Brasileiros enfrentam longa espera para conseguir escapar da Faixa de Gaza; relembre
A abertura da passagem de Rafah, na fronteira egípcia, teve início na quarta-feira passada
Após uma longa espera, 33 pessoas do grupo de 34 (composto por 24 brasileiros, sete palestinos com residência no Brasil e três parentes próximos) na lista do Itamaraty para sair da Faixa de Gaza — zona de conflito entre as forças israelenses e o grupo terrorista Hamas desde o dia 7 de outubro — foram autorizadas a deixar o enclave palestino nesta sexta-feira, através de Rafah, no Egito, após consecutivos adiamentos, suspensões temporárias e em meio a críticas a Israel por supostamente beneficiar cidadãos de países aliados.
O governo brasileiro foi autorizado a pousar no aeroporto de el-Arish, cidade egípcia a 53 quilômetros de Gaza e a nordeste da capital, Cairo. Assim que atravessarem a fronteira egípcia, o grupo vai embarcar em uma aeronave com destino ao Brasil.
A abertura da passagem de Rafah, na fronteira egípcia, iniciou na quarta-feira da semana passada, após acordo mediado pelo Catar, com negociações que envolvem o Egito, Hamas e Israel, em coordenação com os Estados Unidos.
O grupo do Brasil — formado por 18 crianças, 10 mulheres e 6 homens — saiu da cidade de Gaza no dia 14 de outubro, de ônibus, após o ultimato dado por Israel a todos os que estavam na região norte do país. Destes, 18 estão em Rafah e 16, em Khan Younis, ambas localizadas no sul de Gaza. Mais de mil brasileiros que estavam em Israel foram repatriados desde que o conflito estourou.
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As listas com os estrangeiros autorizados a deixar a Faixa de Gaza é elaborada por autoridades egípcias e israelenses.
1ª lista: cerca de 450 estrangeiros, mais 90 feridos;
2ª lista: 576 estrangeiros;
3ª lista: 571 estrangeiros;
4ª lista: 599 estrangeiros;
5ª lista: 605 estrangeiros;
6ª lista: 601 estrangeiros.
Quarta-feira (01/11) → 1ª lista
Autoridades autorizam a saída de cerca de 90 feridos e 450 estrangeiros, sendo o primeiro grupo que atravessou o posto, que já havia sido utilizado para o envio de ajuda humanitária. Sem brasileiros na lista inicial, os primeiros a deixarem o enclave pela fronteira egípcia foram cidadãos australianos, austríacos, búlgaros, finlandeses, indonésios, jordanianos, japoneses e tchecos, além de pessoas ligadas à Cruz Vermelha e a outras ONGs, e palestinos gravemente feridos.
Quinta-feira (02/11) → 2ª lista
Um total de 576 estrangeiros recebem autorização para fazer a travessia. O processo é pouco transparente e no qual, segundo fontes, Israel participa. Desse total, 400 são americanos. Brasileiros novamente não são contemplados.
Sexta-feira (03/11) → 3ª lista
Outros 571 civis com passaportes estrangeiros são autorizados a sair. Destes, 367 são cidadãos americanos e 127 são britânicos. Brasileiros não entram mais uma vez.
Neste dia, o ministro das Relações Exteriores do Brasil, Mauro Vieira, havia conversado com sua contraparte de Israel, Eli Cohen, que garantira que os brasileiros poderiam cruzar a passagem de Rafah em até cinco dias (isto é, dia 8 de novembro) — aumentando ainda mais as especulações diplomáticas em torno das listas. Um dos motivos seria uma retaliação de Israel ao governo brasileiro por suas posições em votações no Conselho de Segurança da ONU, que foi presidido pelo Brasil no mês de outubro.
Sábado (4/11) → 4ª lista e suspensão da passagem
No quarto dia consecutivo sem o grupo do Brasil na lista de autorizados a deixar o enclave, 599 estrangeiros saíram da Faixa de Gaza através da passagem de Rafah. Os cidadãos dos EUA — cujo secretário de Estado americano, Antony Blinken, visitara Israel naquele mesmo dia — foram, mais uma vez, a maioria do grupo, com 386 pessoas. Também foi liberada a saída de britânicos (112), franceses (51) e alemães (50).
