Bolsonaro diz que fez 'o possível e o impossível' para evitar mortes por Covid-19
Ao assinar medida que libera recursos para compra de vacina de Oxford, presidente voltou a defender cloroquina e criticou ex-ministro Mandetta
Com quase 100 mil mortes por Covid-19 registradas no país, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) disse nesta quinta-feira (6) que está com a consciência tranquila e que fez "o possível e o impossível" para salvar vidas.
Ao assinar medida provisória que destina R$ 1,9 bilhão para a compra da vacina contra o coronavírus que está sendo testada pelo laboratório AstraZeneca e pela Universidade de Oxford, Bolsonaro defendeu o uso da hidroxicloroquina, medicamento que não tem eficácia cientificamente comprovada contra a Covid-19.
"Estamos com a consciência tranquila. Não existia, naquela época, como não existe, uma vacina, não existia medicamento, apenas a promessa, no primeiro momento, da hidroxicloroquina, depois outras coisas apareceram", disse o presidente no Palácio do Planalto, em uma cerimônia fechada à imprensa, mas transmitida pela TV pública.
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"Junto com os meios que nós temos, temos como realmente dizer que fizemos o possível e o impossível para salvar vidas ao contrário daqueles que teimam em continuar na oposição, desde 2018", disse o presidente.
Logo no início da pandemia, Bolsonaro determinou que laboratórios do Exército produzissem o medicamento, mesmo sem comprovação científica.
À época, o ministro da Saúde era Luiz Henrique Mandetta, que resistiu publicamente ao desejo de Bolsonaro para que a cloroquina fosse utilizada no estágio inicial da doença.
Mandetta, que acabou demitido, foi novamente criticado nesta quinta pelo chefe do Executivo, que disse que seu ex-ministro "virou comentarista da Globo por várias e várias semanas".
"Tínhamos um protocolo do ministro primeiro da Saúde que mandava aplicar apenas em estado grave a hidroxicloroquina. É jogar comprimido fora. Não precisa ter conhecimento nem cérebro para entender que é jogar comprimido fora e perder vidas", disse Bolsonaro.
O presidente procurou elogiar o ministro interino da Saúde, general Eduardo Pazuello, alvo de críticas por ser militar da ativa, especialista em gestão, e não em saúde.
Bolsonaro disse que o ministério é "para ser educado, complicado" e que "não temos facilidade de encontrar um médico gestor".
Quando elogiava a atuação da pasta em seu próprio governo, Bolsonaro voltou a dizer que, pelo conhecimento que tinha, não havia registro de mortes por falta de leitos de UTI ou de respiradores. O mandatário foi corrigido em tempo real.
"Alguns casos é possível. Mas a grande maioria tinha os equipamentos lá", afirmou, após ser alertado por um interlocutor que não aparece nas imagens.
As críticas do presidente chegaram novamente ao STF (Supremo Tribunal Federal), que decidiu que cabia a prefeitos e governadores definir sobre quando reabrir o comércio pelo país.
"Eu fui cerceado, o meu governo, na possibilidade de discutir este assunto pelo nosso aqui, à minha esquerda, Supremo Tribunal Federal. A nós coube apenas, praticamente, fornecer meios e recursos para estados e municípios."
Bolsonaro disse que "talvez em dezembro, janeiro, exista a possibilidade da vacina e daí este problema estará vencido poucas semanas depois". Ele aproveitou a oportunidade para alfinetar o governador de São Paulo, João Doria (PSDB), seu virtual oponente na eleição presidencial de 2022.
O estado de São Paulo fez acordo com a chinesa Sinovac para testar uma vacina contra Covid-19. Alinhado aos Estados Unidos, parte do governo Bolsonaro adota um discurso ideológico contrário à China.
"E o que é mais importante nesta vacina, diferente daquela outra que um governador resolveu acertar com outro país: vem a tecnologia para nós", disse Bolsonaro.
Participou da cerimônia de assinatura da medida provisória o ministro interino da pasta Eduardo Pazuello, que ressaltou a importância de garantir 100 milhões de doses da vacina para a população.
"Com a assinatura estamos garantindo a aplicação de recursos em uma vacina que tem se mostrado a mais promissora do mundo. O investimento é significativo, não só o seu valor de quase R$2 bilhões de reais, mas aponta também para a busca de soluções que permita ao Brasil desenvolver tecnologia para a proteção dos brasileiros", afirma.
A maior parte da verba, R$ 1,3 bilhão, é para pagamentos à AstraZeneca, a serem previstos no contrato de encomenda tecnológica. Outros R$ 522,1 milhões serão para despesas necessárias ao processamento final da vacina por Bio-Manguinhos/Fiocruz e mais R$ 95,6 milhões destinados a investimentos para absorção da tecnologia de produção pela Fiocruz.
A Fiocruz e a AstraZeneca assinaram no dia 31 de julho o documento que dará base para o acordo entre os laboratórios para a transferência de tecnologia e produção de 100 milhões de doses da vacina contra a Covid-19, caso se comprovem a eficácia e a segurança.
Nesse sentido, o Governo Federal assumiu parte dos riscos tecnológicos do desenvolvimento da vacina. Em uma segunda fase, caso a vacina se mostre eficaz e segura, será ampliada a compra.
A previsão para início da produção da vacina no Brasil é a partir de dezembro deste ano. Ela será distribuída pelo Programa Nacional de Imunização (PNI), que atende o Sistema Único de Saúde (SUS).