Ativistas acusam EUA de expulsar imigrantes para o México por motivos sanitários
Os Estados Unidos expulsam diariamente dezenas de imigrantes de várias nacionalidades através de uma pequena e deserta cidade na fronteira com o México, alegando motivos de saúde pública, em meio à pandemia do coronavírus. A acusação foi feita por ativistas nesta sexta-feira (21). Segundo a lei dos EUA, os agentes de patrulha da fronteira podem realizar o processamento e remoção de imigrantes sem ter que transferi-los para postos de imigração por "interesses humanitários e de saúde pública".
"Chegam entre 70 e 80 por dia. Pode ser a qualquer hora, mas a maioria é expulsa de madrugada", disse à AFP Alejandro Calderón, um cubano de 55 anos encarregado de dar assistência a imigrantes em um abrigo localizado em Puerto Palomas, uma cidade no estado de Chihuahua, que faz fronteira com Colombo, Novo México, nos EUA.
Calderón - que passou um ano no sul do México e depois viajou para o norte em busca de asilo nos Estados Unidos - estima que pelo menos 3 mil imigrantes foram recebidos no abrigo. Segundo ele, essas pessoas são expulsas para Puerto Palomas, onde as temperaturas ultrapassam os 40 graus Celcius, independentemente do local por onde tenham entrado nos Estados Unidos e sem qualquer tipo de cuidado com possíveis sintomas de coronavírus.
Leia também
• Trump diz não saber nada do projeto de Bannon sobre o muro com o México
• Conjunto de radares reforçará ações contra tráfico aéreo na fronteira
• Brasil e Paraguai negociam reabertura de comércio de fronteira com guichê sanitário
"Não nos perguntam nada (sobre o vírus). Mas os agentes da imigração nos tratam de forma horrível, com nojo total e nos dizem que é porque existe a possibilidade de que tenhamos COVID", contou Nancy Soto, uma hondurenha que cruzou por Ciudad Juárez para os EUA com seu filho de cinco anos. Ela foi presa minutos depois e enviada para a pequena cidade.
Para o padre Francisco Javier Calvillo, diretor da Casa do Migrante de Ciudad Juárez, a expulsão de imigrantes nessas condições é uma violação de seus direitos humanos, já que são enviados a um lugar remoto, em meio a uma pandemia, sem medidas sanitárias por parte de nenhum dos dois países.
O Hope Border Institute, uma organização da sociedade civil, disse em um relatório que no processo normal de asilo e imigração, as pessoas ficariam presas por horas ou dias, colocando sua saúde em risco, de acordo com o governo dos EUA. Eles acrescentam que, embora isso seja verdade, a decisão das autoridades norte-americanas foge à responsabilidade das agências de fronteira de garantir um nível adequado e humano de cuidado sob sua custódia, um problema crônico que antecede a crise da Covid-19.