ARGENTINA

Candidatos se enfrentam com foco na economia em debate presidencial na Argentina

Até o momento, a maior parte das pesquisas de opinião mostra o ultradireitista Milei liderando a disputa, com o ministro Massa logo atrás e Bullrich em terceiro por uma margem estreita de diferença

Candidatos à Presidência da Argentina se enfrentaram no primeiro debate neste domingo, 1º de outubroCandidatos à Presidência da Argentina se enfrentaram no primeiro debate neste domingo, 1º de outubro - Foto: AFP

Os candidatos à Presidência da Argentina participaram do seu primeiro debate televisionado na noite deste domingo, no qual a economia foi o tema central das discussões. Uma das maiores preocupações dos argentinos nos últimos anos de crise, a inflação foi uma das palavras mais mencionadas pelos presidenciáveis.

A quatro semanas do primeiro turno das eleições, em 22 de outubro, estiveram presentes Sergio Massa, atual ministro da Economia e representante do governo; Javier Milei, outsider da extrema direita que venceu as primárias (Paso) em agosto; a ex-ministra Patricia Bullrich, nome da direita tradicional e apadrinhada do ex-presidente Mauricio Macri; Juan Schiaretti, governador da província de Córdoba; e Myriam Bregman, deputada que é candidata da Frente de Esquerda e dos Trabalhadores.

Para analistas ouvidos pelo jornal argentino Clarín que acompanharam a transmissão, uma visão é unânime: é pouco provável que o debate mude substancialmente as intenções de voto dos argentinos.

Até o momento, a maior parte das pesquisas de opinião mostra Milei liderando a disputa, com Massa logo atrás e Bullrich em seguida por uma margem estreita de diferença. A sondagem mais recente, porém, divulgada no sábado pelo instituto Atlas Intel, apontou o governista na frente com 30% das intenções de votos, dando alento à campanha governista.

No primeiro bloco, em que os candidatos se apresentaram e o tema da discussão foi economia, Massa e Milei gastaram todos os seus cinco direitos de resposta, polarizando entre si. Mas, apesar da visão ortodoxa do representante da extrema direita, foi o governista o principal alvo dos adversários, que enfatizaram os números desanimadores que tem sido colhidos pela pasta sob o seu comando há mais de um ano. Para os especialistas ouvidos pelo Clarín, Massa conseguiu escapar à sua maneira.

Antes de propor medidas como o "lançamento da moeda digital argentina", Massa disse:

—Tenho certeza de que a inflação é um problema enorme e que os erros do governo prejudicaram as pessoas. Por eles, embora eu não tenha participado até me tornar ministro da Economia, peço desculpas — disse, prometendo que, caso seja eleito, procuraria "aumentar as penalidades nas leis criminais, cambiais e tributárias".
 

Para analistas, Milei não aproveitou como poderia as discussões econômicas, que deveriam ser seu ponto forte como economista liberal. Ele aproveitou a ocasião para defender novamente a dolarização, embora não tenha explicado como a poria em prática. Bregman, por outro lado, destacou as contradições de Massa em relação ao FMI. Milei aproveitou para dar novas estocadas:

— A Argentina começou o século XX como o país mais rico do mundo, hoje estamos no meio do pelotão. Isso pode ser explicado pelo modelo de castas, que se baseia na infeliz premissa de que onde há uma necessidade, há um direito — disse Milei. — Propomos reformar o Estado, reduzir drasticamente os gastos públicos, cortar impostos, privatizar para nos livrarmos das empresas estatais prejudiciais, abrir a economia e fechar o Banco Central.

Bullrich fez um discurso hesitante quando a economia era o tópico principal do debate, onde teve que enfrentar perguntas tanto de Massa quanto de Milei. Ela criticou a proposta de fechar o Banco Central dizendo que isso transformaria a Argentina em um "paraíso fiscal". No entanto, ela se saiu melhor ao tratar do tema na qual tem mais experiência: segurança pública, pasta da qual foi ministra. Tal estratégia foi observada por analistas também nos demais candidatos, em que todos pareciam falar para o seu próprio nicho.

No segundo bloco, o tema foi educação. Contudo, o esgotamento dos pedidos de resposta de Milei e Massa fez com que o debate precisasse ser acelerado. Massa enfatizou que havia enviado um orçamento que aumentava a porcentagem do PIB destinada à educação de 6% para 8%. Bullrich reprovou o kirchnerismo pelas "escolas fechadas" e propôs declarar a educação como um "serviço essencial". Schiaretti afirmou que deseja replicar o modelo educacional de Córdoba e destacou a baixa taxa de evasão escolar em sua província. Bregman destacou a "luta" dos professores e propôs "que os funcionários políticos sejam pagos como professores". Milei afirmou sua proposta de "implementar o capital humano". E observou:

— A assistência servil de dar peixe a eles acabou. Vamos ensiná-los a pescar e, se possível, a ter uma empresa de pesca.

O terceiro tema foi direitos humanos, e gerou vários confrontos. Para começar, Bullrich se defendeu de seu ativismo político na década de 1970 a fim de neutralizar possíveis ataques.

— Eles me chamam de violenta. Mas eu não sou. Eu fazia parte de uma organização de jovens [Montoneros]. E sempre disse isso. Digo isso aqui, diante de milhões de argentinos. A mesma coisa aconteceu com outros líderes, como [o sul-africano Nelson] Mandela e [o uruguaio José] Mujica, que eram líderes de seus países — disse Bullrich.

Milei, por sua vez, contestou os números de mortos e desaparecidos na ditadura, estimado pelas organizações de direitos humanos em cerca de 30 mil.

— Os liberais temos sido acusados de coisas aberrantes, de "fachos", fascistas, nazis, coisas que não têm nada a ver conosco. Valorizamos a visão de memória, verdade e justiça. Comecemos pela verdade. Não foram 30 mil desaparecidos, são 8.753. Estamos contra de uma visão torta da História. Para nós, durante os anos 70 houve uma guerra e ali as forças de Estado cometeram excessos — disse ele.

Já Massa fez menção a cuidar da democracia sem reabrir as feridas da década de 1970.

— Em 10 de novembro, vou convocar um governo de unidade nacional — disse.

Massa procurou deixar Milei desconfortável com suas críticas ao Papa Francisco, o que levou a uma resposta um tanto confusa do libertário.

— Você está mal informado. Eu já havia me desculpado por isso. Deixe-me falar e ser respeitoso. Eu disse que se o Papa quisesse vir à Argentina, ele seria respeitado. Pare de fazer intriga e dedique-se a reduzir a inflação e a terminar seu governo de forma decente — respondeu Milei.

Pesquisas feitas antes do primeiro debate deste domingo apontaram que até 40% dos eleitores poderiam mudar o voto até o primeiro turno, em 22 de outubro. O interesse foi percebido no debate: a transmissão ao vivo teve picos de 40 pontos de audiência na TV aberta e a cabo. Cabe agora saber quantos efetivamente mudarão sua visão. (Com La Nación).

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