Buscas suspensas por cão Wilson: membro da Guarda Indígena diz que animal foi levado como oferenda
Mãe do cachorro que ajudou a encontrar crianças sobreviventes de um acidente aéreo que ficaram perdidas na selva foi condecorada pelas Forças Armadas da Colômbia
Perdido na selva colombiana desde o resgate de quatro sobreviventes de um acidente aéreo, o cão Wilson foi deixado na mata como uma oferenda. Este é o entendimento de membro da Guarda Indígena Cauca que participou das buscas pelas crianças na floresta amazônica. Na quarta-feira (28), o comandante de operações especiais das Forças Armadas da Colômbia, general Pedro Sánchez Suárez, admitiu que considera "improvável" a localização do animal.
"Fizemos tudo ao nosso alcance. Não medimos esforços para encontrá-lo, mas sabemos que é praticamente improvável que consigamos encontrá-lo. Wilson será lembrado em nossos corações e na alma deste povo" disse o general.
Para Jesús Dagua, da Guarda Indígena Cauca, a dificuldade para encontrar o pastor belga tem uma explicação.
"Foi trocado. Ficou como oferenda para os espíritos que tinham as crianças" disse Dagua em entrevista à uma rádio local.
"Vamos torcer para que através de uma conversa espiritual ele consiga sair, os povos amazônicos já estão nisso porque é uma vida de qualquer jeito e a Guarda [Indígena Cauca] deve zelar pela vida de tudo e de todos. Então acreditamos que, se essa comunicação continuar, o cachorro Wilson com certeza vai sair, mas foi aquela troca, digamos espiritual, para os indígenas aparecerem" acrescentou Dagua.
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Condecoração
O presidente da Colômbia, Gustavo Petro, condecorou os membros das Forças Armadas e os indígenas que realizaram a Operação Esperanza ao longo de 40 dias, quando juntos resgataram quatro crianças que sobreviveram a um acidente de avião. Mas, além das pessoas, o mandatário homenageou a mãe do cachorro Wilson.
Este 20 de julio tenemos una cita con todas las familias colombianas para celebrar juntos el día de la independencia. Ponte #EnModoPatrio2023 y comparte con los militares y policías del país, el sentimiento que nos une bajo la misma bandera. pic.twitter.com/q1aUPY8VXl
— Fuerzas Militares de Colombia (@FuerzasMilCol) June 29, 2023
A cadela Drugia representou o filho perdido na cerimônia. Ela recebeu o prêmio no lugar de Wilson, que ajudou a localizar as crianças indígenas Lesly, de 13 anos; Soleiny, de 9; Tien Noriel, de 5; e Cristin, de um ano.
"Foi trocado. Ficou como oferenda para os espíritos que tinham as crianças" disse Dagua em entrevista à uma rádio local.
Biografia do cão
Wilson, o cão protagonista da operação de busca das quatro crianças que estavam desaparecidas na floresta amazônica colombiana, sumiu durante os trabalhos de resgate e agora provoca uma onda de comoção nas redes sociais. Desde filhote, ele viveu entre militares que o treinaram para o resgate de pessoas.
Em meados de maio, quando uma equipe militar encontrou o pequeno avião destruído junto aos corpos de três adultos, mas nenhuma das crianças que constavam como passageiros, teve início uma operação espetacular de busca para encontrar os irmãos indígenas da etnia huitoto.
Mais de 100 soldados e indígenas, acompanhados de cães farejadores, se embrenharam na mata da Amazônia colombiana, habitada por onças, cobras venenosas e outros predadores perigosos.
Wilson encontrou a mamadeira da bebê Cristín entre a vegetação, a quase quatro quilômetros do local do acidente. A equipe de busca também encontrou frutas mordidas, fraldas, abrigos improvisados, tesouras e pegadas, pistas que mantinham a esperança de encontrar as crianças com vida.
Porém, durante as buscas, "por causa da complexidade do terreno, da umidade e das condições climáticas adversas, [Wilson] teria se desorientado", informou o Exército em nota.
Em 8 de junho, um dia antes das crianças serem encontradas, o Exército informou que Wilson havia se perdido na floresta.
Após a euforia gerada pelo resgate dos menores, centenas de usuários inundaram as redes sociais com pedidos para que o cão não fosse esquecido e demonstrações de solidariedade.
Lesly e Soleiny, as irmãs mais velhas, fizeram um desenho em que há um cão em meio às árvores, ao lado de um rio, com o nome "Wilson" escrito, outro indício que alimenta a hipótese de que as crianças estiveram com o animal.
Astrid Cáceres, diretora do órgão estatal que zela pelos direitos das crianças, garantiu no sábado que os irmãos fizeram menções a um cachorro.
"[Lesley] nos contou [...] do cãozinho que se perdeu deles, que não sabem onde ficou e que os acompanhou por um momento" relatou a funcionária.