CRISE DIPLOMÁTICA

Canadá e China entram em nova crise com expulsão de diplomatas

As relações entre as duas nações enfrentam um período complicado desde 2018

Canadá e China entram em nova crise com expulsão de diplomatasCanadá e China entram em nova crise com expulsão de diplomatas - Foto: Hector Retamal/AFP

A China decidiu, nesta terça-feira (9), expulsar a cônsul do Canadá em Xangai, uma represália pela mesma medida ordenada por Ottawa contra um diplomata chinês acusado de tentar intimidar um deputado canadense, o que provocou uma nova crise entre os dois países.

As relações entre as duas nações passam por um período complicado desde 2018, após a detenção de uma executiva do grupo de tecnologia chinês Huawei no Canadá e a prisão de dois canadenses na China como represália.

Os três detidos foram liberados, mas as tensões continuaram. A China critica o alinhamento do Canadá à política dos Estados Unidos para Pequim, enquanto as autoridades canadenses acusam a China, regularmente, de interferência.

O primeiro-ministro canadense, Justin Trudeau, disse nesta terça-feira que seu país não será intimidado pela China.

"Decidimos que tínhamos que enviar uma mensagem muito clara: não aceitaremos interferência estrangeira e, sejam quais forem as decisões que tomarem a seguir, não seremos intimidados", disse Trudeau.

O premiê considerou a expulsão de Zhao Wei, diplomata chinês residente em Toronto, uma demonstração de "firmeza" de Ottawa e frisou: "Sabemos que haverá represálias, mas vamos continuar fazendo o que for necessário para proteger nossos cidadãos canadenses da interferência estrangeira e do medo".

A nova crise começou na semana passada, depois que o jornal The Globe and Mail informou que o deputado conservador canadense Michael Chong e sua família, que vive em Hong Kong, sofreram supostas pressões da China.

O jornal destacou que Chong está no alvo dos serviços de Inteligência chineses por ter apoiado uma moção para declarar as ações de Pequim na região de Xinjiang como um genocídio contra os uigures, uma minoria de origem turcomena e em grande parte muçulmana.

"Espero que isto deixe claro, não apenas para a República Popular da China, mas também para outros Estados autoritários com representação no Canadá, que é completamente inaceitável em solo canadense cruzar a linha vermelha entre a diplomacia e e interferência estrangeira e as ações de ameaça", disse Chong após o anúncio de Ottawa.

Nesta terça, o Ministério das Relações Exteriores da China classificou a cônsul canadense Jennifer Lynn Lalonde como "persona non grata" e destacou que a "China se reserva o direito de reagir com mais força".

O ministério detalhou que foi solicitado a Lalonde que deixasse a China antes do dia 13 de maio.

"A China condena de modo veemente a decisão do Canadá de expulsar um diplomata chinês em Toronto", anunciou a diplomacia de Pequim.

'Provocações injustificáveis'

O porta-voz da diplomacia chinesa, Wang Wenbin, pediu ao Canadá o fim das "provocações injustificáveis" e alertou que Pequim adotará "medidas firmes e enérgicas", caso Ottawa não escute o conselho.

Os pedidos de comentários da AFP ao Ministério das Relações Exteriores do Canadá, à embaixada em Pequim e ao consulado em Xangai não foram respondidos.

"Não vamos tolerar nenhuma forma de ingerência estrangeira em nossos assuntos internos", afirmou a ministra das Relações Exteriores do Canadá, Mélanie Joly, em um comunicado, após o anúncio da expulsão de Zhao Wei na segunda-feira.

De acordo com uma fonte próxima ao tema, o diplomata chinês será expulso do Canadá nos próximos cinco dias.

A China, por sua vez, reagiu imediatamente e acusou o Canadá de querer "sabotar" uma relação bilateral que registra anos de tensão — apesar de Pequim ser o segundo maior parceiro comercial de Ottawa.

Na sexta-feira passada, ao comentar as informações sobre supostas intimidações contra Chong, o governo da China criticou o que chamou de "calúnias e difamações infundadas" por parte do Canadá, depois que Ottawa havia convocado o embaixador chinês um dia antes para pedir explicações.

O Ministério das Relações Exteriores da China considerou que o escândalo foi "exagerado por alguns políticos e pela imprensa canadense".

Trudeau está sendo cada vez mais pressionado a adotar uma linha dura com a China, que foi acusada de várias tentativas de interferência em questões internas do país, o que Pequim nega.

A China é acusada de ter tentado interferir nas eleições canadenses de 2019 e 2021. Em uma série de artigos publicados pela imprensa canadense, é mencionado, em particular, o financiamento secreto e a participação na campanha de certos candidatos.

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