Brasileiro desaparecido em rave tem morte confirmada nesta segunda-feira (9)
De acordo com a Folha de São Paulo, a tia do homem confirmou sua morte
O brasileiro Ranani Glazer, desaparecido desde sábado após o início do conflito entre Israel e o grupo terrorista Hamas, foi encontrado morto, informou a tia do jovem ao Globo na noite dessa segunda-feira. Até a publicação desta matéria, a morte ainda não havia sido confirmada pelo Itamaraty. Glazer estava na rave Universo Paralello, que foi invadida por homens armados no sábado. O evento acontecia no deserto de Negev, perto de Re-im, no sul de Israel, a menos de 20 quilômetros da Faixa de Gaza.
— O Exército de Israel foi até a casa do meu irmão, pai do Ranani, que também mora em Israel. É tudo o que sabemos. Não temos informações de como e onde (o corpo foi encontrado) — conta Karen Glazer, tia do jovem.
Glazer era brasileiro-israelense, tinha 24 anos de idade e natural do Rio Grande do Sul.
Ele morava em Israel há sete anos e prestou serviço militar no país. Em abril, Ranani destacou o gosto por festas como o evento de música eletrônica onde estava quando começou o ataque do Hamas. "Fácil me encontrar numa rave", escreveu ele, em inglês, com uma foto tirada em Israel enquanto dançava com a bandeira do Brasil nos ombros.
Nos últimos dias, o jovem fez uma série de publicações em suas redes sociais de eventos em Tel Aviv, capital de Israel. Em seu perfil no Instagram, havia postagens recentes nos stories em que ele compartilhou vídeos da rave da qual participava, marcando Gaza na localização. Pouco tempo depois, haveria a invasão ao local, com um tiroteio que causou correria e fuga das pessoas presentes ao evento.
Algumas pessoas, entre elas Ranani, conseguiram se abrigar em um bunker, mas o local acabou sendo atingido por uma bomba. A namorada dele, Rafaela Treistman, conseguiu sair, e a polícia pediu que ela fosse para o hospital, onde os feridos estavam sendo atendidos. Desde então, não houve mais notícias sobre Ranani.
"Ele estava nesse festival com a namorada dele e um amigo, então começaram os bombardeios e alguns tiroteios em certos pontos, todos correram pra se esconder", escreveu um amigo, que pediu sigilo, ao Globo. "Depois perdemos o contato por bastante tempo, ele ficou sem área, não recebia ligações. A gente ligou pra namorada dele e o amigo atendeu dizendo que explodiram o bunker que estavam todos caídos, só esse amigo e a namorada dele saíram de lá".
Vídeo antes de morrer
Ranani Glazer chegou a gravar um vídeo diretamente de um bunker, onde se abrigou logo após o ataque começar: "Foi cena de filme", disse, afirmando que precisou correr quilômetros para achar um lugar seguro para se esconder.
— No meio da rave a gente parou num bunker, começou uma guerra em Israel, pelo menos a gente está num bunker agora, seguro — disse.
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O gaúcho namorava uma outra brasileira, Rafaela Treistman, que também estava no evento no momento dos ataques e sobreviveu. Em um vídeo publicado nas redes sociais, Treistman conta que ela, o namorado e o amigo do casal, Rafael Zimerman, se esconderam dos terroristas usando corpos das vítimas. No momento em que as autoridades israelenses chegaram ao bunker, no entanto, Glazer havia desaparecido. Zimerman foi resgatado junto com ela, foi hospitalizado e teve alta no último domingo.
— O bunker em que nos escondemos foi metralhado por integrantes do Hamas e depois jogaram gás para todo mundo morrer asfixiado, e foi quando comecei a pedir a Deus para sobreviver. Eu me senti em Auschwitz — relatou Rafael, que agora mora com amigos em Herzylia, próximo a Tel Aviv. — Eu só me senti seguro quando cheguei no hospital.
Ao menos 260 corpos foram encontrados no local onde acontecia o festival Universo Paralello, organizado pelo pai do Dj Alok, o também DJ Juarez Petrillo. Dezenas de pessoas que foram à rave ainda estão desaparecidas, informou a organização de resgate israelense Zaka no último domingo.
Há pelo menos duas brasileiras desaparecidas que estavam na rave, de acordo com informações do Itamaraty: Bruna Valeanu, de 24 anos, e Karla Stelzer Mendes, de 41 anos.
O DJ Juarez Petrillo lamentou o ataque em uma postagem no Instagram na tarde de domingo. "Estamos consternados, chocados e assustados com tudo que aconteceu e deixamos explicitamente a nossa revolta e nossos sentimentos às vítimas desse ataque perverso", escreveu no perfil da Universo Paralello, organizadora do evento.
Sobre as críticas que repercutiram nas redes sociais em relação ao lugar do evento, a postagem afirma que "Israel é reconhecida mundialmente por grandes eventos de música eletrônica, e o local é conhecido por receber diversos deles, tendo, no dia anterior, acontecido um festival com mesmo perfil no mesmo local".
O Jerusalem Post publicou um vídeo em que mostra o momento em que diversas pessoas fogem às pressas de uma festa organizada ao ar livre depois da chegada de membros do Hamas. Segundo o jornal, "os participantes relatam momentos angustiantes com (o som de) tiros", e havia "preocupações com possíveis vítimas". Ainda não se sabia da dimensão da tragédia.
O ataque terrorista surpresa do Hamas no último sábado pegou Tel Aviv de surpresa. Em suas redes sociais, o governo israelense foi taxativo e afirmou estar "em guerra". Dois dias após sofrer o maior ataque em cinco décadas — com pelo menos 900 mortos e mais de 2.400 feridos em 22 localidades do sul e do centro do país — Israel anunciou a mobilização de 300 mil reservistas em tempo recorde e decretou “cerco total” à Faixa de Gaza com corte de energia, combustíveis, água e alimentos.
O território palestino é governado desde 2007 pelo grupo terrorista Hamas, responsável pelos ataques de sábado a Israel, inclusive à rave. Cerca de mil militantes extremistas cruzaram a fronteira e invadiram Israel, espalhando terror e morte, e uma chuva de 2.500 a 5 mil foguetes caiu sobre cidades e vilarejos israelenses. A resposta de Israel já deixou quase 700 mortos em Gaza. O total de feridos dos dois lados chega a 5.300.
O governo brasileiro estima que serão necessários 15 voos da Força Aérea Brasileira (FAB) para trazer de volta todos os brasileiros que querem sair de Israel e de outros países do Oriente Médio desde o começo do conflito. O primeiro deles, com 210 cidadãos nacionais, acompanhados de médicos e psicólogos, chegará a Brasília na primeira hora desta terça-feira. Mais de 2.200 brasileiros pediram ajuda para retornar ao país.