VIOLÊNCIA

Bandidos continuaram rodando com aplicativo de motorista, mesmo depois de morto, diz família

Parentes aguardam informações detalhadas da Uber

José Ivanildo saiu de casa por volta das 19h da segunda-feira (27)José Ivanildo saiu de casa por volta das 19h da segunda-feira (27) - Foto: Cortesia

Os familiares do motorista de aplicativo José Ivanildo Alves de Souza, de 64 anos, pedem justiça no caso que envolve o assassinato dele. Os parentes estão, na manhã desta sexta-feira (1º), no Instituto de Medicina Legal (IML), em Santo Amaro, Centro do Recife, e continuam aguardando as informações que deveriam ser fornecidas pela Uber, plataforma para qual ele dirigia, para que haja elucidação do caso.

Segundo Lucas da Costa, de 37 anos, filho do idoso, existe a possibilidade de os bandidos que assassinaram o trabalhador terem rodado com o carro, ainda no aplicativo, no entorno do Ibura. O veículo da cor branca é do modelo Prisma.

Em entrevista à Folha de Pernambuco, Lucas disse que, através de informações básicas da Uber, foi possível saber, apenas, os pontos de embarque e desembarque das corridas do dia em que o pai desapareceu, a segunda-feira (27). Foi quando a família entrou em contato com o seguro do carro, que é em cooperativa, e pediu as informações detalhadas sobre todos os trajetos do dia fatídico.

Os dados foram repassados à Polícia Civil, que detectou três paradas em pontos diferentes da BR-101, sendo uma de 21 minutos, outra de 6 minutos e uma última de dois minutos. Foi nesse último ponto que o corpo foi achado. Segundo Lucas, policiais foram ao local, às margens da rodovia, perto do Hospital Dom Helder Câmara, no Cabo de Santo Agostinho, e acionaram a família para o reconhecimento do corpo, no início da tarde dessa quinta-feira (30).

 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

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O corpo do motorista estava jogado em uma vala, a poucos centímetros do meio-fio. O cadáver estava coberto por capim, o que dificultou outras pessoas de verem. Junto ao morto, estavam os óculos e a Bíblia que ele carregava.

"O corpo já estava em decomposição. O que dificultou a constatação do local também foi que não havia presença de urubus. Tudo foi graças ao rastreamento do seguro. Se não, estávamos na procura até agora", ressaltou ele.

Luta por informações
Agora, o esforço da família do motorista morto é para que a Uber repasse as informações. Lucas destacou, durante a entrevista, que os parentes precisam que a empresa informe os dados dos clientes que chegaram a concluir viagens e dos que cancelaram. Segundo ele, duas pessoas desistiram e uma delas reportou a presença de mais de uma pessoa dentro do veículo.

Ainda de acordo com o também motorista de aplicativo, a constatação de mais de uma pessoa no carro foi feita depois da parada de dois minutos no trecho da BR-101, onde o corpo foi encontrado, o que leva a família a acreditar que os criminosos continuaram dirigindo o veículo dentro do aplicativo.

Enterro
O corpo foi liberado do IML por volta das 11h30. De acordo com a família, o laudo pericial aponta como causa mortis o traumatismo craniano com objeto contundente. Isso significa dizer que o motorista pode ter sofrido lesões provocadas por um objeto que não pontuagudo ou se acidentou com algum outro impacto externo.

José Ivanildo Alves de Souza será velado e enterrado no povoado de Tapera de Santa Maria, distrito do município de Glória do Goitá, na Mata Norte de Pernambuco, a 64 quilômetros do Recife. Foi lá onde o motorista nasceu e onde os pais estão enterrados.

Com a palavra, a Polícia Civil de Pernambuco
Por meio de nota, a Polícia Civil de Pernambuco afirma que o caso foi registrado na Força Tarefa de Homicídios da Região Metropolitana Sul, no Cabo de Santo Agostinho e que o crime se configura como latrocínio, roubo seguido de morte, e que "um inquérito foi instaurado, e as investigações prosseguem até esclarecimento dos fatos".

Desolação
A esposa do motorista, Ivonete da Costa, de 65 anos, está desolada. Segundo Lucas, ela e o filho mais velho, João Paulo, de 38 anos, estão atordoados com a perda do motorista. Ele confessou que está segurando as emoções, porque foi incumbido de resolver as tratativas necessárias que seguem até o sepultamento do corpo, mas não sabe como vai ser daqui para frente.

"A nossa mãe está desolada, porque o meu pai era a pessoa que levava o sustento para casa. Ela só tinha ele. Os dois moravam sós. Ela está muito mal, o meu irmão também. Apesar de estarmos resolvendo as coisas, não sabemos como vão ser as coisas depois daqui. Precisamos estar fortes para isso, mas não sabemos o depois", complementou.

A esposa de Ivanildo está desempregada. Ela tinha um bar, na comunidade do Pilar, no Bairro do Recife, mas precisou encerrar as atividades em 2021, e ainda falta tempo de trabalho para a aposentadoria. Até lá, os filhos vão unir esforços para ajudar a agora viúva.

O que diz a Uber?
A empresa Uber, responsável pela plataforma em que José Ivanildo trabalhava, se pronunciou, por meio de nota, dizendo que "lamenta profundamente que cidadãos sejam vítimas da violência urbana que permeia nossa sociedade".

"Prestamos toda nossa solidariedade à família de José Ivanildo Alves de Souza neste momento tão difícil. Vale esclarecer que a empresa já está colaborando com as investigações, na forma da lei, desde que recebeu a primeira solicitação oficial da polícia pelo portal de resposta à segurança”, concluiu o comunicado.

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