Barco chinês que zarpou da Rússia está no centro das suspeitas sobre corte de dois cabos submarinos
Graneleiro Yi Peng 3 está imobilizado desde terça-feira em águas internacionais, fora da jurisdição dos Estados, entre Dinamarca e o litoral ocidental da Suécia; diplomatas discutem solução
Um barco chinês que zarpou da Rússia, há uma semana está no centro das investigações e das intensas discussões diplomáticas sobre o corte repentino de dois cabos de telecomunicações no mar Báltico, depois que países europeus alertaram sobre uma possível interferência russa em infraestruturas submarinas globais, apontada como "sabotagem" e "guerra híbrida".
O navio graneleiro Yi Peng 3, construído em 2001 e de propriedade da empresa chinesa Ningbo Yipeng Shipping Co, está imobilizado desde terça-feira no estreito de Kattegat, entre Dinamarca e o litoral ocidental da Suécia.
De acordo com informações do portal VesselFinder, de vigilância de tráfego marítimo, a embarcação chinesa zarpou do porto russo de Ust-Luga, ao oeste de São Petersburgo, em 15 de novembro, e estava na região do Báltico quando os cabos foram danificados.
"A China trabalha atualmente com as partes afetadas, incluindo a Dinamarca, para manter uma comunicação fluida através das vias diplomáticas ", afirmou um porta-voz do Ministério chinês das Relações Exteriores nesta sexta-feira.
"Arelion", um cabo de telecomunicação que conecta a ilha sueca de Gotland com a Lituânia, foi afetado no domingo. O mesmo ocorreu na madrugada de segunda-feira com outro cabo submarino no Báltico, o "C-Lion", que conecta a Finlândia com a Alemanha, provavelmente devido a um dano físico, segundo autoridades finlandesas.
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A Defesa dinamarquesa indicou na quarta-feira que vigiava de perto a embarcação, e, no dia seguinte, mencionou "contatos diplomáticos" com países, sem revelar quais, mas afirmou que tinha uma capacidade de intervenção limitada, já que o o Yi Peng 3 está posicionado em águas internacionais e, por isso, fora da jurisdição dos Estados, que não podem adotar medidas coercitivas contra ele.
"A Dinamarca não é proprietária dos cabos danificados e o navio está atualmente em águas internacionais", indicou o Ministério dinamarquês de Relações Exteriores à AFP.
Na quarta-feira, a diplomacia chinesa rechaçou as suspeitas contra seu navio e ressaltou que sempre cumpriu com "suas obrigações" e "exigiu que os barcos chineses respeitassem escrupulosamente as leis e normas em vigor", segundo Lin Jian, porta-voz do Ministério das Relações Exteriores chinês.
Atualmente, há duas investigações judiciais em curso, incluindo uma da polícia sueca por "sabotagem" dos cabos. A Marinha sueca, que ajuda a polícia em sua investigação, já conseguiu inspecionar o primeiro cabo teuto-finlandês, que se encontra entre 30 e 40 metros de profundidade. Na quarta-feira, começou a inspeção do cabo sueco-lituano.
"Estamos no local com uma câmera submarina para ver o que pode ter acontecido ", explicou Jimmie Adamsson, porta-voz da Marinha sueca, à AFP.
A Finlândia também abriu uma investigação por "danos criminosos agravados" e "interferências agravadas nas comunicações" pelos danos sofridos no cabo que liga seu território à Alemanha.
Também enviou um barco da guarda-costeira com investigadores a bordo para a região para verificar o cabo em questão nesta sexta-feira.
Embora ainda não esteja claro o que causou os danos, o ministro da Defesa da Alemanha, Boris Pistorius, afirmou na terça-feira que ambos os casos precisam ser investigados como um ato de sabotagem, apontando a Rússia como uma ameaça à União Europeia (UE).
Em declaração à imprensa local antes de uma reunião de ministros da UE em Bruxelas, Pistorius reforçou que as duas ocorrências são “um sinal muito claro de que algo está acontecendo por lá”.
"Ninguém acredita que os cabos foram danificados acidentalmente. Devemos presumir, mesmo sem informações definitivas, que os danos foram causados por sabotagem ", disse.
As declarações de Pistorius fazem referência a incidentes semelhantes ocorridos no Mar Báltico desde a invasão em larga escala da Ucrânia pela Rússia, em 2022.
Há pouco mais de um ano, a âncora de um navio cortou dois cabos de dados e um gasoduto no fundo do Golfo da Finlândia. A Rússia negou envolvimento nos casos, e mais tarde um relatório chinês apontou que a ruptura do gasoduto Balticconnector por um navio com bandeira de Hong Kong foi causada por “condições de tempestade”. Um alto funcionário da Estônia, no entanto, questionou essa conclusão.
As quatro nações europeias envolvidas são membros da Otan, a aliança militar do Ocidente. Os casos ocorreram enquanto dois dos países afetados, a Suécia e a Finlândia, atualizavam suas orientações para cidadãos sobre como sobreviver em situações de guerra.
Na segunda-feira, a Suécia começou a enviar panfletos pedindo que a população se prepare para a possibilidade de uma guerra, e a Finlândia lançou um manual com conselhos sobre o que fazer em caso de conflito. Ambos os países são geograficamente próximos à Rússia.
O Comando Marítimo da Otan (Marcom, na sigla em inglês), afirmou que as ameaças às infraestruturas submarinas aumentaram, e que “esses ataques mostram o quão vulnerável essa infraestrutura pode ser”, publicou o jornal britânico The Guardian.
O órgão declarou, ainda, que a Otan tem intensificado suas patrulhas perto dos sistemas submarinos. No início do ano, o Marcom alertou que a segurança de quase 1 bilhão de pessoas na Europa e na América do Norte estava ameaçada por tentativas russas de explorar vulnerabilidades em estruturas submarinas, incluindo parques eólicos, que eles afirmaram possuir “fragilidades sistêmicas”.