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Beber água durante as refeições faz mal? Veja o que acontece se ingerir líquidos no almoço ou jantar

A ingestão de líquido durante o almoço ou jantar é fundamental para melhorar a função digestiva

Beber águaBeber água - Foto: Paullo Allmeida/Folha de Pernambuco

A relação entre beber água ou ingestão de líquidos durante uma refeição e a saúde digestiva tem sido motivo de controvérsia, levando muitos a questionar seu impacto. Existem diversas teorias sobre o assunto. Alguns recomendam evitar beber até alguns minutos depois de comer, argumentando que isso pode interferir na digestão. Outros sugerem tomar pequenos goles entre as mordidas, afirmando que isso pode acelerar o metabolismo. O que dizem os especialistas a respeito? Existe algum conselho que seja mais apropriado que outro?

Segundo a Mayo Clinic, uma entidade dedicada à pesquisa e divulgação de conteúdo científico e médico, não há consenso preciso indicando que o consumo de bebidas, especialmente água, piora a secreção de sucos gástricos e a função digestiva. Na verdade, eles incentivam a beber água durante e após uma refeição, dizendo que é vital para a saúde.

"Assim como outras bebidas, este líquido ajuda a decompor os alimentos para que o corpo absorva os nutrientes com mais facilidade. Além disso, colabora na prevenção da constipação" explicam os especialistas.

Analía Yamaguchi, médica clínica especialista em Nutrição do Hospital Italiano, afirma que sempre existiram mitos sobre não poder tomar água duas horas antes e duas horas depois de comer. No entanto, continua a especialista, “não há nenhuma evidência científica que comprove isso”.

Além disso, ela destaca que o consumo de água alivia a constipação abdominal e mantém a pessoa hidratada.

"De fato, é muito bom tomar água enquanto se come, porque ajuda a lubrificar o bolo alimentar, favorece a digestão e melhora os sucos gástricos" acrescenta.

Quais são os benefícios de beber água durante as refeições?
A digestão envolve um processo longo e meticuloso que pode durar entre 24 e 72 horas. Curiosamente, começa na boca, desde a primeira mordida e a mastigação. Nesta etapa inicial, ocorre uma transformação química dos alimentos com a ajuda das enzimas presentes na saliva.

"Depois, a comida desce pelo esôfago até o estômago, onde os sucos gástricos terminam de decompô-la" explica Fábio Nachman, chefe do Serviço de Gastroenterologia, do Hospital Universitário Fundação Favaloro, na Argentina.

Em seguida, passa para o intestino delgado, onde se mistura com os ácidos biliares e outras enzimas que ajudam o corpo a absorver cerca de 75% dos nutrientes presentes nos alimentos. Assim, o que não é processado é transferido para o intestino grosso e eliminado.

Nesse processo, segundo Nachman, a água é um dos principais atores.

"Colabora como transporte para que o alimento flua melhor através do trato digestivo e, uma vez no intestino, facilita sua dissolução. Às vezes, quando a secreção gástrica não é suficiente, a água passa a ser o componente essencial a ocupar esse papel. O que ocorre é que a água ajuda a decompor os alimentos para que o corpo possa absorver com sucesso os nutrientes" conclui o especialista.

Dessa forma, a explicação derruba os mitos que não apoiam o consumo desse líquido durante a refeição.

"Não está comprovado que a bebida dilua os sucos gástricos ou interfira na digestão. Pelo contrário, na medida certa, colabora e facilita o processo. Quem tem fibra, por exemplo, obrigatoriamente deve andar de mãos dadas com a hidratação" diz Nachman.

Além disso, existem alimentos específicos que inevitavelmente precisam entrar em contato direto com a água para que seus nutrientes sejam assimilados. Farelo de aveia, cevada, sementes, nozes, lentilhas, frutas cítricas e cenoura são alguns dos que possuem fibra solúvel. Isso significa que “eles atraem água e se transformam em gel durante a digestão”, de acordo com um relatório do MedlinePlus.

Outro benefício de tomar água entre as mordidas é que isso ajuda a comer mais devagar, o que permite que a pessoa perceba as sinalizações do corpo, evitando comer em excesso.

Um estudo publicado pela Biblioteca Nacional de Medicina dos Estados Unidos descobriu que consumir água antes de uma refeição reduzia a porção ingerida. A pesquisa foi realizada com um grupo de 15 voluntários (oito mulheres e sete homens), entre 23 e 26 anos, que foram testados em um laboratório durante três dias.

Em um dos dias, foi solicitado que comessem após ingerir 300 mililitros de água; em outro, apenas comeram; na última etapa, beberam 300 mililitros de água após a refeição. Os pesquisadores concluíram que o consumo de água antes das refeições levou a uma redução significativa na ingestão de energia, “o que pode ser uma estratégia eficaz para o controle de peso, embora o mecanismo de ação seja desconhecido”.

Questionados sobre a quantidade ideal de consumo de água durante uma refeição, os especialistas concordam que é relativo a cada pessoa. Em termos gerais, aconselham que um adulto saudável deve consumir entre 1,5 e 2 litros de água por dia e, durante o almoço ou jantar, o que for necessário.

De acordo com a médica Yamaguchi, em caso de alguma patologia, como febre, “o ideal é aumentar o consumo de água”. Os atletas também devem duplicar sua ingestão para compensar o que perderam através do suor. A especialista também destaca que “não se deve esperar sentir sede para beber água: quando você chega a esse ponto, já está desidratado”.

Com esses dados, Yamaguchi enfatiza que também não se deve exagerar no consumo de água para "encher" o estômago, com o objetivo de perder peso, e chegar com menos fome ao almoço ou jantar.

"Há pessoas que ficam hiperidratadas para terem menos apetite e isso é prejudicial, pois comendo menos acabam por não incorporar todos os nutrientes que o corpo necessita e que só são obtidos através da alimentação" explica a médica.

No entanto, muitas pessoas preferem consumir refrigerantes ou diferentes tipos de bebidas açucaradas em vez de água mineral.

"Não é recomendado devido à quantidade de aditivos que possuem e que, a longo prazo, podem gerar diversas condições crônicas, como resistência à insulina" alerta Yamaguchi.

Quando se trata de hábitos alimentares, os mitos populares são abundantes. Alguns deles podem ser prejudiciais e, sem querer, causar efeitos colaterais. Para manter o equilíbrio e o bom funcionamento do organismo, é importante não cair em extremos, ouvir o corpo e fornecer o que ele realmente necessita.

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