Biden chega à Arábia Saudita em busca de petróleo
Viagem de Biden à Arábia Saudita pode influenciar as relações entre sauditas e Israel
O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, aterrissou nesta sexta-feira (15) na Arábia Saudita, em uma viagem que também pode impulsionar as relações entre sauditas e Israel.
Um veículo da imprensa local mostrou imagens do encontro entre Biden e o líder "de fato" do país, o príncipe herdeiro saudita, Mohamed bin Salman, encostando os punhos em uma saudação, na entrada do palácio real.
Mohamed bin Salman é considerado por Washington o instigador do assassinato do jornalista Jamal Khashoggi.
Biden afirmou que pôs o assassinato em 2018 de Khashoggi "no topo da reunião" com o príncipe-herdeiro.
"O que ocorreu com Khashoggi foi escandaloso (...) Deixei claro que se voltar a ocorrer algo assim haverá uma resposta e muito mais", disse Biden após a reunião com o príncipe-herdeiro saudita, a quem a Inteligência americana considera o instigador da morte do jornalista.
A reunião entre Biden e Bin Salman é o ponto culminante da viagem do presidente americano pelo Oriente Médio, pela qual Washington tenta convencer o reino saudita a aumentar sua produção de petróleo e, assim, baixar o preço da gasolina antes das eleições de meio de mandato nos Estados Unidos, em novembro.
Quando era candidato, Biden prometeu manter o "status" de "pária" da Arábia Saudita, em decorrência do assassinato de Khashoggi. Depois de eleito, "desclassificou" um relatório que relatava o envolvimento do príncipe herdeiro saudita Mohamed bin Salman na trama para matar o jornalista - algo que Riade sempre negou.
"Sangue em suas mãos"
Imaginando o que o jornalista teria tuitado se estivesse vivo, Hatice Cengiz, sua noiva, escreveu a Biden: "É esta a forma de prestar contas que você prometeu pelo meu assassinato?".
"Você carrega em suas mãos o sangue da próxima vítima de MBS", a sigla pela qual é conhecido o príncipe Mohammed bin Salman, ela escreveu, junto a uma foto do choque de punhos que os líderes protagonizaram antes da reunião.
A visita de Joe Biden foi especialmente criticada por organizações de direitos humanos, que acusam a monarquia saudita de graves violações e dura repressão à oposição.
Pouco antes da viagem até essa monarquia do Golfo, Israel disse não ter "qualquer objeção" à transferência de duas ilhotas estratégicas para a Arábia Saudita e esta anunciou a abertura de seu espaço aéreo para "todas as companhias aéreas", incluindo israelenses.
Mais tarde, a Casa Branca confirmou à imprensa que uma força de paz multinacional - incluindo tropas americanas -, que está há 40 anos na ilha de Tiran, deixará o local "até o final do ano".
Segundo analistas, as duas iniciativas podem abrir caminho para uma possível aproximação de Arábia Saudita e Israel. Em 2020, o Estado judaico regularizou seus vínculos com dois países aliados do reino saudita: Emirados Árabes Unidos e Bharein.
Biden tornou-se, de fato, o primeiro líder americano a viajar diretamente de Israel para um país árabe que não reconhece oficialmente o Estado judaico.
"É um primeiro passo oficial para a normalização com a Arábia Saudita", explicou o primeiro-ministro israelense, Yair Lapid.
Na sequência, Biden se reuniu com o rei da Arábia Saudita, Salman bin Abdulaziz, e teve uma "sessão de trabalho" com o príncipe Bin Salman. Funcionários de alto escalão de ambos os governos participaram da reunião.
O avião presidencial americano pousou na cidade costeira de Jidá (oeste), procedente de Israel, o que faz de Biden o primeiro líder americano a viajar diretamente de Israel para um país árabe que não reconhece oficialmente este último.
Seu predecessor imediato, o republicano Donald Trump, fez esta viagem em 2017, mas em sentido inverso.
Pouco antes de seu deslocamento para essa monarquia do Golfo, Israel disse não ter "qualquer objeção" à transferência de duas ilhotas estratégicas para a Arábia Saudita e esta anunciou a abertura de seu espaço aéreo para "todas as companhias aéreas", incluindo israelenses.
Biden classificou a "histórica" decisão de Riade e de Israel como um "passo importante".
Segundo analistas, as duas iniciativas podem abrir caminho para uma possível aproximação de Arábia Saudita e Israel. Em 2020, este último regularizou seus vínculos com dois países aliados do reino saudita: Emirados Árabes Unidos e Bharein.
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Ajuda para os palestinos
Antes de viajar à tarde para a cidade saudita de Jidá, Biden visitou o Hospital Augusta Victoria de Jerusalém Oriental, na região palestina da Cidade Sagrada ocupada por Israel. Lá, anunciou uma ajuda de US$ 100 milhões à rede hospitalar local.
Depois, reuniu-se com o líder da Autoridade, na Cisjordânia Ocupada. No local, era esperado por manifestantes que protestavam para pedir "justiça" pela morte da jornalista palestino-americana Shireen Abu Aklen em maio passado, quando cobria uma operação militar israelense nesta área.
Em entrevista coletiva, Biden disse que "os Estados Unidos continuarão insistindo em uma completa e transparente prestação de contas de sua morte", elogiando o trabalho da repórter da emissora Al-Jazeera, do Catar.
Biden anunciou um projeto de implementação de Internet 4G na Faixa de Gaza e na Cisjordânia para o final de 2023, uma aspiração de muitos palestinos que já constataram o uso da rede 5G em Israel. Também prometeu uma contribuição adicional de US$ 200 milhões para a Agência das Nações Unidas para os Refugiados da Palestina no Oriente Próximo (UNRWA, na sigla em inglês).
"Precisamos de um horizonte político que o povo palestino possa realmente ver, ou pelo menos sentir. Não podemos permitir que o desespero nos roube o futuro", acrescentou Biden na coletiva de imprensa ao lado de Abbas em Belém, Cisjordânia, território palestino ocupado desde 1967.
Embora tenha reiterado que não existem condições para retomar o processo de paz israelense-palestino, paralisado desde 2014, o presidente americano sugeriu que esse impasse não pode continuar.
"Nunca abandonaremos o trabalho pela paz", ressaltou Biden.
Já Abbas insistiu em medidas políticas, e não econômicas, para acabar, segundo ele, com o "Apartheid" israelense nos territórios palestinos ocupados.
O presidente dos EUA reafirmou o apoio de Washington a "uma solução de dois Estados para dois povos" que "têm raízes profundas e antigas" naquela terra.
Na quinta-feira, porém, já havia deixado claro que não pretende reverter o polêmico reconhecimento de Jerusalém como capital de Israel. Adotada por seu antecessor Donald Trump, a medida causou muita indignação entre os palestinos, que veem Jerusalém Oriental como a sede de seu futuro Estado.
O primeiro-ministro israelense, Yair Lapid, diz que apoia uma solução de dois Estados, mas não se espera nenhum progresso em direção a um acordo de paz antes das eleições de novembro.
Os temas que dominaram a reunião Biden-Lapid foram o programa nuclear iraniano e seu apoio a grupos islamistas, como o Hamas, que governa a Faixa de Gaza.
Biden e Lapid assinaram um novo pacto de segurança, no qual Washington se comprometeu a utilizar todo seu "poderio nacional" para garantir que o Irã nunca terá armas nucleares.