Biden diz que não pode garantir resultado final da evacuação em Cabul
Presidente confirmou que não sabe exatamente quantos americanos precisam de resgate no Afeganistão, e nem o paradeiro de muitos cidadãos
O presidente dos EUA, Joe Biden disse nesta sexta (20) que a retirada das tropas do Afeganistão é uma das missões mais difíceis já realizadas pelos militares americanos, o que dificulta prever o que acontecerá agora.
"Tivemos progressos nos últimos dias.Conseguimos assegurar o controle do aeroporto e evacuar mais de 13 mil pessoas. Todos os americanos que quiserem voltar, poderão votar", assegurou. "Não posso garantir como será o final da operação, mas irei mobilizar todos os recursos necessários."
Leia também
• Avião militar que decolou superlotado tinha 823 passageiros
• Medo de vingança dos talibãs aumenta no Afeganistão
• Talibãs matam parente de jornalista de canal alemão no Afeganistão
Biden confirmou que não sabe exatamente quantos americanos precisam de resgate no Afeganistão, e nem o paradeiro de muitos cidadãos, mas que seu governo trabalha para obter essas informações. Também prometeu ajudar a evacuar aliados e afegãos que ajudaram os EUA durante sua operação militar.
Disse também que os EUA fizeram um acordo com o Talibã para que americanos possam passar pelas barreiras montadas por eles nos acessos ao aeroporto e chegarem até o terminal. Apesar disso, há relatos de dificuldades nessa travessia.
Nesta sexta, a decolagem de aviões de Cabul foi suspensa por várias horas, por falta de destinos disponíveis para enviar as pessoas resgatadas, de acordo com a CNN americana.
O democrata disse também que conversou com os líderes de Reino Unido, França e Alemanha e que uma reunião do G7 será feita na próxima semana para definir uma abordagem conjunta sobre o Afeganistão.
Biden discursou na Casa Branca, no começo da tarde de sexta (20), ao lado da vice, Kamala Harris, e de Antony Blinken, secretário de Estado. Ele respondeu à algumas perguntas de jornalistas e insistiu que manteve a decisão da retirada para preservar vidas americanas e que não faria diferença permanecer mais tempo lá.
Embora a saída do Afeganistão tenha apoio popular e bipartídário nos EUA, a forma como ela foi feita gerou muitas críticas a Biden e a seu governo. O presidente é atacado por não ter planejado a retirada de forma a evitar as cenas de desespero e confusão das últimas semanas e tenta explicar porque seu governo não conseguiu evitar a situação atual.
Segundo o jornal Wall Street Journal, um grupo de funcionários da embaixada americana em Cabul enviou um alerta, em julho, de que o Talibã conseguiria dominar a capital logo após a saída das forças estrangeiras.
Em 2020, o governo de Donald Trump fez um acordo com o Talibã, que prometia agir de modo civilizado em troca da saída americana. O acerto foi mantido por Biden, mas o grupo derrubou o governo do presidente Ashraf Ghani antes da retirada dos EUA ser concluída.
Em um discurso na segunda (16), o presidente admitiu que seu governo fez previsões erradas, mas culpou os militares e políticos afegãos pela situação. "Tropas americanas não devem lutar e morrer numa guerra que os afegãos não querem lutar", afirmou.
Na quarta (18), Biden deu uma entrevista para a TV ABC que todos os americanos serão resgatados do país, mesmo que isso signifique estender por mais alguns dias ou semanas a presença militar no Afeganistão.
A semana foi marcada pelas cenas de desespero das pessoas que tentam deixar o Afeganistão. Uma multidão se aglomera do lado de fora do aeroporto de Cabul, onde os militares americanos estão instalados e de onde partem voos para o exterior, em busca de ajuda. A confusão no local já deixou ao menos 12 mortos.
Na segunda, afegãos invadiram a pista e tentaram se agarrar a aviões prestes a decolar. Alguns conseguiram, mas depois despencaram do alto e morreram. Na quinta (19), imagens mostraram afegãos tentando entregar bebês e crianças para militares americanos, na esperança de que eles possam ter um futuro melhor.
Após tomar o poder, no último fim de semana, o Talibã prometeu moderação, mas tem dado sinais que de que fará o contrário. Houve repressão dura a protestos e a criação de barreiras nos acessos ao aeroporto, o que dificulta a chegada ao terminal de afegãos que tentam fugir.
O Talibã voltou ao comando do Afeganistão quase 20 anos após ter sido derrubado pelos Estados Unidos, que invadiram o país em 2001 para caçar os terroristas responsáveis pelos ataques de 11 de setembro. Na época, o grupo foi derrubado rapidamente, mas a ocupação do país durou duas décadas. Os EUA tentaram estabelecer um regime democrático no país e criar um Exército nacional forte, mas falharam nas duas coisas.