Ataques nas escolas

Aumento de casos de violência nas escolas acende alerta para debate sobre saúde mental

De acordo com estudo do Instituto de Estudos Avançados da Unicamp, nos últimos 21 anos, pelo menos 23 escolas do Brasil registraram ataques de alunos e ex-alunos

Escola Estadual Thomazia Montoro, local onde um estudante de 13 anos de idade matou uma professora a facadasEscola Estadual Thomazia Montoro, local onde um estudante de 13 anos de idade matou uma professora a facadas - Foto: Fernando Frazão / Agência Brasil

O aumento gradativo de casos de violência dentro das escolas acende um alerta para a importância de se debater sobre a saúde mental dentro dos espaços educacionais. Na segunda-feira (27), um aluno de 13 anos invadiu a Escola Estadual Thomazia Montoro, em São Paulo, e assassinou uma professora dentro da sala de aula com uma faca. Outras 4 pessoas ficaram feridas, sendo 3 educadoras e um aluno.

23 ataques em 21 anos
De acordo com estudo do Instituto de Estudos Avançados da Unicamp, nos últimos 21 anos, pelo menos 23 escolas do Brasil registraram ataques de alunos e ex-alunos. Foram 12 episódios em escolas estaduais, seis em unidades municipais, um em escola cívico-militar municipal, e quatro em estabelecimentos particulares. As mortes chegam a 36: 24 estudantes, cinco professoras, outros dois profissionais de educação e cinco alunos e ex-alunos responsáveis pelos ataques. 

Violência e reação
O afastamento das escolas, as dificuldades de convivência, o aumento da violência, os problemas socioemocionais crescentes e a influência das redes sociais são alguns fatores que impulsionam os ataques, de acordo com a psicóloga e gerente geral do Compaz Dom Helder Câmara, Juliana Novaes. 

“Eu acho que um dos fatores primordiais nessas dificuldades e o que eu tenho escutado muito nas escolas é a dificuldade de convivência. Antes, os professores tinham sim a situação de violência, mas, por exemplo, numa organização de sala os profissionais levavam menos tempo, tinham os alunos indisciplinados, mas hoje a gente percebe que existem muito mais alunos sem limites, indisciplinados, agressivos e intolerantes. Os psicólogos têm recebido frequentemente pedidos de escolas para a elaboração de estratégias para lidar com esse tipo de violência, porque algumas escolas estão perdidas”, afirmou.

A TV Globo registrou que pais afirmaram que na escola onde ocorreu o atentado em São Paulo eram comuns casos de agressões entre alunos.

O ataque de ontem, inclusive, teria sido motivado por vingança. De acordo um estudante da turma, o adolescente xingou, nos últimos dias, um outro aluno da sala de macaco, ocasionando uma briga entre eles, que foi separada pela professora vítima do atentado. Na ocasião, o agressor jurou vingança. O adolescente tinha outros episódios de agressividade. Uma funcionária da antiga escola do jovem chegou a registrar um boletim de ocorrência contra ele há um mês, por ameaça.

Ações conjuntas
Segundo a psicóloga, para reduzir a violência nas escolas, são necessárias ações de prevenção conjuntas entre escola, família, poder público e comunidade

"A escola está precisando de uma ajuda especializada para criar ações intencionais no desenvolvimento das habilidades socioemocionais que têm faltado nessas crianças e nesses adolescentes. É necessário estabelecer nos espaços de convivência que se converse sobre isso, que se converse sobre esses problemas de convivência, sobre esses sentimentos e toda a comunidade escolar precisa de formação para isso, porque esse aumento também é novo para as escolas", disse Juliana. 

Com a pandemia da Covid-19, a rotina de muitas crianças e muitos jovens foram transformadas, o que afetou o desenvolvimento em diversos níveis. 

“Eu acredito que a pandemia contribuiu para que essa violência aumentasse significativamente, porque eles passaram a ficar em casa e essa desorganização da rotina afetou em diversos níveis. Afetou o adulto que perdeu um parente, que passou fome e por vários problemas emocionais, imagina crianças e adolescentes que estão em desenvolvimento, que têm menos tempo de vivência, e menos ferramentas diante das questões emocionais”, destacou a profissional. 

Redes e responsabilização
Os ataques podem influenciar outros jovens a fazerem o mesmo
. No celular do agressor de 13 anos, por exemplo, foram encontradas informações de atentados em outras escolas no país. “No grupo de jovens, muitas vezes, uma atitude reflete nas outras, eles acham engraçado, e tem a questão do poder. Imagine situações que acontecem dentro de comunidades. Para eles, é uma referência de poder, mesmo sendo negativa”, pontuou Juliana. 

As redes sociais, que possibilitam a conexão de pessoas no mundo todo, também podem ser ferramentas de estímulo de violência. “É uma rede que pode aumentar e estimular ainda mais violência, e comportamentos mais agressivos e intolerantes”, ressaltou a psicóloga.

O secretário de Segurança Pública do Estado de São Paulo, Guilherme Derrite, inclusive, anunciou que a Polícia Civil vai investigar as pessoas que curtiram as postagens feitas pelo rapaz antes do atentado. Autoridades conseguiram acesso pelo celular do adolescente e devem identificar as interações do jovem. Caso os usuários sejam menores de idade, os responsáveis devem ser chamados para prestar depoimento. No último domingo (26), o adolescente chegou a anunciar o ataque. Na página, ele chegou a ser encorajado por outros usuários, com perfis parecidos, que curtiram e comentaram os posts.

Reação
Imagens do ataque à escola estadual de São Paulo causaram forte repercussão nas redes sociais. Câmeras de segurança registraram o momento em que uma das professoras da unidade de ensino imobilizou o estudante, enquanto uma outra mulher o desarmou. Segundo o secretário da Segurança Pública, o ato evitou uma tragédia maior e foi considerado heroico. 

A vítima
Vítima do ataque na escola estadual de São Paulo, a professora Elisabete Tenreiro tinha 71 anos e já tinha se aposentado em 2020, mas continuou dando aulas de ciências por vocação. Ela começou a dar aula na unidade de ensino no início deste ano.  A escola ficará fechada por uma semana.

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