Opinião

Campos de instrução militar e o meio ambiente

A proteção ao meio ambiente tornou-se assunto do dia a dia na sociedade. Não sem razão, pois, em última instância, é tratar da sobrevivência do planeta. É tratar de antecipar às futuras gerações um habitat condizente com as necessidades do ser humano.

Compreendendo o desafio, o Exército brasileiro vem atuando de forma agressiva para dar voz ao tema junto às suas organizações e aos seus recursos humanos.

Recentemente, a Instituição foi envolvida em uma polêmica na qual o projeto de construção da Escola de Sargentos das Armas (ESA), supostamente, contrariaria normas ambientais e, por isso, deveria ser abandonado.

Desalinhada da argumentação baseada em fatos, no fundo, o objetivo maior da peleja não está enlaçado com tão relevante matéria.

Na realidade, ela visa a desgastar a imagem da Força Terrestre que busca afastar-se das contendas políticas nas quais se envolveu em anos pretéritos.

Alegam os críticos que a construção da organização militar de ensino, nas cercanias de Aldeia, Araçoiaba, Abreu e Lima, Igarassu e municípios lindeiros, impactaria o ecossistema da Região Metropolitana do Recife.

Fui tenente em Bayeux-PB, servindo no Regimento de Cavalaria naquela cidade, logo no início da década de 1980.

Pela proximidade, fazíamos exercícios de adestramento de pequenas frações no Campo de Instrução Marechal Newton Cavalcanti (CIMNC), localizado na área sob apreciação.

A mata que cobria a região já era densa. A caça e a pesca foram terminantemente proibidas. O rigor com a disciplina de limpeza dos bivaques e acampamentos era ponto forte aos comandantes de pelotão. 

Lá, animais silvestres encontravam refúgio e áreas foram replantadas com espécimes originárias da região, fortalecendo o bioma da Mata Atlântica.

Havia uma unidade, comandada por um coronel “full”, que tinha responsabilidade exclusiva por manter a segurança do perímetro.

Não obstante e desde então, as diretrizes foram melhoradas, estão em constante aperfeiçoamento e se alinham à política da Força Terrestre orientada para inquestionável preocupação com a preservação do meio ambiente.

Fotografias satelitais obtidas recentemente, quando comparadas às retiradas naquela época, mostram o adensamento de mata dentro do perímetro sob responsabilidade do Exército.

Por outro lado, infelizmente, também mostram o aumento de vazios na cobertura vegetal ao redor e fora do CIMNC.

O progresso e o imperativo da sobrevivência são perenes fatores de fricção entre os defensores das posturas ambientalistas e os desenvolvimentistas.

Ambos têm suas razões e precisam encontrar pontos que possam unir o dissenso e o consenso. 

Como exemplo, vê-se, agora, o embate entre o Ministério do Meio Ambiente, assessorado por seu órgão fiscalizador, o Ibama, e a Petrobras, na disputa para perfuração de um poço de petróleo a 500 quilômetros da foz do Rio Amazonas. 

Quem tem razão? 

A depender do ponto de vista do cidadão, suas idiossincrasias e influências sociais, responderemos: os dois.

O desmatamento, as agressões às formas de vida, a ocupação desordenada do território, a falta de regularização fundiária, a ausência de serviços públicos essenciais e a ocorrência de ilícitos transnacionais são exemplos de obstáculos que devem ser ultrapassados por uma sociedade brasileira que realmente se preocupa com o meio ambiente.

No caso em questão, embora os exercícios desencadeados nos campos de instrução do Exército sejam possíveis riscos ao sistema ambiental, verificou-se que, exatamente nessas áreas, ocorre um processo de recuperação e de conservação dos ecossistemas. 

Protegidos que são pelas normas estabelecidas pela Força Terrestre, há campos de instrução na selva, no cerrado, no pantanal, na caatinga, no pampa e em nenhum deles ofende-se o meio ambiente em nome da preparação para o combate. 

Certamente é o caso da futura ESA. O complexo se constituirá em fonte de orgulho a nós pernambucanos. Formará os sargentos do Exército brasileiro e se rivalizará com as instalações mais modernas dos mais modernos exércitos do mundo. 

No projeto, já aprovado, prevê-se manejo florestal, reaproveitamento das águas, adaptação ao mercado de carbono, edificações modernas compatíveis com as melhores práticas da preservação diária das instalações.

O combatente brasileiro moderno está preocupado com a guerra do futuro. Estuda-a com profundidade e compreende que na assimetria do campo de batalha físico ou informacional, uma das suas maiores responsabilidades estará vinculada à preservação do meio ambiente.

No processo de aperfeiçoamento e construção do futuro, as diretrizes do comandante da Força Terrestre para o quadriênio 2023-2026 determinam pontualmente atenção de todos os subordinados para o cuidado com o meio ambiente, dos mais jovens soldados aos mais experientes generais. 

Não resta nenhuma dúvida, portanto, quanto ao comprometimento da instituição com a causa.


*General de Divisão da reserva


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