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Saúde

Conheça o câncer de mama, o que mais mata mulheres no Brasil e acomete 1% dos homens

Segundo o Instituto Nacional do Câncer (Inca), 66.280 mulheres serão acometidas anualmente pela doença até o fim de 2022

Os homens representam 1% do total de casos de câncer de mama no BrasilOs homens representam 1% do total de casos de câncer de mama no Brasil - Foto: Reprodução/Internet

“É um baque. A gente pensa que é uma sentença de morte, mas não é. É um diagnóstico, e a gente tem que seguir a vida, se tratar para chegar na cura”. Esse é o relato do empresário Daniel Lira, de 35 anos, diagnosticado com câncer de mama aos 32 anos.

Daniel descobriu a doença após realizar a cirurgia plástica de ginecomastia, procedimento que corrige o excedente da mama masculina. Ele contou que tinha, desde os 14 anos, a mama esquerda maior que a direita, e que achava que se tratava apenas de um distúrbio hormonal.

“Eu tenho quatro tias paternas que tiveram câncer de mama e desconfiaram. Elas me levaram para fazer a minha primeira mamografia aos 15 anos. Na época, o exame não deu nada. Então, eu segui a vida normal na adolescência e fase adulta”, contou.

Em 2017, aos 30 anos, Daniel, acima do peso e com uma vida sedentária, decidiu fazer a cirurgia plástica. “Como estava muito visível quando botava uma camisa, eu resolvi fazer essa cirurgia. Procurei um médico e ele informou que eu tinha que perder mais de 20 quilos, mas eu não estava disposto a fazer isso (perder peso) naquele momento”, afirmou Daniel, informando que tempos depois iniciou o processo de emagrecimento por conta própria e voltou a buscar o mesmo médico de hospital particular, em 2019, para realizar o procedimento cirúrgico.

“O médico me pediu para fazer os exames de ultrassonografia e mamografia, que não mostraram nada. Então, fiz a cirurgia”.
 

Daniel Lira foi diagnosticado com o câncer de mama em 2019. Foto: Comunicação/HCP

O empresário contou que o procedimento foi realizado com sucesso e que, em seguida, todo o material retirado na cirurgia passou por biópsia para ser analisado.

“Quando peguei o resultado da biópsia, acusou o câncer de mama. Mostrei ao médico, ele ficou surpreso e disse que agora eu tinha que cuidar. Ele me indicou procurar um mastologista para seguir com o tratamento e eu fui para o Hospital de Câncer de Pernambuco”.

“O meu câncer foi raro. O mais comum é o invasivo e o meu foi insito. Os médicos não acreditavam no resultado da biópsia e pediram que eu pegasse as lâminas para fazer uma nova análise no HCP. Eles fizeram e tiveram uma contraprova e era o mesmo câncer”.


No HCP, o empresário fez outras mamografias para verificar se toda a glândula mamária havia sido retirada durante o procedimento cirúrgico para que não houvesse resíduos do tumor e nem o risco de uma futura metástase. Foi averiguado, então, que todo o material havia sido retirado. 

Após o processo de investigação, Daniel iniciou a fase de tratamento. Ele realizou cerca de 30 sessões de radioterapia, além de exames de rotina a cada quatro meses e faz uso de medicamento quimio-oral desde então.

“É uma pílula hormonal que eu tenho que tomar durante cinco anos. Vai fazer dois anos que eu tomo. Ainda tenho mais três anos pela frente. A minha família me apoiou bastante, foi primordial. Chegaram junto, iam para as consultas comigo. Graças a Deus, agora é só história contada”.

Mas não foram somente o medicamento e os exames que passaram a fazer parte da rotina de Daniel. Ele também adotou a prática de exercícios físicos diários, com corridas de rua e hábitos alimentares saudáveis.

“O recado que eu deixo é que os homens não tenham vergonha. Qualquer anomalia no seu corpo, como dores no seio, procure um médico. A maioria sente dor e acha que é normal, mas não é. Se chegar num estado avançado, é mais difícil de curar”, alertou.

Doença é a que mais mata mulheres no mundo
De acordo com a médica mastologista do Hospital de Câncer de Pernambuco, Carolina Vasconcelos, o câncer de mama é um tumor formado pelo crescimento desordenado de células anormais na mama, com a formação de um ou mais nódulos, podendo ter o potencial de invadir outros órgãos.

“É o tipo de tumor mais comum entre as mulheres no mundo e também no Brasil (não considerando os casos de câncer de pele não melanoma). A doença também acomete homens com mais raridade, representando apenas 1% do total de casos da doença. Justamente por ser raro, não existe recomendação para fazer a mamografia de rotina nos homens, exceto se houver alguma queixa na mama, o que pode atrasar o diagnostico e tratamento”, afirmou Carolina.

