Butantan testa veneno de peixe brasileiro para tratar asma, com sucesso; entenda
Células inflamatórias são reduzidas em 60% com uso de molécula da espécie niquim
Escondido em recifes de coral ou na lama, o niquim libera um veneno que pode provocar graves acidentes em pescadores e banhistas. No entanto, uma pesquisa do Instituto Butantan, de São Paulo, indicou que as moléculas desse mesmo peixe podem ajudar no tratamento da asma.
O resultado foi obtido a partir da aplicação de um peptídeo (TnP), uma fração da molécula do veneno, em testes com modelos animais.
— É bastante interessante que o Brasil, um país com tantas águas, tenha peixes peçonhentos cuja molécula tem efeito anti-inflamatório. É uma espécie nossa, ela é brasileira — comemorou a cientista Mônica Lopes-Ferreira, autora do estudo.
De acordo com a pesquisa, o tratamento a partir do peptídeo extraído do veneno do peixe atenuou a remodelação das vias aéreas, um processo comum em pessoas asmáticas por contribuir com a obstrução do fluxo aéreo.
O estudo também avaliou a segurança do uso do TnP em humanos em relação a uma possível toxicidade. Os cientistas testaram a molécula no peixe paulistinha, o qual apresenta, segundo o instituto, 70% de semelhança genética com humanos. Não que houve registro de disfunções cardíacas nem problemas neurológicos causados pelo peptídeo.
Tratamento da asma
Para realização do estudo, foram comparados três grupos de animais com asma: um era tratado com TnP, outro com dexametasona, indicado para pessoas com doenças pulmonares e um terceiro que não recebia tratamento.
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Segundo a pesquisa, o peptídeo reduziu em mais de 60% o número de células causadoras de inflamação e de lesões pulmonares. No caso dos eosinófilos, agentes inflamatórios em cerca de metade dos pacientes com asma, o estudo afirmou que a redução foi de 100%.
— A asma é uma doença inflamatória, que afeta principalmente crianças. O número de pacientes asmáticos só aumenta. Originalmente, os medicamentos para a doença têm como função controlar a inflamação, mas esses medicamentos não controlam o remodelamento pulmonar, que gera a obstrução — destacou Carla Lima, também pesquisadora do Butantan e autora da pesquisa, sobre as vantagens obtidas a partir do estudo.
Em boletim divulgado em maio deste ano, a Organização Mundial da Saúde (OMS) afirmou que a doença respiratória afeta 262 milhões de pessoas no planeta, além de causar a morte de outras 455 mil por ano —a maioria em países de média e baixa renda, com pouco acesso a diagnóstico e tratamento.