Bombardeios continuam na Ucrânia, apesar da trégua decretada pela Rússia
Estados Unidos prometeram o envio de nova ajuda militar a Kiev no valor de US$ 3 bilhões
Os bombardeios continuaram nesta sexta-feira (6) em ambos os lados da linha de frente na Ucrânia, apesar do cessar-fogo unilateral decretado pela Rússia por ocasião do Natal ortodoxo.
Enquanto isso, os Estados Unidos prometeram o envio de uma nova ajuda militar a Kiev no valor de US$ 3 bilhões que incluirá veículos blindados Bradley, informou a Casa Branca.
"Este ano vitorioso só está começando", declarou a Presidência ucraniana, acrescentando que o pacote americano também incluirá mísseis de precisão Himars e antiaéreos Sea Sparrow.
A ajuda militar "nos deixará muito mais preparados para lidar com qualquer escalada da Rússia e quaisquer golpes infligidos a nós por esse Estado terrorista, seja em um feriado ou em um dia de semana", declarou o presidente ucraniano, Volodimir Zelensky.
As declarações do presidente ucraniano ocorrem no dia de Natal ortodoxo, a fé majoritária tanto na Ucrânia quanto na Rússia.
O presidente russo, Vladimir Putin, ordenou às suas tropas um cessar-fogo na véspera, seguindo o apelo do patriarca da Igreja Ortodoxa Russa, Kirill, e do presidente turco, Recep Tayyip Erdogan.
No entanto, em Bakhmut, cidade localizada no leste do país e que Moscou tenta conquistar há vários meses, jornalistas da AFP ouviram disparos de artilharia de ambos os lados da linha de frente após o início teórico do cessar-fogo às 12h locais (6h em Brasília).
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"Quase todos os dias há mortes"
Pavlo Diatchenko, um policial de Bakhmut, chamou a trégua de "provocação" russa. Os civis "estão sendo bombardeados dia e noite e quase todos os dias há mortes", disse ele.
O Exército russo garantiu, no entanto, que está respeitando a trégua e acusou as tropas ucranianas de "continuar bombardeando cidades e posições russas".
O vice-chefe da administração presidencial ucraniana, Kirilo Timoshenko, relatou dois bombardeios russos em Kramatorsk e outro em Kurakhove, no leste. Ele também relatou um bombardeio russo em Kherson (sul).
Na província de Luhansk, também no leste, as autoridades locais reportaram 14 disparos de artilharia e assinalaram que os civis ficaram "o dia todo nos porões".
As autoridades separatistas pró-Rússia no leste da Ucrânia relataram vários bombardeios de seu reduto em Donetsk, antes do cessar-fogo decretado pelo presidente russo, Vladimir Putin, entrar em vigor.
Esta deveria ser a primeira grande trégua na Ucrânia desde que a invasão russa começou em 24 de fevereiro.
Ceticismo
A Ucrânia, no entanto, recebeu o anúncio com ceticismo. Zelensky estimou que se tratava de uma "desculpa para conter o avanço" das tropas de Kiev na região de Donbass, no leste, e levar "equipamentos, munições e aproximar homens das nossas posições".
Os aliados de Kiev também receberam esse anúncio com desconfiança. O porta-voz do Departamento de Estado, Ned Price, denunciou uma medida "cínica", após os ataques registrados nesta sexta-feira no leste da Ucrânia.
O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, considerou na quinta-feira que o objetivo de Putin é "buscar oxigênio".
O chefe da diplomacia europeia, Josep Borrell, classificou o cessar-fogo como "hipócrita" e "pouco confiável".
"A resposta que vem na cabeça de todos é ceticismo diante tanta hipocrisia", declarou Borrell à imprensa durante visita a Fez, no Marrocos.
O ministro das Relações Exteriores do Reino Unido, James Cleverly, disse que a trégua "não contribuirá em nada para avançar nas perspectivas de paz", enquanto diplomatas alemãs garantiram que o cessar-fogo não trará "nem liberdade nem segurança" à Ucrânia.
A França denunciou uma "tentativa grosseira da Rússia de esconder sua responsabilidade" enquanto os ataques e bombardeios contra a Ucrânia continuam.
A Rússia afirma estar disposta a negociar com a Ucrânia, desde que Kiev atenda às exigências russas e aceite as "novas realidades territoriais" definidas pela invasão do país.
Moscou reivindicou em setembro a anexação de quatro regiões ocupadas por seu exército na Ucrânia, a exemplo da estratégia usada na península ucraniana da Crimeia em março de 2014.
Zelensky, por outro lado, insiste na retirada total das forças russas de seu país, incluindo a Crimeia, antes de iniciar qualquer diálogo com Moscou. Caso contrário, promete recuperar os territórios ocupados à força.