Biden e Xi participam da cúpula da Apec em meio à expectativa pela nova era Trump
Em recado indireto ao presidente eleito dos EUA, líder chinês alertou sobre avanço do 'protecionismo' no mundo
O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, participou nesta sexta-feira do primeiro dia da cúpula da Cooperação Econômica Ásia-Pacífico (Apec), em Lima, na véspera do seu provável último encontro com o mandatário chinês, Xi Jinping, às margens do evento.
O encontro ocorre em meio ao temor do retorno de Donald Trump ao poder, que ameaça aumentar tarifas sobre todas as exportações para os Estados Unidos — especialmente sobre produtos proveniente da China e do México, num prenúncio de novas guerras comerciais.
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Na abertura do diálogo informal entre os líderes do bloco, conduzida pela anfitriã, a presidente peruana Dina Boluarte, ela apelou para o fortalecimento da "cooperação multilateral" em um momento de crescente "incerteza", sem citar diretamente a eleição de Trump.
Em seu discurso, Xi também enviou um recado aos líderes sobre o futuro da economia global, alertando para a chegada de uma era de crescente "unilateralismo" e "protecionismo", informou a agência de notícias chinesas Xinhua.
O mandatário destacou que o mundo havia "entrado em um novo período de turbulência e transformação" — sem fazer referência direta a Trump, que no primeiro mandato travou uma guerra comercial com Pequim.
Apesar da tensão na geopolítica, Xi pediu que a produção global e as cadeias de suprimentos permaneçam "estáveis e tranquilas", alertando que qualquer tentativa de reduzir a interdependência econômica global "não passa de um retrocesso".
Se for aplicado, o programa protecionista de Trump representará um duro golpe para as 21 economias do Fórum de Cooperação Ásia-Pacífico (Apec), uma das regiões comerciais mais dinâmicas do mundo, que representa 60% do PIB global.
O encontro prosseguirá até sábado, quando Biden e Xi terão o possível último encontro cara a cara antes de o presidente americano entregar o poder ao magnata republicano, em 20 de janeiro. Ambos os líderes também vão marcar presença na cúpula do G20, na próxima segunda e terça-feira, no Brasil.
Além de Biden, Xi e Boluarte, estão presentes na abertura da reunião anual da Apec o primeiro-ministro do Canadá, Justin Trudeau; o presidente do Chile, Gabriel Boric; e representantes de Austrália, Tailândia, México e Singapura, entre outros.
Na avaliação de Jorge Heine, ex-embaixador do Chile na China entre 2014 e 2017, os anúncios de Trump "colocaram um ponto de interrogação" sobre a aliança Ásia-Pacífico, disse à AFP. Heine não descarta que Trump retire os Estados Unidos da Apec, como fez em 2017, quando saiu do Acordo Transpacífico de Cooperação Econômica (TPP), que visava criar um poderoso bloco.
Segundo dados da Apec, o crescimento do PIB da aliança recuará de 3,5% em 2024 para 3,1% em 2025.
A expectativa fica por conta da reunião entre Biden e Xi, que ocorrerá em meio a tensões devido ao apoio da China à Rússia na guerra contra a Ucrânia.
— É bom que conversem e vejam se conseguem, pelo menos, diminuir a intensidade das tensões entre China e Estados Unidos — comentou Heine, professor de Relações Internacionais da Universidade de Boston.
Para os outros membros, o encontro em Lima pode ser uma oportunidade para delinear caminhos diante do retorno de Trump, que se avizinha tenso, também devido à nomeação de "falcões" como o senador Marco Rubio para o cargo de secretário de Estado. Rubio defende uma política linha-dura contra Pequim.
— Estamos vivendo tempos difíceis na relação China-Estados Unidos — destaca Heine.
A cúpula da Apec já foi palco de um primeiro confronto entre Washington e Pequim, após a inauguração, na quinta-feira, do megaporto de Chancay, o primeiro da China na América do Sul. A obra, na qual Pequim investirá um total de 3,5 bilhões de dólares (R$ 20,2 bilhões), reduzirá em 10 dias o transporte marítimo entre China e Peru, segundo Xi, que a definiu como o "primeiro porto inteligente e verde da América do Sul".
Enquanto o presidente chinês inaugurava o porto, o enviado especial da Casa Branca para a América Latina, Brian Nichols, fez um apelo aos países latino-americanos para garantir que o investimento do gigante asiático respeite "as leis locais" e proteja "os direitos humanos e o meio ambiente".
Os Estados Unidos enfrentam uma crescente competição econômica da China na América Latina, onde exerceram uma influência hegemônica por dois séculos. Washington costuma criticar a dívida contraída pelos países ao redor do mundo em projetos concedidos à China.
A cúpula da Apec ocorre em meio a protestos de dezenas de transportadores e comerciantes, que tentam aproveitar o evento para denunciar a ineficácia das autoridades no combate à extorsão. As manifestações tentaram, em vão, chegar ao centro de convenções que abriga as reuniões, protegido por grande parte do contingente de 13 mil policiais designados para a vigilância do evento.