Caminhada dos Terreiros de Pernambuco celebra sua 15ª edição e prega o combate ao racismo
Tradicional cortejo saiu pelas ruas do Recife nesta quarta-feira (3)
A tradicional Caminhada dos Terreiros de Pernambuco, que reúne religiões de matriz africana, chegou, nesta quarta-feira (3), a sua 15ª edição. Sob o tema “Sou uma, mas não sou só”, o cortejo teve concentração no Marco Zero do Recife, às 14h, de onde saiu em direção às ruas do centro da capital pernambucana.
Um dos conselheiros e organizadores do evento, Pai Tarcísio de Ogìyán destacou que o movimento surge como um instrumento de combate ao preconceito e ao racismo.
“Para que esse processo de intolerância religiosa, de racismo institucional, racismo de um modo geral, o preconceito de um modo geral, que possa ser erradicado o quanto antes. Ainda é algo utópico, mas só de saber que a gente faz parte de um processo construtivo que para que, se eu não alcançar, meus descendentes alcançarem, já é de suma importância”, comentou.
“A gente está aqui em representação ao luto de todos os outros, em representação aos nossos ancestrais que partiram, e em gratidão ao Orixá por termos podido estar aqui’, acrescentou.
A caminhada homenageou personalidades que contribuem para a dignidade da pessoa humana e para o respeito à diversidade de credo religioso. Entre os agraciados estavam o músico Cannibal, líder da banda pernambucana de punk rock Devotos, e a vereadora Dani Portela.
“Para mim é algo muito grande, muito forte, eu sinto que estou representando toda uma comunidade. Estou representando um lugar que é o Alto José do Pinho, um lugar que sempre teve uma riqueza muito grande e cultural. E estar aqui representando ele para mim é uma felicidade muito grande porque umas das coisas que a gente mais luta é para ter justamente essa representatividade em Pernambuco, onde a multiculturalidade é muito grande. Então, o rock, o punk rock, també música de cultura negra, também é música de cultura africana”, comentou o artista.
A vereadora Dani Portela também destacou a importância do evento para o combate ao racismo.”Eesse é um ato muito importante, você abrir o novembro negro, abrir o Mês da Cosciência Negra com uma caminhada de terreiro num momento em que a gente precisa debater sobre racismo. O racismo estrutura todas as desigualdades no Brasil, sejam elas de classe, sejam elas de gênero, elas são intercaladas pela questão da raça, da cor”, frisou.
O jovem Miltinho de Padilha, de 26 anos, também foi homenageado durante o cortejo. “É muito emocionante, eu estou até sem palavras, porque, por ser um jovem de terreiro, ter esse reconhecimento dos irmãos, e estou aqui representando todos os terreiros de Goiana”, disse. “Então, isso para mim é muito importante e gratificante. Só tenho a agradecer primeiramente a Deus e aos meus ancestrais”, continuou.
Por volta das 16h, celebrantes religiosos deram início a caminhada, que contou com trio elétrico e reuniu centenas de pessoas. Durante o cortejo, os organizadores incentivaram a adoção de medidas de segurança devido à pandemia, como o uso de máscaras durante o trajeto.
Como explica o Pai Tarcísio de Ogìyán, a caminhada reflete este ano, também, o processo de luto daqueles que perderam um ente para a Covid-19. “Nós abordamos o contexto da pandemia, que levou tantos dos nossos, e do mundo inteiro, e que ao mesmo tempo que a gente tem esse pesar, que é um momento de tanta dor, a gente também tem a gratidão por estarmos vivos e podendo representar os nosso também, aqueles que se tornaram ancestrais, que foram divinizados”, disse.
O fisioterapeuta Fernando Oliveira, de 27 anos, destacou a relevância do evento para as religiões de matriz africana. “É um momento muito importante na história do candomblé de Pernambuco, nessa caminhada que movimenta os candomblés de Pernambuco, que une os candomblé de Pernambuco numa só causa por um só motivo que é o combate à intolerância religiosa e para manter a nossa resistência. Muito emocionante, um momento onde hoje, pela primeira vez depois de tudo isso que nós passamos, o mundo todo, nós podemos estar hoje nas ruas afirmando o nosso credo, a nossa fé, não forçando ninguém a aceitar, mas sim a respeitar”, disse.
Débora Evelyn, vendedora - Foto: Paullo Allmeida/Folha de Pernambuco
A vendedora Débora Evelyn, 31, veio de Caruaru, no Agreste do Estado, para acompanhar a caminhada. “É um momento de resistência, de a gente mostrar que o povo negro reiste, persiste e nunca vai desistir. Eu costumo participar sempre, é um momento de resistência. É muito importante ver os irmãos e irmãs de todas as nações, de todas crenças, de nações diferentes, tudo unido em uma só causa, a resistência do nosso povo”, frisou.