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Candidato de Evo abre mais de 80% de vantagem entre bolivianos no Brasil

Entre os eleitores de São Paulo, cidade com o maior número de imigrantes bolivianos no Brasil, a vantagem era ainda maior: 88%

Evo MoralesEvo Morales - Foto: Ronaldo Schemidt / AFP

O cenário repetiu o das últimas eleições: o candidato do MAS (Movimento ao Socialismo), partido do ex-presidente Evo Morales à Presidência da Bolívia, conquistou uma ampla vantagem -maior que a média geral- durante a apuração dos votos dos bolivianos que vivem no Brasil.

Até a publicação desta reportagem, com 56% das urnas da votação brasileira apuradas, Luis Arce tinha 85% dos votos. Em segundo lugar, bem distante, vinha Carlos Mesa, da Comunidade Cidadã (CC), com 8%, seguido por Luis Fernando Camacho, do Creemos, com 3,9%.

Entre os eleitores de São Paulo, cidade com o maior número de imigrantes bolivianos no Brasil, a vantagem era ainda maior: 88%.

No mesmo momento, às 18h15, a apuração geral mostrava Arce com 40,3% e Mesa, com 38,5%, com 30% das urnas apuradas. Pesquisa de boca de urna mostrou o candidato do MAS com 52,4% e Mesa com 31,5%, o que fez com que seu principal adversário admitisse sua vitória.

Na Argentina, que tem o maior número de imigrantes bolivianos no mundo, a vantagem de Arce também passava dos 88%.

O MAS tradicionalmente tem grande apoio entre a comunidade boliviana no Brasil: na eleição de 2019, anulada após acusações de fraude, Evo venceu no país com 70% dos votos.

Neste ano, 38.400 bolivianos residentes no Brasil estavam habilitados a votar –não foi divulgado ainda o número dos que efetivamente foram às urnas. Estima-se que haja em torno de 350 mil a 400 mil imigrantes dessa nacionalidade no Brasil.

Neste ano, foram nove locais de votação só na capital paulista, fora outros na região metropolitana, como Guarulhos, Carapicuíba, Mauá e Itaquaquecetuba. São José do Rio Preto, Brasília, Rio de Janeiro, Cáceres (MT), Guajará-Mirim (RO), Corumbá (MS) e Epitaciolândia (AC) também tiveram pontos de voto.

O processo de planejamento da eleição no Brasil foi conturbado. No mês passado, o vazamento de um documento diplomático que sugeria que as eleições poderiam não ser realizadas no país por causa da pandemia de coronavírus irritou imigrantes, que foram às ruas protestar.

O prazo curto para organizar a votação -os representantes locais do OEP (órgão eleitoral plurinacional) só foram contratados no fim de setembro- também foi alvo de críticas de alguns grupos de esquerda, que consideram que houve desorganização e desinformação propositais, já que o governo interino do país é de oposição ao MAS.

"Havia interesse de que residentes no exterior não participassem das eleições, porque nosso voto pode fazer a diferença na realização ou não de um segundo turno", afirma Jobana Moya, integrante do Comitê Brasileiro de Solidariedade com o Povo Boliviano e contra o Golpe. "No Chile só houve votação em Santiago, e não em outras cidades. Na Argentina também houve problemas em algumas regiões, mas a comunidade se mobilizou e conseguiu reverter."

Outra queixa é o número de votantes inabilitados, que seriam mais de 4.000 no Brasil, a falta de explicação sobre os motivos e de tempo para recorrer. Ela diz que a defensoria pública da Bolívia está apurando denúncias sobre o tema.

Jobana, que acompanhou a votação como delegada, diz também que alguns recintos foram alterados sem divulgação suficiente e que muita gente foi pega de surpresa indo votar no lugar errado.

Ela não questiona, porém, o resultado. "Ainda estou preocupada porque foi gestado um golpe e não acho que vão entregar tudo de mão beijada. Mas estou feliz [com a vitória de Arce] e espero que transição seja tranquila", afirmou.

Massiel Paniagua, representante do OEP em São Paulo, diz que o tempo foi realmente curto para organizar tudo, mas que a lista de recintos de votação foi concluída três dias antes do prazo e que imediatamente iniciou-se o processo de divulgação para a imprensa e nas redes sociais. "A gente se esforçou muito para garantir ao cidadão boliviano o direito de voto no Brasil", afirma.

A votação é feita em cédulas de papel, que, depois de contadas pelos mesários, são enviadas à embaixada, que as encaminha à Bolívia. Antes disso, os mesários fazem uma contagem dos votos e os registram em um sistema informatizado do OEP.

Por causa da pandemia, houve algumas mudanças no processo, seguindo um protocolo de biossegurança enviado pela Bolívia: o horário final de votação foi estendido das 16h para as 17h, os eleitores foram divididos em turnos da manhã ou da tarde para votar e só três mesários podiam ficar sentados no mesmo ambiente, em vez dos seis habituais.

Mesmo assim, houve filas. "Teve controle de temperatura na porta, álcool em gel, então o processo foi mais lento. Mas isso foi mais no começo do dia, depois ficou mais tranquilo. No geral funcionou bem", avalia Massiel.

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