Diplomacia

Biden e Macron trocam elogios após crise dos submarinos, mas francês ainda espera 'prova de amor'

"O que realmente importa agora é o que faremos juntos nas próximas semanas e nos próximos meses", disse o francês durante um discurso em sua embaixada no Vaticano

Biden e MacronBiden e Macron - Foto: Ludovic Marin / AFP

O encontro entre os presidentes dos Estados Unidos, Joe Biden, e da França, Emmanuel Macron, nesta sexta-feira (29), pôs fim –de acordo com os dois líderes– à crise diplomática desencadeada pelo acordo americano com Reino Unido e Austrália para a construção de submarinos nucleares.

Batizado de Aukus, o pacto de segurança irritou os franceses porque significou o cancelamento de um contrato bilionário assinado em 2016 com os australianos. Agora, segundo Macron, é hora de olhar para o futuro.

"O que realmente importa agora é o que faremos juntos nas próximas semanas e nos próximos meses", disse o francês durante um discurso em sua embaixada no Vaticano, após o encontro com Biden.

Mais cedo, o americano havia se reunido com o papa Francisco. Biden acabou se atrasando por uma hora e meia para a reunião com Macron, mas após a conversa, em que trataram de mudanças climáticas, ações de combate ao terrorismo na África e defesa da Europa, os dois líderes posaram para as câmeras dando um aperto de mão.

Macron disse que o encontro com o democrata foi importante para marcar o início de um "verdadeiro projeto conjunto" com os EUA. Desde o impasse diplomático criado pelo Aukus, segundo o líder francês, houve "um esclarecimento indispensável sobre o que constitui a soberania e a defesa europeias e o que elas podem trazer para a segurança global".
 

Questionado, mais tarde, se a confiança em Biden foi completamente restaurada, Macron deu uma resposta que pode indicar que o relacionamento entre as duas lideranças ainda pode conter alguns espinhos. "A confiança é como o amor: declarações são boas, mas provas são melhores".

O líder americano admitiu que as ações dos EUA no episódio poderiam ter sido melhores.

"Acho que o que aconteceu foi, para usar uma frase do inglês, o que fizemos foi desajeitado. Não foi feito com muita elegância", disse o presidente dos EUA. "Tive a impressão de que aconteceram certas coisas que não tinham que ter acontecido. Mas quero deixar claro: a França é um parceiro extremamente, extremamente valioso –extremamente– e um poder por si mesma."

Biden disse que tinha a impressão de que a França já estava ciente de que seu acordo com a Austrália não estava indo bem na ocasião do anúncio americano. À época, ministro das Relações Exteriores francês, Jean-Yves Le Drian, descreveu o Aukus como "uma punhalada nas costas" e disse que Biden agiu como o ex-presidente Donald Trump, de maneira "unilateral, brutal, imprevisível".

Nesta sexta, o líder americano procurou encher Paris de elogios, dizendo que os EUA não têm um aliado mais antigo e mais leal do que a França, e que não há lugar no mundo em que os dois países não possam trabalhar em cooperação.

Utilizando quase as mesmas palavras, o primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, que deve se encontrar com Macron durante o fim de semana, também procurou reforçar os laços com o vizinho europeu.

"A França é um de nossos melhores, mais antigos e mais próximos aliados, amigos e parceiros", disse Boris a jornalistas a caminho da cúpula do G20 na Itália. "Os laços que nos unem são muito mais fortes do que a turbulência que existe atualmente no relacionamento. É o que direi ao Emmanuel [Macron], um amigo que conheço há muitos anos."

Essa foi a primeira vez em que Biden e Macron se encontraram desde o início da crise diplomática. Desde então, os dois presidentes se falaram por telefone ao menos duas ocasiões. Na primeira delas, concordaram que "a situação [no caso Aukus] teria sido beneficiada por consultas abertas entre aliados sobre questões de interesse estratégico para a França" e outros parceiros europeus dos EUA.

Na mesma conversa, combinaram o encontro desta sexta-feira e Macron decidiu que seu embaixador retornaria a Washington na semana seguinte –gesto diplomático que botou panos quentes na relação entre as lideranças. No jargão das relações internacionais, convocar um embaixador, como fez o líder francês à época, é um movimento que expressa forte insatisfação com o país que abriga os diplomatas.

A segunda ligação telefônica ocorreu na semana passada. Segundo comunicado da Casa Branca, "os dois líderes revisaram os esforços contínuos de suas equipes para apoiar a estabilidade e a segurança no Sahel e para aumentar a cooperação no Indo-Pacífico". Também ficou agendada a visita da vice-presidente Kamala Harris a Paris em novembro.

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