Bingo, viagens e exercício físico: atividades sociais após os 80 atrasa em até 5 anos a demência
Trabalho americano analisou quase 2 mil idosos
Visitar amigos e familiares, viajar, ir a restaurantes, praticar atividades físicas, jogar bingo, fazer trabalho voluntário e frequentar celebrações religiosas após os 80 faz bem para a saúde e pode adiar um diagnóstico de demência em até 5 anos.
É o que mostra um novo estudo conduzido por pesquisadores do Centro Médico da Universidade Rush, em Chicago, nos Estados Unidos, e publicado na revista científica Alzheimer's & Dementia.
"Este estudo é uma continuação de trabalhos anteriores do nosso grupo, que mostraram que a atividade social está relacionada a um menor declínio cognitivo em idosos. Neste estudo, mostramos que a atividade social está associada a um risco reduzido de desenvolver demência e comprometimento cognitivo leve, e que os idosos menos socialmente ativos desenvolveram demência, em média, cinco anos antes dos mais socialmente ativos”, diz Bryan James, professor de Medicina da Rush e autor do estudo, em comunicado.
Segundo os pesquisadores, atividades sociais podem fortalecer circuitos neurais no cérebro, tornando o órgão mais resistente a doenças características do envelhecimento, como a demência – síndrome clínica que envolve a perda cognitiva e tem como o Alzheimer sua principal causa.
Isso porque, explicam os cientistas, o comportamento social ativa as mesmas áreas do cérebro envolvidas no pensamento e na memória. "A atividade social desafia os idosos a participar de trocas interpessoais complexas, o que pode promover ou manter redes neurais eficientes em um caso de 'use ou perca'", explica James.
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Por isso, eles decidiram quantificar em quanto a prática recorrente de atividades sociais consegue impactar no diagnóstico de demência. Para isso, avaliaram 1.923 idosos sem o diagnóstico, de em média 80 anos, durante um período de aproximadamente 6,6 anos, com alguns participantes monitorados por mais de uma década.
Os voluntários faziam parte do Rush Memory and Aging Project, um estudo longitudinal contínuo sobre condições crônicas comuns do envelhecimento da universidade. Eles passaram por avaliações anuais que incluíam histórico médico, questionários e testes neuropsicológicos.
A atividade social foi medida com base em perguntas sobre com que frequência, no ano anterior, eles haviam participado de uma série de atividades sociais comuns que envolvem interação com outras pessoas, como o bingo, a igreja e a prática de atividade física.
Já a função cognitiva foi medida por meio de 21 testes para tipos de memória distintos, para velocidade perceptual e para habilidade visuoespacial. Ao todo, 545 idosos desenvolveram um quadro de demência ao longo do estudo, e 695 apresentaram um comprometimento cognitivo leve.
Após ajustar variáveis que poderiam influenciar o risco de demência, como idade, exercício físico e condições gerais de saúde, os pesquisadores observaram que ter atividades sociais com mais frequência estava relacionado a uma redução de 38% no risco de demência e de 21% no risco de comprometimento cognitivo leve.
Além disso, entre os que desenvolveram o quadro de demência, os responsáveis pelo trabalho notaram que a adesão a atividades sociais estava associada a um atraso de cinco anos no início da doença. Eles estimam que esse benefício pode proporcionar três anos adicionais na expectativa de vida e uma redução em gastos com a condição.