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Atuação de golpistas faz com que Lisboa declare guerra às drogas falsas

Turistas em Lisboa, PortugalTuristas em Lisboa, Portugal - Foto: Patricia de Melo Moreira / AFP

Em um dia da normalmente agitada rotina turística de Lisboa, Portugal, quem caminha pelo centro histórico da cidade pode estranhar a aparente oferta de drogas em plena luz do dia. É comum encontrar pessoas anunciando -em português, inglês e espanhol- a venda de maconha e de cocaína nas imediações dos principais pontos turísticos da capital portuguesa.

A situação, porém, está longe de ser enquadrada como tráfico de drogas. Trata-se de um golpe que comercializa entorpecentes falsos e costuma atingir principalmente turistas desavisados. Em vez de maconha, traficantes, ou melhor, farsantes entregam folhas de louro prensado. No lugar da cocaína, fermento químico ou bicarbonato de sódio.

O problema não é novo, mas, segundo relatos de comerciantes e profissionais de turismo que atuam na região da Baixa lisboeta, parece ter se intensificado nos meses pré-pandemia, acompanhando o aumento do fluxo de visitantes à cidade.

Em 2019, o turismo em Portugal bateu mais um recorde de visitantes. Estima-se que, no ano passado, cerca de 8,5 milhões de turistas tenham passado por Lisboa. Isso equivale a cerca de um terço das 26 milhões de pessoas que visitaram o país no mesmo período.

Mesmo que não haja o tráfico de drogas em si, autoridades se queixam de que os falsos traficantes passam sensação de insegurança aos visitantes, que temem circular por algumas áreas da cidade. "Temos de reconhecer que há consequências negativas para a imagem do país. Muitas pessoas não sabem que a droga não é verdadeira", avalia o subcomissário da Polícia de Segurança Pública Nelson Silva. "A imagem que fica é a de que alguém tentou lhes vender droga à luz do dia no centro da cidade."

Segundo o agente, por sua experiência, não tem havido um aumento desses episódios. "A situação mantém-se mais ou menos inalterada", avalia.

Guia turístico e motorista de tuk-tuk em Lisboa, o francês Adam Dubois, 28, relata que os enganadores assustam os visitantes e, em muitos casos, são agressivos com quem alerta os turistas sobre o golpe. "Vi um colega ser espancado por dois 'traficantes' depois de ele avisar duas meninas que as drogas eram falsas. As pessoas que vendem drogas falsas são conhecidas, mas todo mundo tem medo de falar."

Proprietários e funcionários de lojas e restaurantes da região do Bairro Alto e do Chiado têm histórias semelhantes. Gerente há quatro anos de um café próximo ao miradouro de Santa Catarina, um brasileiro, que não quer ser identificado, diz que já viu turistas chorando após a abordagem dos falsos traficantes.

Embora seja aparentemente simples, o esquema é de difícil resolução. Como a venda de maconha e de cocaína não é permitida, os consumidores lesados não se queixam do golpe para as autoridades.

Uma vez diante dos pseudo-traficantes, a polícia tem ação limitada: a comercialização de temperos em trouxinhas pelas ruas da cidade não configura crime. Resta às autoridades enquadrá-los em um edital que rege a comercialização do comércio ambulante em Portugal. "O problema é este: não é crime. [Os falsos traficantes] podem ser multados, mas não há um crime", afirma o subcomissário Silva. "Não há um tipo legal no nosso ordenamento jurídico que preveja a punição da conduta da venda dessas substâncias como drogas."

O policial destaca, no entanto, que parcerias feitas com as juntas de freguesia (divisões administrativas dentro do município) têm permitido que autoridades autuem e cobrem multas dos falsos traficantes de forma rápida, no momento em que eles são encaminhados às delegacias, devido ao comércio ambulante.
As autuações variam entre 348 euros e 1.758 euros (R$ 2.090 e R$ 10.559).

A Polícia de Lisboa também tem se dedicado a alertar os turistas sobre o golpe. Em pontos de grande circulação da cidade é possível encontrar cartazes que alertam para o problema.

"Nesta zona vende-se louro prensado como se fosse haxixe. Precisa de tempero? Há louro mais barato na mercearia", diz um dos cartazes. O material também foi traduzido para o inglês.

Em 2017, a polícia lisboeta, junto com comerciantes do centro da cidade, chegou a organizar uma passeata e uma grande campanha nas redes sociais sobre o assunto.

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