incêndios

Brasil sufoca entre incêndios e poluição

Especialistas indicam que a fumaça depositada no ar pelas queimadas gera efeitos comparáveis a fumar de quatro a cinco cigarros por dia

O prédio do Congresso Nacional em Brasília parcialmente coberto pela fumaça do incêndio que atingiu o Parque Nacional de Brasília em 16 de setembro de 2024.O prédio do Congresso Nacional em Brasília parcialmente coberto pela fumaça do incêndio que atingiu o Parque Nacional de Brasília em 16 de setembro de 2024. - Foto: Evaristo Sa / AFP

"Mesmo que seja fumante, tenho sentido mais tosse do que o normal", diz, preocupado, o estudante Luan Monteiro no porto do Rio de Janeiro, que como muitas cidades brasileiras, vive há semanas com picos de poluição devido à onda de incêndios no país.

Em meio a uma seca extrema ligada à mudança climática, o Brasil sofre os efeitos da multiplicação de incêndios de norte a sul.

As nuvens de fumaça cobrem boa parte do território do maior país da América Latina - "até 80%" na semana passada -, segundo Karla Longo, pesquisadora do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).

São Paulo ficou vários dias no topo da classificação das cidades mais poluídas do mundo, segundo a empresa de vigilância de qualidade do ar IQAir, com sede na Suíça.

As máscaras voltaram a ser vistas, principalmente em Porto Velho e outras cidades da Amazônia, que vive sua pior onda da incêndios em quase duas décadas, segundo o observatório europeu Copernicus.

Na praia de Copacabana, o administrador paulista Celso Quijada, de 36 anos, conta que ficou impressionado com o céu cinzento que viu da janela do avião em seu voo de São Paulo para a Cidade Maravilhosa.

"Eu estava vindo de São Paulo para o Rio de Janeiro, de avião, e deu para ver, realmente, quando a gente olhou pela janela, muita fumaça preta", afirmou.

"Toalhas molhadas"
Pelo menos 40% dos habitantes de São Paulo e Belo Horizonte, e 29% do Rio de Janeiro, afirmam que sua saúde foi muito afetada pela poluição, segundo uma pesquisa do Datafolha publicado na semana passada.

Em um dos maiores hospitais de Brasília, o atendimento a pacientes com problemas respiratórios foi 20 vezes maior do que o normal.

Para suportar o clima seco em Brasília, há mais de 160 dias sem chuvas, Valderes Loyola se protege com um ventilador, toalhas molhadas e baldes com água.

"Quando eu saio eu coloco minha máscara", disse à AFP a dona de casa de 72 anos, com boca e nariz tapados, enquanto caminha dentro da estação de metrô.

As aulas foram temporariamente suspensas em quase 40 escolas da capital, enquanto as autoridades recomendaram aos habitantes aumentar a ingestão de líquidos e evitar exercícios ao ar livre.

Como fumar 
Especialistas indicam que a fumaça depositada no ar pelas queimadas gera efeitos comparáveis a fumar de quatro a cinco cigarros por dia.

A poluição do ar pode causar desde irritações a doenças respiratórias – como bronquite e asma – e o risco é maior quanto maior o tempo de exposição, segundo o pediatra Renato Kfouri, vice-presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações.

Se os incêndios se tornarem recorrentes, "a tendência é que exista realmente essa situação todos os anos" no Brasil, disse à AFP a médica Evangelina Araújo, presidente do Instituto Ar.

As buscas na Internet por 'qualidade do ar' dispararam em todo o Brasil a níveis sem precedentes, segundo a ferramenta Google Trends, que também relatou um aumento nos termos 'umidificador' e 'purificador de ar'.

Em cidades como Brasília e Rio de Janeiro, fãs do nascer e do pôr do sol assistiram a espetáculos com tons avermelhados e alaranjados, atribuídos ao reflexo dos raios nas partículas poluentes.

Sem monitoramento 
Especialistas criticam modelos antiquados na medição da qualidade do ar e falta de planos emergenciais no Brasil.

Com apenas 1,7% dos municípios com estações de monitoramento do ar e concentrados nas áreas mais povoadas e industriais do sudeste, o sistema "é muito precário e desatualizado", indicou Evangelina Araújo.

A especialista indica que apenas 20% destas estações tem capacidade para detectar as prejudiciais partículas finas (PM2,5) encontradas na fumaça.

O limite diário para as PM2,5 no Brasil é de 60 microgramas por metro cúbico, quatro vezes a recomendação da Organização Mundial de Saúde. Igualar esse nível a padrões internacionais levará mais de 20 anos, segundo uma resolução governamental.

Veja também

Venezuela pede prisão de juiz que autorizou apreensão de avião na Argentina
VENEZUELA

Venezuela pede prisão de juiz que autorizou apreensão de avião na Argentina

"Ânimo!": López Obrador faz sua última coletiva matinal no México
MÉXICO

"Ânimo!": López Obrador faz sua última coletiva matinal no México

Newsletter