Horas mais tarde, a fronteira seria temporariamente fechada, após forças israelenses atingirem um comboio de ambulâncias no dia anterior — deixando 15 mortos e 60 feridos.
Domingo (5/11) → Saídas suspensas
Neste dia, as saídas continuaram suspensas na passagem de Rafah. Ao Globo, o embaixador do Brasil no Egito, Paulino de Carvalho Neto, reconhecera a possibilidade de atrasos no resgate de brasileiros em Gaza — até então, previstos para ocorrer até a quarta-feira desta semana.
Segunda-feira (6/11) → Passagem reaberta
No dia seguinte, a passagem foi reaberta logo pela manhã, mas não foi divulgada uma lista oficial dos autorizados a deixar o enclave — embora estimativas apontem para a saída de cerca de 100 pessoas, a maioria de passaporte turco. Ao menos seis veículos que transportavam palestinos feridos cruzaram o posto, segundo uma autoridade egípcia disse à AFP.
Até aquele momento, mais de 1.100 pessoas com passaportes estrangeiros e gravemente feridas já haviam deixado o enclave pela fronteira com o Egito.
Terça-feira (7/11) → 5ª lista
Uma nova lista de 605 estrangeiros autorizados a sair é divulgada. Novamente, não inclui o Brasil. Segundo o embaixador do Brasil na Palestina, Alessandro Candeas, o grupo conta com 605 pessoas, incluindo nacionais de Alemanha (159), Canadá (80), França (61), Filipinas (46), Moldávia (51), Reino Unido (2), Romênia (104) e Ucrânia (102).
Até esse dia, cerca de 2,9 mil civis estrangeiros e/ou com dupla nacionalidade e feridos já haviam sido autorizados a deixar o enclave palestino.
Quarta-feira (8/11) → 6ª lista
O grupo do Brasil fica fora da lista mais uma vez, frustrando as expectativas que haviam sido dadas por Israel sobre uma saída até esse dia. A lista dos autorizados na ocasião era composta de 601 pessoas de seis países: Alemanha (75), Canadá (40), EUA (100), Filipinas (107), Romênia (51) e Ucrânia (228).
A demora fez com que o ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, trocasse mensagens, mais uma vez, com os chanceleres do Egito (Sameh Shoukry) e de Israel, cobrando explicações.
Quinta-feira (9/11) → Sem lista
Após uma suspensão temporária por "motivos de segurança", a passagem de Rafah foi reaberta, mas uma nova lista não foi divulgada neste dia. Somente os mencionados em listas anteriores puderam atravessar a fronteira.
Sexta-feira (10/11) → 7ª lista
Segundo o Itamaraty, o chanceler israelense garantiu que os brasileiros estarão na lista de estrangeiros e serão autorizados a deixar Gaza nesta sexta-feira.
Por que Rafah?
A cidade de Rafah fica no sul do enclave palestino, na fronteira com a Península do Sinai egípcia. A passagem está sob controle do Egito desde um acordo fechado com Israel, em 2007, quando o Hamas tomou o poder na Faixa de Gaza e expulsou o grupo palestino laico Fatah para a Cisjordânia, controlada pela Autoridade Nacional Palestina, reconhecida pela ONU como legítima liderança dos palestinos.
Nos 16 anos seguintes, Israel e Egito mantiveram um duro controle do que, e de quem, entra e sai do território dominado pelo grupo terrorista. Pelo acordo, a passagem de suprimentos para Gaza por Rafah precisa de autorização israelense.
A Faixa de Gaza tem apenas outras duas passagens para saída e entrada de pessoas e mercadorias. Uma é a de Erez, que fica ao norte e leva ao sul do território israelense, e foi atacada pelo Hamas na invasão do dia 7 de outubro. A outra passagem, de Kerem Shalom, serve apenas ao transporte de cargas e também está no sul de Gaza, na fronteira com Israel e perto do território egípcio.