Boizinhos mantêm tradição de encontro em Olinda
Evento acontece há 18 anos por iniciativa de Dona Dá, moradora da rua da Boa Hora que entrega troféus a cada agremiação que passa diante da casa dela
A alegria voltou à rua da Boa Hora, no sítio histórico de Olinda. Nesta quarta-feira (14). Jodecilda da Silva, a famosa Dona Dá, retomou a tradição interrompida em 2017 por causa da violência, e diversos boizinhos de Carnaval, em filas reverentes, se alternaram em frente à casa dessa senhora que há 35 anos resolveu “animar” a ladeira onde mora, convidando agremiações e oferecendo troféus e acolhida aos foliões. No caso dos bois de Carnaval, a tradição é mais recente: tem “apenas” 18 anos. Hoje eles vêm espontaneamente participar do encontro.
No ano passado, a família de Dona Dá anunciou, através de uma nota, que não iria mais realizar a festa. A tristeza foi tanta que ela adoeceu e chegou a colocar um marca-passo, logo após o Carnaval. Agora, prestes a completar 80 anos, dançando em frente ao número 207 da rua da Boa Hora e com um sorriso esfuziante no rosto, Dona Dá foi só felicidade. “Adoro receber as pessoas com vinho, água, frutas, caninha e a minha alegria”, resumiu à reportagem da Folha de Pernambuco.
Logo cedo, ela mobilizou a família toda e foi para a Ceasa, onde comprou bebida e vários quilos de frutas. “A gente não tem patrocínio, faz por amor, mas recebe esse amor de volta”, contou a sobrinha Janaína Airola, enquanto passava com bandejas para servir aos integrantes dos grupos, muitos dos quais vêm de fora da região metropolitana e sentem fome e sede em meio à folia.
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Não se sabe afirmar com precisão quando os bois surgiram no Brasil, mas há variantes desse brinquedo nas diversas regiões (como bumba-meu-boi, boi-de-mamão e cavalo-marinho, entre outros), reunindo traços europeus, africanos e indígenas. Os bois de Carnaval, também chamados de boizinhos, trazem diversos ritmos, personagens e elementos, e são uma tradição em Pernambuco. Graças à iniciativa de Dona Dá, a Quarta-feira de Cinzas passou a concentrar as apresentações desses grupos, que se confraternizam, saúdam sua musa e lançam desafios amistosos uns aos outros.
De grupos tradicionais como o Tira Teima, de 1922, que vem de Caruaru especialmente saudar Dona Dá, a outros mais recentes como o Boi Marinho, de 2000, comandado pelo músico Helder Vasconcelos, a diversidade de ritmos e coloridos impressiona. “Boa noite, Dona Dá, Boi Marinho chegou agora pra manter a tradição da rua da Boa Hora”, cantou Helder ao receber o troféu e a bênção da dona da festa.
Democrática, Dona Dá premia a todos, sem distinção, saudando as crianças do boi infantil Brazinha com o mesmo entusiasmo com que rememora os nomes dos amigos de vários anos, alguns dos quais não mais em funcionamento: Boi do Cupim, Boizinho Alinhado, Boi da Gurita Seca, Boi Meia Noite, Boi Nelore, Boi da Mata, Boi Dendê, Boi Cara de Sapo... Ano a ano, os grupos surgem, prosseguem, se dissolvem, e ela continua firme em seu propósito de acolher e reconhecer a beleza de nossa cultura.