Bienal de Veneza chega à 60ª edição e discute humanidade e fragilidade do planeta
O evento ocorrerá até novembro
A 60ª Bienal Internacional de Arte de Veneza, que abriu suas portas no sábado e vai até novembro na famosa cidade italiana, explora a relação da humanidade com a fragilidade do planeta por meio das geleiras da Groenlândia ou do desmatamento da Amazônia.
Sem escrúpulos
Na entrada do pavilhão brasileiro, os visitantes descobrem um imponente monte de terra: em suas laterais, raízes e tubérculos de mandioca. E aos seus pés, fluxos de sementes que evocam a vida em diferentes formas - veias humanas, seiva de árvores e rios brasileiros vistos do céu.
No topo do monte, um antigo aparelho de televisão mostra uma mulher falando ao espectador sobre os estragos do desmatamento:
"Vocês não aprenderam com seus erros e a floresta continua a ser derrubada a serviço de homens inescrupulosos".
Por meio dessa instalação, a artista e ativista indígena Olinda Tupinambá quis questionar "o equilíbrio entre os seres humanos" e sua relação com o planeta para "refletir sobre o problema ambiental de forma global", disse ela à AFP.
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Tapando as rachaduras
O trabalho da artista japonesa Yuko Mohri concentra-se nas tentativas de "bricolagem" para limitar os vazamentos de água nas estações de metrô de Tóquio causados pelas enchentes e terremotos que atingiram a megalópole.
Em um tributo à engenhosidade humana, Mohri utiliza objetos usados para coletar água, como garrafas plásticas, baldes e canos.
Fios com eletrodos, conectados a frutas em decomposição, controlam um mecanismo de som que se ajusta de acordo com o grau de umidade, apelando para todos os sentidos do visitante.
"Trata-se de mostrar como a criatividade humana pode trazer esperança e soluções quando muitas coisas são críticas em nossas vidas", explica Sook-Kyung Lee, curadora da exposição.
Para destacar a universalidade da ameaça climática, a artista coletou seus materiais nos mercados de pulgas de Veneza, uma cidade que também sofre com enchentes.
Degelo
O pavilhão dinamarquês exibe o trabalho do fotógrafo Inuuteq Storch em seis séries, incluindo "Soon Will Summer Be Over", que documenta os efeitos da mudança climática, da colonização e das tradições de caça e pesca dos inuítes no extremo norte da Groenlândia.
Os visitantes podem ver cenas nostálgicas e cotidianas dessa terra remota, onde o sol nunca se põe durante o verão setentrional (norte).
As fotografias coloridas e em preto e branco, que combinam terra, céu e blocos de gelo, fazem referência ao ciclo das estações e à vulnerabilidade dos polos.
"A mudança climática está certamente presente", disse à AFP a historiadora e curadora de arte Louise Wolthers.
"Por exemplo, nessa série Qaanaaq, [Storch] nos conta que os caçadores não podem mais praticar métodos tradicionais de caça por causa da mudança climática, do derretimento do gelo e das condições climáticas extremas".
Vida e morte de uma girafa
"O coração de uma girafa em cativeiro pesa 12 quilos a menos": este é o título de um projeto colaborativo da República Tcheca, que relembra o trágico destino de Lenka, capturada no Quênia em 1954 e transferida para o Zoológico de Praga, onde sobreviveu por apenas dois anos.
Com essa instalação, a artista tcheca Eva Kotátková quis recriar as vísceras e o esqueleto desfragmentado da girafa para chamar a atenção do público para a relação do homem com seu ambiente e a violência infligida aos animais.
É também uma forma de os visitantes se questionarem, perguntando: "Qual é o meu papel nessa história", disse Kotátková à AFP.
O projeto também está em sintonia com o tema central da edição deste ano, "Stranieri ovunque - Estrangeiros em toda parte", em que cerca de 90 países estão representados.