Belarus cassa credenciais, expulsa jornalistas estrangeiros e prende opositores
As medidas tentam intimidar manifestantes que, desde a eleição presidencial do dia 9 de agosto, protestam contra o ditador Aleksandr Lukachenko
O governo da Belarus cancelou a credencial de dezenas de jornalistas de veículos internacionais, deportou estrangeiros e vai processar repórteres bielorrussos por atuar em "ações não autorizadas". Também bloqueou mais de 70 sites informativos e prendeu opositores neste sábado (29).
As medidas tentam intimidar manifestantes que, desde a eleição presidencial do dia 9 de agosto, protestam contra o ditador Aleksandr Lukachenko e pedem novo pleito. A ditadura chegou a prender cerca de 7.000 pessoas nos primeiros três dias de manifestações, deixando ao menos 4 mortos e centenas de feridos.
Há mais de 600 queixas de tortura e espancamento, 450 delas documentadas por entidades de direitos humanos.
Depois de um período de recuo, as tropas de Lukachenko voltaram a prender manifestantes na segunda (24), um dia depois do maior protesto já realizado no país, com quase 200 mil pessoas em Minsk, segundo cálculo do Tut.by baseado em fotos aéreas.
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Novos atos estão marcados para este final de semana, apesar de ameaças de novas prisões feitas pelo Ministério do Interior (responsável pelo policiamento). "Caros residentes do nosso país! Passe o último fim de semana de verão com sua família e entes queridos. Não tome parte em ações ilegais de rua e, mais importante, não envolva seus filhos em tais eventos", declarou o ministério em comunicado.
Na Belarus, manifestações só são permitidas com a autorização do governo, e todos os protestos contra Lukachenko são considerados ilegais. Atos a favor do presidente também têm acontecido, com relatos de apoio estatal e, em alguns casos, de coação para que funcionários públicos participem. Entre os veículos que tiveram credenciais cassadas e jornalistas expulsos estão as emissoras de TV alemã ARD e britânica BBC, as agências de notícias Reuters, Associated Press, RFI, Deutsche Welle e AFP e a rádio Svaboda.
Segundo o site noticioso Tut.by, até as 13h de sábado (horário local, 7h no horário de Brasília), 19 jornalistas estrangeiros haviam sido descredenciados pelo Ministério das Relações Internacionais. O ministério não deu declarações.
Ilya Kunzetsov, um dos repórteres da ARD que teve a autorização de trabalho cassada e os equipamentos apreendidos, disse que o argumento para o descredenciamento foi "garantir a segurança da informação do país".Segundo ele, seus dois colegas russos expulsos da Belarus foram proibidos de voltar ao país por cinco anos.
Na sexta, a Belarus já havia deportado o premiado fotojornalista sueco Paul Hanson, também banido por cinco anos. Hanson, vencedor do World Press Photo, foi um dos 50 repórteres detidos na noite de quinta em Minsk "para averiguação".
Jornalistas foram presos também em cidades menores do país. A Associação de Jornalistas da Belarus foi à Justiça alegando obstrução à atividade profissional legal do jornalista, mas nenhuma investigação foi aberta até este sábado.
Além de jornalistas, veículos de informação também sofreram restrições por parte da ditadura de Lukachenko. Jornais impressos, como Komsomolskaya Pravda, Narodnaya Volya, Belgazeta e Svobodnye Novosti Plus, não conseguem imprimir e circular, e mais de 70 sites foram bloqueados.
Para fugir da censura, vários veículos abriram canais em redes sociais, como o Telegram, e bielorrussos têm recorrido a VPNs (rede de conexão privada) para driblar os bloqueios oficiais. "Lukachenko pode cassar credenciais, mas não vai impedir a informação de circular, porque agora cada pessoa na Belarus virou um veículo jornalístico", disse à Folha de S.Paulo Yulyia, por mensagem de aplicativo (o nome completo foi omitido a pedido dela).
Entre as novas prisões feitas pelo governo estão a do empresário Aleksander Vasilevich, dono de uma agência de publicidade e de uma galeria de arte. Ele já havia sido detido antes por 14 dias, por fazer petição pela libertação de Viktor Babariko, candidato de oposição mais popular até ser preso por Lukachenko.
Outro membro da campanha de Babariko, Vitaly Krivko, foi detido, e um terceiro, Dmitry Kornievich, está desaparecido.
Outro adversário do ditador, o político da oposição Nikolai Statkevich, teve sua detenção prorrogada por mais dois meses.
Ele é acusado de "manifestação ilegal" por ter recolhido assinaturas para o candidato Siarhei Tikhanovski e por "expressar publicamente seu descontentamento e adotar atitude negativa em relação ao governo atual".