar ataques ainda mais duros à Ucrânia e a mobilização total na Rússia. Putin tem uma vasta experiência na organização de ataques terroristas semelhantes como forma de fortalecer o seu próprio poder", diz a agência, no Telegram. "A ação de hoje para intimidar os russos vai se tornar uma razão para apertar ao máximo os cidadãos na própria Rússia."

A agência também citou um caso que há décadas causa controvérsia dentro do país. Em setembro de 1999, explosões em prédios residenciais de Buynaksk, Moscou, e Volgodonsk deixaram 307 mortos e mais de 1,7 mil feridos. Oficialmente, o governo acusou militantes chechenos pelas ações, que foram um dos fatores que levaram à Segunda Guerra na Chechênia, lançada quando Vladimir Putin ainda era primeiro-ministro de Boris Yeltsin.

Contudo, investigações independentes apontaram para a hipótese de que os atentados teriam sido organizados pelo próprio Estado russo, como forma de justificar a guerra e consolidar a imagem de Putin, que chegaria à Presidência naquele mesmo ano, após a renúncia de Yeltsin. Vários dos envolvidos nessas investigações — incluindo a jornalista Anna Politkovskaya e o ex-espião Alexander Litvinenko — acabaram mortos em circunstâncias suspeitas.

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