Os dados apresentados pela médica especialista são do Instituto Nacional do Câncer (Inca). A entidade estima, em seu último levantamento, realizado em 2020, que 66.280 mulheres serão acometidos anualmente pela doença até o fim de 2022. Esse valor corresponde a um risco estimado de 61,61 casos novos a cada 100 mil mulheres.

O câncer de mama também é o que mais mata o público feminino, com 18.068 óbitos em 2019. Não há dados mais precisos sobre o acometimento da doença em homens.

Fator de risco da doença
Segundo o Inca, a idade é um dos fatores de risco mais importantes para a doença, já que cerca de quatro a cada cinco casos da doença ocorrem após os 50 anos. 

“Fatores ambientais como tabagismo, obesidade, alcoolismo, sedentarismo e exposição frequente a radiações ionizantes para tratamento, como radioterapia, também aumentam o risco da doença”, afirmou a médica Carolina Vasconcelos.

Ainda de acordo com a profissional, fatores reprodutivos e hormonais, como o início da menstruação em idade muito jovem ou a menopausa tardia, além do uso de hormônios ou de anticoncepcionais orais por tempo prolongado, não ter tido filhos e ou ter a primeira gravidez após os 30 anos, também são considerados fatores de risco para o câncer de mama.

Fator genético
De acordo com o Inca, somente 5 a 10% dos casos de câncer de mama são de origem hereditária, ou seja, causada por alguma mutação genética que pode ser herdada de parentes de primeiro grau.

“Pessoas que apresentem casos de câncer de mama na família em idade jovem, muitos casos de câncer de mama ou ovários, câncer de mama bilateral e câncer de mama no sexo masculino têm um risco aumentado de desenvolver a doença”, informou Carolina.

Como identificar
A doença é assintomática na fase inicial, de acordo com a especialista, sendo diagnosticada por exames de rotina. O câncer de mama também pode ser apresentado a partir do aparecimento de nódulos, geralmente indolor.

“Outros sintomas, como pele da mama avermelhada, retraída ou parecida com casca de laranja, dor ou inversão no bico do peito, pequenos nódulos nas axilas ou no pescoço e saída espontânea de líquido anormal pelos mamilos devem ser investigados por um médico para que seja avaliado o risco de se tratar de câncer”, afirmou a especialista do HCP.

Exames precoces para diagnóstico
Após a alteração suspeita de nódulos endurecidos, dor, retrações de pele e mamilo, identificados por meio do autoexame de toque, o diagnóstico de câncer de mama tanto para homens quanto para mulheres deve ser feito por mamografia, informou a mastologista Carolina Vasconcelos.

De acordo com a médica radiologista Taciana Novais, o diagnóstico precoce do câncer desempenha um papel importante na redução da mortalidade e na melhora do prognóstico da doença, e que a busca por exames de rotina é sempre o melhor caminho na identificação da doença.

“No caso do câncer de mama, são realizadas mamografias de rotina em mulheres a partir dos 40 anos, e a ultrassonografia como exame complementar ou diagnóstico nos pacientes cuja mamografia tem sensibilidade limitada”.

Taciana informou também que, apesar de bastante divulgado pela sociedade médica e pelos veículos de comunicação, muitas pessoas ainda temem a busca pelos exames. 

“O medo é natural, pois o câncer é uma doença que pode ser bastante agressiva, porém, se descoberta precocemente, pode proporcionar a cura ou a melhora do prognóstico do paciente. Atualmente, existem exames de imagem de rotina para detecção e os procedimentos de punção e biópsia, que são bastante seguros e necessários para a definição do tipo tumoral e tratamento adequado”.

A médica radiologista reforçou também a necessidade de acompanhamento da doença para aqueles que foram diagnosticados com o câncer. “A radiologia é importante para o seguimento dos pacientes, com o objetivo de detectar achados suspeitos de recidiva tumoral”.

A Sociedade Brasileira de Mastologia recomenda a realização da mamografia a partir dos 40 anos e de forma anual.

Tratamento
De acordo com a mastologista Carolina Vasconcelos, o tratamento do câncer de mama segue os mesmos princípios para homens e mulheres e vai depender da fase em que a doença se encontra e do tipo biológico do tumor.

“Dependendo do estadiamento, o tratamento pode incluir cirurgia, quimioterapia, radioterapia, hormonioterapia, imunoterapia e terapia biológica. Quando a doença é diagnosticada no início, o tratamento pode chegar a 95% de cura com tratamentos menos invasivos. No caso de a doença já possuir metástases para outros órgãos, o tratamento busca melhorar a qualidade de vida. Na presença de nódulos nas mamas ou alterações no mamilo, recomenda-se uma consulta com um mastologista”.

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