Austrália vai às urnas e pesquisas apontam derrota do governo conservador
A campanha eleitoral foi marcada pela inflação, grande preocupação dos eleitores
A Austrália, afetada nos últimos três anos por várias catástrofes naturais e a pandemia de Covid-19, terá eleições legislativas no sábado (21) que, segundo as pesquisas, podem dar uma vitória aos trabalhistas sobre os conservadores, que governam o país há quase 10 anos.
As pesquisas apontam uma pequena vantagem do Partido Trabalhista (centro-esquerda), liderado pelo veterano Anthony Albanese, que seria mais amigável à pauta do clima e menos hostil a respeito da China.
Mas o primeiro-ministro Scott Morrison, muito combativo à frente de uma coalizão conservadora, reduziu a diferença nos últimos dias.
A campanha eleitoral, bastante virulenta, foi marcada pela inflação, grande preocupação dos eleitores.
Nos últimos três anos, a Austrália foi afetada por incêndios florestais, secas, a pandemia de Covid-19 e várias inundações.
Os australianos, cada vez mais insatisfeitos com suas condições de vida e mais pessimistas a respeito do futuro, podem dar as costas aos partidos tradicionais, segundo as pesquisas do instituto Ipsos.
"Há um grande descontentamento com o governo e a posição do primeiro-ministro tem sido bastante questionada", resume Mark Kenny, professor da Universidade Nacional Australiana.
As pesquisas revelam uma grande insatisfação entre as mulheres e os jovens, que enfrentam a perspectiva de serem mais pobres que seus pais, ao herdar um país afetado pela mudança climática.
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De crise em crise
Quase 17 milhões de australianos estão registrados para votar e devem escolher os 151 representantes da Câmara, assim como metade dos integrantes do Senado.
O voto é obrigatório e os eleitores classificam os candidatos por ordem de preferência, o que dificulta a previsão do resultado.
Morrison, 54 anos, espera repetir o "milagre" de 2019, quando venceu apesar de ter sido apontado como derrotado nas pesquisas. Mas para alcançar a meta, ele precisa enfrentar o trauma coletivo dos últimos três anos.
Após sua eleição, incêndios florestais arrasaram o leste do país e queimaram uma área equivalente ao tamanho da Finlândia, o que asfixiou durante semanas as cidades de Brisbane, Sydney e Melbourne.
Morrison foi muito criticado por estar de férias no Havaí durante a crise.
E quando os incêndios terminaram, a pandemia de Covid-19 teve início.
Morrison, inicialmente celebrado pelo controle da pandemia, passou a ser questionado pela demora no início da vacinação.
O atraso provocou diversos confinamentos em grandes cidades e o fechamento das fronteiras por dois anos, o que levou a Austrália a ser chamada de "Estado eremita", isolado do resto do mundo.
"Este foi o ponto em que Morrison passou de um pouco atrás para muito atrás nas pesquisas", afirma Ben Raue, do popular blog político The Tally Room.
"Nunca se recuperou depois. Ele teve algumas pesquisas melhores que outras, mas nunca teve a vantagem", acrescenta.
Albanese, um parlamentar veterano de 59 anos, tentou transformar a eleição em um referendo sobre o governo Morrison.
Sua campanha minimalista deu a Morrison e à imprensa australiano pouco a atacar, mas também deixou os eleitores sem uma explicação clara do que faria no governo.
Candidatos alternativos
Quase um terço dos eleitores pode votar em candidatos fora dos partidos tradicionais e optar por políticos populistas, extremistas de direita ou independentes centristas.
O grande foco da campanha é o crescente custo de vida em um país que já estava entre os mais caros do mundo.
Apesar do déficit fiscal recorde, da primeira recessão em décadas e do frágil aumento dos salários, Morrison conseguiu reinventar sua imagem e permanecer competitivo.
Uma pesquisa do jornal The Sydney Morning Herald projeta uma vitória trabalhista, mas com vantagem mínima.
Existe a percepção de que os ataques de Morrison ao "perigoso" plano econômico de Albanese começaram a surtir efeito.
"Acredito que há uma sensação de mudança no país, mas a pergunta é se a oposição fez o suficiente para convencer as pessoas de que a mudança é segura", comenta Mark Kenny.