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Justiça

Procurada pelo FBI, Patrícia Lélis morava em casa luxuosa nos EUA, avaliada em R$ 4,3 milhões

Jornalista é acusada na Justiça de ter se apropriado de R$ 3,4 milhões; Casa envolvida em processo teve a entrada paga com o dinheiro desviado de vítimas do esquema

Casa de Patrícia Lélis envolvida em processo nos EUA Casa de Patrícia Lélis envolvida em processo nos EUA  - Foto: Reprodução

Foragida da Justiça norte-americana, a brasileira Patrícia Lélis, acusada de enganar clientes ao se passar falsamente por advogada de imigração, morava em uma casa luxuosa na comunidade de Shirlington Crest, em Arlington, Virgínia, nos Estados Unidos. O imóvel foi vendido pela última vez em 2021 por quase R$ 4 milhões.

Segundo o portal imobiliário Redfin, a residência é “luxuosa”, tem três quartos, piso de madeira em todos os níveis e lareira a gás. O imóvel também conta com cozinha gourmet, bancada em granito, eletrodomésticos em aço inox incluindo forno de parede dupla, ilha central com cooktop a gás. A casa também está rodeada por parques e próxima de trilhas.

O bairro de Shirlington Crest é descrito como uma “localização privilegiada no distrito de artes e entretenimento de Arlington”. Apesar de estar na Virgínia, está no acesso ideal para edifícios icônicos da administração norte-americana, como o Pentágono e o centro da capital Washington DC.

Procurada pela Justiça norte-americana, Patrícia Lélis pode perder o imóvel. Segundo a acusação feita pelo Departamento de Justiça dos Estados Unidos, a entrada da casa, avaliada em USD 875 mil (cerca de R$ 4.3 milhões), foi feita com o dinheiro do esquema fraudulento.

Segundo a Justiça dos EUA, a brasileira se passou falsamente por uma advogada de imigração, e desviava os recursos para enriquecimento próprio. Em setembro de 2021, Patrícia teria enviado um acordo a uma vítima que buscava ajuda na obtenção de vistos EB-5 para os pais dela. A vítima fez dois pagamentos iniciais totalizando mais de US$ 135.000, mas o processo nunca existiu, e parte desse dinheiro foi destinado a pagar a entrada de sua casa em Arlington.

Em registros imobiliários dos EUA, a casa já aparece sinalizada como envolvida em um processo que corre na Justiça norte-americana. Quando buscada no serviço de imagens Google Streetview, que mostra o mapa em 3D, a propriedade aparece “borrada”.

Entenda o caso
De acordo com a acusação, Patrícia se passou por uma advogada de imigração capaz de ajudar clientes estrangeiros a obter vistos E-2 e EB-5 para os Estados Unidos. O programa EB-5 proporciona residência permanente legal e possível cidadania, se um cidadão estrangeiro investir fundos substanciais – normalmente, um mínimo de 1 milhão de dólares – em empresas qualificadas que criam empregos nos Estados Unidos.

Segundo a brasileira, o dinheiro investido para obtenção do visto iria para um projeto de desenvolvimento imobiliário no Texas que se qualificava para o programa EB-5. Apesar disso, na realidade, o dinheiro teria ido para a conta bancária pessoal de Patrícia. Além da entrada da casa, ela teria feito reformas e pago outras despesas pessoais, como dívidas de cartão de crédito.

A brasileira ainda é acusada de atuar ativamente para encobrir o esquema e obter mais dinheiro. Lelis criou a falsa identidade de "Jeffrey Willardsen", um suposto funcionário de uma empresa de investimento imobiliário do Texas, para induzir uma das vítimas a realizar depósitos de dinheiro. "Nicole Stone" foi outro nome falso usado no esquema, dessa vez por um colega da brasileira que seguia suas orientações, para convencer essa mesma vítima.

A brasileira também teria usado sem a autorização a assinatura de um advogado e tabelião, identificado apenas como F.M, no golpe.

Formalmente, a Patrícia é acusada de fraude eletrônica, transações monetárias ilegais e roubo de identidade agravado. Ela pode pegar uma pena máxima de 20 anos de prisão se for condenada por envolvimento em fraude eletrônica, um máximo de 10 anos se for condenada por transações monetárias ilegais e um mínimo obrigatório de dois anos adicionais de prisão se for condenada por roubo de identidade agravado.

Quem é Patrícia Lélis?
A jornalista e blogueira de 29 anos ficou conhecida em 2016, após ter acusado o pastor e deputado federal Marcos Feliciano (PL-SP) de estupro. Dois anos depois, porém, o juiz Aimar Neres de Matos, da 4ª Vara Criminal de Brasília, arquivou o processo contra o parlamentar, acolhendo pedido do Ministério Público do Distrito Federal. O órgão defende que não era possível "vislumbrar elementos mínimos para a propositura de ação penal".

O Ministério Público ainda denunciou Patrícia por falsa comunicação de crime e extorsão de Talma Bauer, então chefe do gabinete do parlamentar.

Em outra denúncia, Lélis também acusou o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP) de ameaçá-la após troca de ofensas públicas em 2017. Na ocasião, ela afirma que ele a teria chamado de "otária" e ameaçado "acabar com a sua vida" caso a discussão continuasse.

No entanto, relatório da Polícia Civil do Distrito Federal de 2021 aponta que havia indícios de crime de denunciação caluniosa de Lélis contra o "zero três". Na época da acusação, ela trabalhava no PSC, então sigla de Eduardo Bolsonaro, seu namorado no período. A procuradora-geral da República à época Raquel Dodge apresentou denúncia no Supremo Tribunal Federal (STF) contra o parlamentar, e depois foi remetido à primeira instância.

Em 2018, Patricia Lélis chegou a ser candidata a deputada federal por São Paulo filiada ao Pros, mas não obteve o número mínimo de votos para conquistar uma vaga na Câmara dos Deputados.

A jornalista também foi alvo de investigação dentro do PT pela sua expulsão da legenda por declarações transfóbicas em 2021. A decisão foi tomada após a jornalista publicar um vídeo nas redes sociais em que fala que uma mulher trans "mostrou seu pênis a outras mulheres e adolescentes" ao entrar em um banheiro em Los Angeles.

Procurada pelo Globo, para se posicionar sobre o caso, Patrícia Lélis não respondeu.

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