Campanha presidencial termina na Venezuela com tensão e pressão internacional
Maduro tenta projetar uma imagem de força em suas apresentações
O presidente venezuelano, Nicolás Maduro, e o seu principal rival nas eleições presidenciais de domingo, o opositor Edmundo González Urrutia, encerram nesta quinta-feira (25) as suas campanhas, entre advertências do presidente sobre um "banho de sangue" ou uma insurreição militar caso seja derrotado.
Maduro, de 61 anos, pretende "tomar" Caracas "de ponta a ponta", com uma marcha que começará pela manhã em bairros importantes da capital e terminará na emblemática Avenida Bolívar, no centro. Antes, está previsto um evento na petrolífera Maracaibo (oeste), duramente atingida pela crise.
González Urrutia também dará o toque final à sua campanha com um comício em Las Mercedes, bairro rico do sudeste de Caracas.
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O diplomata de 74 anos estará acompanhado, como de costume, da ex-deputada María Corina Machado, que originalmente era candidata da aliança da oposição Plataforma Unitária, mas a sua candidatura foi vetada devido a uma inabilitação administrativa.
"Eles podem ter os recursos do Estado, podem ter o controle do CNE (autoridade eleitoral), podem ter o Ministério Público que aplaude os seus abusos, mas nós temos o amor, o apoio e o entusiasmo da grande maioria dos venezuelanos que querem a mudança em paz", disse González Urrutia em entrevista coletiva com correspondentes estrangeiros nesta quinta-feira.
Maduro, que se orgulha de ter chegado a mais de 250 cidades durante seu percurso eleitoral, tenta projetar uma imagem de força em suas apresentações.
São acompanhadas por uma avalanche de propaganda na mídia tradicional como TV, rádio e redes sociais, em que se apresenta como um "gallo pinto", do tipo usado em brigas de galos, e chama de González Urrutia de "fraco".
"Aqui o único presidente que garante a paz e a tranquilidade chama-se Nicolás Maduro Moros, filho de (Hugo) Chávez", disse o governante de esquerda na quarta-feira, apelando ao seu status de "herdeiro" do falecido líder socialista, em sua busca por um terceiro mandato que o projetaria para 18 anos no poder.
Outros oito candidatos minoritários participam da eleição.
"Chá de camomila"
As advertências de Maduro sobre "um banho de sangue" no caso de uma vitória da oposição suscitaram preocupação internacional.
O presidente do Chile, Gabriel Boric, pediu nesta quinta-feira eleições "transparentes, competitivas e sujeitas à observação internacional".
"Concordo e apoio as declarações de Lula de que aqui não podemos ameaçar nenhum ponto de vista com banhos de sangue, o que os líderes e candidatos recebem são banhos de votos", disse o presidente em entrevista coletiva com o chanceler Alberto van Klaveren.
"Fiquei assustado com a declaração do Maduro dizendo que se ele perder as eleições vai ter um banho de sangue. Quem perde as eleições toma um banho de voto, não de sangue", afirmou o presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
"O Maduro tem que aprender, quando você ganha, você fica, quando você perde, você vai embora. Vai embora e se prepara para disputar outra eleição", declarou Lula durante coletiva de imprensa com agências internacionais em Brasília.
"Quem se assustou que tome um chá de camomila", respondeu Maduro, embora sem mencionar Lula.
O ex-presidente argentino Alberto Fernández foi convidado como observador pela autoridade eleitoral, mas disse na rede social X que depois de fazer declarações semelhantes às de Lula, nas quais pediu a Maduro que respeitasse os resultados, o governo da Venezuela lhe pediu que "não viajasse".
A reeleição de Maduro em 2018 não foi reconhecida por Estados Unidos, União Europeia e vários governos latino-americanos, incluindo os da Argentina e do Brasil, após denúncias de fraude por parte da oposição.
Maduro agora acusa a oposição de planejar ignorar os resultados para lançar atos de violência.
O candidato à reeleição também disse que as Forças Armadas, que afirma serem leais a ele, poderiam insurgir contra um possível governo de oposição.
"A vantagem que temos é histórica", disse González. "Isso deixa claro que vamos vencer e vamos cobrar (a vitória), e confiamos que as nossas Forças Armadas respeitarão a vontade do nosso povo" nas urnas.
O ministro da Defesa, Vladimir Padrino, negou na quarta-feira, ao descrever o destacamento de segurança para vigiar o processo eleitoral, que os militares serão um "árbitro" das eleições e afirmou que garantirão "a todo custo" a manutenção da ordem.