Biden convoca mundo a "agir" e assume maior compromisso contra o aquecimento global
Além disso, o presidente americano afirmou que Washington dobrará sua ajuda relacionada ao clima para os países em desenvolvimento até 2024
O presidente Joe Biden convocou nesta quinta-feira (22) o mundo a "agir" para frear o aquecimento global, assumindo um compromisso pelos Estados Unidos de reduzir as emissões contaminantes, uma postura aplaudida pela comunidade internacional após a negação do governo Trump.
"O custo da inação continua subindo. Os Estados Unidos não vão esperar", disse Biden na cúpula que reúne cerca de 40 líderes por videoconferência nesta quinta e sexta-feira, incluindo os rivais China e Rússia.
"Temos que agir, todos nós", insistiu.
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Biden, que fez os EUA retornarem ao Acordo de Paris após a retirada orquestrada por Donald Trump, um cético da mudança climática, anunciou que a maior economia do mundo reduzirá as emissões de gases de efeito estufa em 50-52% até 2030 em comparação aos níveis de 2005.
Além disso, o presidente americano afirmou que Washington dobrará sua ajuda relacionada ao clima para os países em desenvolvimento até 2024, em relação aos níveis registrados dez anos antes.
Antes de completar 100 dias no cargo, Biden convocou cerca de 40 líderes mundiais para uma reunião por videoconferência de dois dias para preparar o terreno para a conferência do clima da ONU em Glasgow em novembro, que buscará aprimorar o Acordo de Paris.
O pacto de 2015 visa limitar o aquecimento global a 2 graus Celsius acima dos níveis pré-industriais e, se possível, a + 1,5 °C, o nível que os cientistas consideram necessário para evitar os efeitos mais severos das mudanças climáticas.
Até agora, mais da metade da economia global se comprometeu a respeitar a meta, disse John Kerry, enviado para o clima de Biden.
O Japão, a terceira maior economia do mundo, anunciou nesta quinta que pretende reduzir as emissões de CO2 em 46% até 2030, significativamente mais do que o prometido anteriormente.
E o Canadá anunciou uma redução em suas emissões entre 40% e 45% até 2030 em relação a 2005, em vez de 30% anteriormente.
"Mudança nas regras do jogo"
A União Europeia garantiu esta semana que vai cortar as emissões "em pelo menos 55%" até 2030 em comparação com 1990, depois que o Reino Unido prometeu uma meta ambiciosa de reduzir suas emissões em 78% até 2035 em relação aos níveis de 1990.
O primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, que sediará a COP26 em Glasgow, saudou o compromisso de Biden como um "divisor de águas".
"Estou muito feliz em ver que os Estados Unidos estão de volta", comemorou a chanceler alemã, Angela Merkel.
O presidente Jair Bolsonaro anunciou, por sua vez, que o Brasil terá como objetivo a neutralidade de carbono até 2050, uma década antes do previsto anteriormente.
"Determinei que nossa neutralidade climática seja alcançada até 2050, antecipando em dez anos a sinalização anterior", disse Bolsonaro, comprometendo-se ainda a "eliminar o desmatamento ilegal no Brasil até 2030".
O desmatamento da Amazônia, porém, cresceu drasticamente desde que Bolsonaro assumiu o poder em janeiro de 2019, o que provocou ceticismo do mundo em relação a suas ambiciosas promessas.
O presidente mexicano, Andrés Manuel López Obrador, aproveitou a cúpula para dizer a Biden que o fenômeno migratório "não se resolve com medidas coercitivas, mas com justiça e bem-estar", e propôs o financiamento de um plano de reflorestamento no México e na América Central que poderia gerar 1,2 milhão de empregos.
Os Estados Unidos registram um fluxo crescente de imigrantes na fronteira sul, a maioria deles centro-americanos fugindo da pobreza e de desastres naturais.
Greta e manifestações
Para o secretário-geral da ONU, Antonio Guterres, as promessas são uma virada para o meio ambiente, mas "ainda há um longo caminho a percorrer".
Sob o pacto de Paris, os Estados Unidos se comprometeram a reduzir as emissões em 26-28% até 2025, uma meta que Biden pretende praticamente dobrar.
Mas Greta Thunberg, a icônica ativista sueca de 18 anos, atacou os políticos em uma audiência por vídeo no Congresso dos Estados Unidos, na qual ela exigia que parassem de subsidiar os combustíveis fósseis.
“Por quanto tempo vocês acham que podem continuar ignorando a crise climática, o aspecto global do patrimônio e das emissões históricas sem serem responsabilizados?”, questionou a jovem ativista enquanto acontecia a cúpula do clima.
Em uma demonstração mais forte de descontentamento, aos gritos de "o tempo está se esgotando", ambientalistas colocaram carrinhos de mão rosas cheios de esterco perto da Casa Branca para ilustrar suas opiniões sobre o plano de Biden para enfrentar a crise climática.
De Macron... a Putin
O compromisso de Biden aumenta a pressão sobre a China, a segunda maior economia do mundo e maior emissora de carbono, muito à frente dos Estados Unidos.
Pondo de lado suas divergências sobre comércio, direitos humanos e outras questões, Pequim e Washington se comprometeram no sábado a "cooperar" no âmbito do clima, após uma visita a Xangai do emissário americano John Kerry, que considerou "suicida" qualquer falta de colaboração.
O presidente chinês, Xi Jinping, reiterou nesta quinta-feira sua promessa do ano passado de atingir a neutralidade de carbono até 2060.
A China "seguirá um caminho verde de baixo carbono para o desenvolvimento" nas próximas décadas e "espera trabalhar com a comunidade internacional, incluindo os Estados Unidos", disse.
Xi prometeu que seu país reduziria o uso do carvão, a forma de energia mais poluente, embora seja uma questão politicamente delicada em razão dos empregos que a mineração proporciona.
A Índia, terceiro maior emissor de CO2, embora muito menor do que os países ocidentais em termos per capita, também não estabeleceu novas metas, mas prometeu uma nova "parceria" com Biden para impulsionar o investimento verde.
Em uma breve falha técnica na cúpula, o chefe da diplomacia dos EUA, Antony Blinken, cortou um vídeo pré-gravado do presidente francês Emmanuel Macron para ouvir o presidente russo Vladimir Putin, que parecia impaciente para falar.
Putin, que mantém uma relação especialmente tensa com Biden, afirmou que a Rússia está cumprindo suas obrigações de combater as mudanças climáticas.
Em seguida, o discurso de Macron foi repetido na íntegra.
Seis meses "cruciais"
Biden, para quem a mudança climática é uma "ameaça existencial", mas também uma "oportunidade", busca que o Congresso aprove um pacote de infraestrutura de US$ 2 trilhões que inclui uma grande transição para uma economia verde, que criará milhões de empregos.
Resta saber se Biden terá sucesso em assegurar o compromisso de Washington, dada a relutância do Partido Republicano de Trump em ações climáticas.
Kerry está convencido de que sim, graças ao "poder do setor privado", que se voltou para um novo mercado verde.
"Nenhum político, por mais demagógico, hábil ou poderoso que seja, será capaz de mudar o que o mercado está fazendo", afirmou Kerry em coletiva de imprensa.
A organização ambiental WWF aplaudiu a cúpula e os anúncios que "dão um novo fôlego à luta contra o aquecimento global".
Um estudo da ONU no final do ano passado concluiu que o planeta caminha para um aquecimento de + 3ºC, o que poderia ser catastrófico.
"Os próximos seis meses serão cruciais", afirmou Kerry. "Acredito que Glasgow é nossa última esperança para que o mundo se una e se mova na mesma direção".