Azerbaijão e separatistas armênios iniciam negociações sobre Nagorno-Karabakh
Separatistas armênios aceitaram na quarta-feira (200 entregar as armas, como parte de um cessar-fogo mediado pela Rússia
O governo do Azerbaijão e os separatistas armênios de Nagorno-Karabakh celebraram nesta quinta-feira (21) as primeiras conversas de paz, após a operação relâmpago das forças de Baku, que reivindicou o controle sobre este território do Cáucaso.
A presidência do Azerbaijão afirmou que a negociação sobre a reintegração do território ocorreu em um ambiente “construtivo e positivo”. Também informou que as duas partes voltarão a se reunir "o mais rápido possível".
As negociações desta quinta-feira aconteceram na cidade azerbaijana de Yevlax, que fica 295 km ao oeste da capital, Baku, e duraram quase duas horas.
Hikmet Hajiev, conselheiro do presidente do Azerbaijão, disse na quarta-feira que o objetivo é “a reintegração da importação dos armênios de Karabakh” e uma “normalização” das relações com a Armênia.
A Rússia tem soldados de uma força de manutenção da paz neste enclave montanhoso do Cáucaso, que fica dentro das fronteiras internacionais do Azerbaijão, mas é controlada em boa parte por separatistas armênios desde um primeiro conflito no início dos anos 1990.
O presidente russo Vladimir Putin anunciou que as conversas de paz seriam mediadas pelo contingente de paz do país, presente na região desde o cessar-fogo que acabou com seis semanas de combates em 2020.
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Em uma conversa com o presidente azerbaijano, Ilham Aliyev, Putin pediu garantias aos "direitos e à segurança" dos 120 mil armênios do enclave, em meio a temores de uma fuga em larga escala.
“A parte azerbaijana afirmou que está disposta a colaborar nas questões com os soldados de manutenção da paz”, afirmou o Kremlin.
Aliyev pediu perdão a Putin, segundo o Kremlin, pelas mortes de dois soldados russos na ofensiva azerbaijana.
Azerbaijão nega denúncia do cessar-fogo
Enquanto as negociações começavam em Yevlax, tiros foram ouvidos em Stepanakert, capital separatista dos armênios de Nagorno Karabakh.
Os separatistas acusaram o Azerbaijão de violar o cessar-fogo, ou que Baku negou de maneira imediata.
“Aconteceu uma pequena troca de tiros fora da cidade. Estamos em casa aguardando os resultados das negociações”, declarou à AFP o empresário Arutyun Gasparyan, que tem dois filhos.
Nagorno-Karabakh, considerada uma região central em sua história pela Armênia, proclamou sua independência do Azerbaijão (com o apoio do governo de Yerevan) no momento da desintegração da União Soviética em 1991.
O balanço mais recente dos confrontos divulgado pelos separatistas armênios indica que pelo menos 200 pessoas morreram e 400 morreram.
Encurralados pelas tropas de Baku, os separatistas armênios aceitaram avançar para o cessar-fogo e participar nas negociações em Yevlax sobre a reintegração efetiva da região ao Azerbaijão.
As ruas de Stepanakert estão lotadas de “deslocados, famintos e assustados”, denunciou Gegham Stepanian, o defensor dos direitos humanos das autoridades separatistas.
Mais de 10 mil pessoas já foram retiradas do enclave, informou uma fonte separatista armênia na quarta-feira.
"Crime contra a humanidade"
Em Genebra, no Conselho de Direitos Humanos da ONU, a Armênia chamou a operação militar do Azerbaijão de “crime contra a humanidade”.
"A Armênia não deixa de informar este Conselho sobre a iminência de uma limpeza étnica, que já está em curso (...) Não é uma situação simples de conflito, e sim um crime contra a humanidade que deve ser tratado como tal", declarou o embaixador armênio, Andranik Hovhannisyan.
Na quarta-feira, Baku afirmou que “restaurou sua soberania” na região onde os separatistas armênios “começaram” a depor as armas, celebrou o presidente Ilham Aliyev.
A rendição dos separatistas aumentou a pressão sobre o primeiro-ministro Armênio, Nikol Pashinyan, criticado por não ter enviado ajuda para Nagorno-Karabakh.
“O caminho para a paz não é fácil, mas deve ser percorrido”, afirmou Pashinyan.
Milhares de manifestantes protestaram na quarta-feira à noite diante da sede do governo, onde, como na noite anterior, foram registrados incidentes com a polícia. Pashinyan “tem que sair, não pode governar o país”, disse um deles, Sarguis Hayats, um músico de 20 anos.
Do outro lado, o presidente azerbaijano Aliyev, que usa a receita do petróleo para fortalecer o exército, consegue o controle desta região de maioria armênia, cenário de duas guerras entre os países do Cáucaso: a primeira entre 1988 e 1994 (30 mil mortos) e a segunda em 2020 (6.500 mortos).