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ESTADOS UNIDOS

Brasileiras relatam momentos de pânico ao fugir de incêndios em Los Angeles: "Cenário apocalíptico"

Com rápida propagação, fenômeno matou pelo menos cinco pessoas, deixou mais de 2 mil edifícios destruídos e passou a ser o pior da História da Califórnia

Uma casa em chamas durante o incêndio em Eaton na área de Altadena, no condado de Los Angeles, CalifórniaUma casa em chamas durante o incêndio em Eaton na área de Altadena, no condado de Los Angeles, Califórnia - Foto: Josh Edelson/AFP

Quando os primeiros focos dos incêndios florestais que atingiram Los Angeles começaram a surgir, na terça-feira, a mobilização não foi imediata: acostumados com fenômenos do tipo, os moradores não imaginavam que estes, em particular, viriam a ser os piores da História da cidade.

O cenário de aparente tranquilidade, no entanto, não demorou para mudar: com rápida propagação, o fogo se alastrou por três regiões, matando cinco pessoas e deixando mais de 2 mil edifícios destruídos. Ao Globo, brasileiras que vivem no local descreveram momentos de pânico e o terror psicológico que viveram ao receber alertas de retirada — ou com a falta de ar provocada pela intensidade da fumaça, que afetou mesmo as áreas mais distantes dos locais incendiados.

— O incêndio começou bem próximo da minha casa, em Palisades, uma das primeiras áreas de evacuação. Quando eu e meu marido estávamos saindo, o fogo já estava a alguns metros de distância da nossa casa. Ainda não temos confirmação sobre o estado dela — disse a cineasta Luiza de Moraes. — Temos dois carros, e tive que abandonar um para trás. Fomos para a casa dos meus sogros, mas, nesse tempo, outro foco de incêndio começou [perto da casa deles]. Ficamos em alerta a noite inteira, com ventos que estavam a 160 km/h. A casa inteira estava tremendo.

 

Na Califórnia, relatou, os moradores já sabem que existe risco de terremoto e incêndios, então há uma ideia generalizada sobre como sair de casa em situações do tipo. Os dois gatos da família, por exemplo, foram rapidamente colocados no banheiro enquanto Luiza e o marido recolhiam os pertences e guardavam tudo no carro. Depois, os animais foram enrolados em cobertores e levados para fora de casa. Ainda assim, porém, ela afirmou nunca ter vivido algo do tipo, com a qualidade do ar tão precária que ela mal conseguia respirar — e sem nem mesmo poder beber água, já que, explicou, o sistema local ficou “todo contaminado”.

— Chegou um momento em que pensamos se tinha algo mais que gostaríamos de levar. É uma experiência que nunca tive, a de olhar para a minha casa e imaginar: ‘está bem, o que eu posso virar as costas aqui e nunca mais ver?’. Começamos a amontoar coisas dentro do carro. Pegamos quadros, o meu vestido de casamento, documentos e qualquer roupa que conseguíamos ver. Foi bem assustador mesmo.

A estudante Bianca Leismann, de 21 anos, disse não ter sido afetada imediatamente, já que vive em Hollywood, área que só foi atingida na noite de quarta-feira. Ainda assim, ela não havia se preparado para uma possível fuga: “geograficamente falando, as chances de os focos irem para lá era improvável”, explicou. Natural de Porto Velho (RO), ela diz estar acostumada com queimadas frequentes, além da fumaça e poeira, indicando que a situação na cidade americana pareceu ser “tão ruim quanto”. No momento em que começou a receber alertas de perigo no celular, contudo, ela decidiu sair de casa em busca de um local seguro.

 

Incêndio em Los Angeles Incêndio em Los Angeles // Josh Edelson/AFP

— Eu estava na rua [quando os alertas de perigo começaram], e quando cheguei em casa duas das minhas colegas de quarto já tinham saído. Fui a penúltima a sair. Eu já tinha uma mochila com documentos importantes que eu deixo debaixo da cama, então isso eu já sabia que estava pronto. Peguei a mochila e alguns outros itens pessoais, além de itens de higiene. Mas, na hora do desespero, tudo passa muito rápido na cabeça. Tive sorte e privilégio de ter mais tempo. Alguns amigos não conseguiram pegar nada, só o documento, a mochila e pronto.

‘Como um filme de terror’
Também residente de Hollywood, a modelo Beatriz Rocha, de 28 anos, disse que desde terça-feira havia muitas nuvens pretas no céu — e que, mesmo distante das áreas afetadas inicialmente, havia uma espécie de “terror psicológico” por não saber se seria preciso sair de casa, ou mesmo se a cidade estava segura. Assim como Bianca, Beatriz recebeu o alerta de incêndio na noite de quarta-feira, momento em que decidiu abandonar a casa com o namorado. Assustados, os dois conseguiram abastecer o carro e comprar “bastante água”, como recomendado pelas autoridades.

— No entanto, estamos indo para a terceira farmácia procurar por máscaras de proteção, essencial para enfrentar o ar poluído, e não achamos porque já compraram tudo — afirmou a modelo. — O cenário aqui é de muita tristeza, parece um filme de terror pensar que 20 minutos de onde eu estou ninguém tem mais casa; que os animais estão desesperados e que tudo foi tomado pelo fogo. Fora o medo de perder o nosso lugar, as nossas coisas, que demoramos tanto para conseguir conquistar e que ainda estamos conquistando.

A atriz Rubia Funes, de 31 anos, não precisou sair de casa e nem viu seu telefone ser consumido por alertas de perigo quando o incêndio começou. Para ela, que também trabalha como motorista de aplicativo, a dimensão do ocorrido só foi absorvida na quarta-feira, quando um passageiro entrou com destino a um hotel porque a área onde ele mora estava sendo queimada. No caminho, além do trânsito congestionado, ela também conseguiu ver algumas áreas queimadas. Mais tarde no mesmo dia, enquanto estava em Hollywood — área até então considerada segura — ela testemunhou o início do novo foco de incêndio.

— Fiquei bem impressionada e assustada, é um cenário apocalíptico. Moro em Los Angeles há cinco anos e nunca tinha visto uma queimada com essa proporção aqui — declarou. — Não tenho saído muito de casa desde que os incêndios começaram. O governo tem recomendado que as pessoas que podem fiquem em casa com as janelas fechadas, e que, se for sair, use máscara. Infelizmente, daqui a pouco vou ter que trabalhar. De máscara o dia todo dentro do carro. É o que eu vou conseguir fazer.

O Serviço Nacional de Meteorologia americano afirmou que os fortes ventos, um fenômeno chamado de ventos de Santa Ana, estarão em um patamar entre moderado e forte de quinta até esta sexta-feira. Cerca de 7,5 mil bombeiros estão atuando na tentativa de conter o fogo, e medidas de segurança, como o fechamento da rede escolar, foram adotadas. A previsão é de que as condições permaneçam críticas na área metropolitana de Los Angeles até sexta à noite.

O presidente americano, Joe Biden, cancelou uma viagem à Itália para acompanhar os desdobramentos no oeste do país e prometeu fazer “tudo o que for necessário, pelo tempo que for preciso” para conter as chamas. O presidente eleito, Donald Trump, acusou o governador da Califórnia, Gavin Newsom, um democrata de alto escalão, pelo desastre. Estimativas do Centro Global do Clima, da AccuWeather, apontam que as perdas materiais nestes incêndios podem chegar a US$ 57 bilhões.

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