Carnaval 2025: Capiba, Almir Rouche, Dona Nira e Mestra Ana Lúcia são os homenageados de Pernambuco
Anúncio foi feito em encontro cultural no Palácio do Campo das Princesas. Viúva de Capiba esteve presente
O compositor Capiba (1904-1997), o cantor Almir Rouche, a costureira do Maracatu Estrela de Ouro de Aliança, Dona Nira, e a líder do Pastoril Estrela de Belém e do Acorda Povo, Mestra Ana Lúcia, são os homenageados do Governo de Pernambuco no Carnaval 2025.
O anúncio foi feito em encontro cultural no Palácio do Campo das Princesas, no bairro de Santo Antônio, área central do Recife, na noite dessa quarta-feira (19).
Os reverenciados receberam das mãos da governadora de Pernambuco, Raquel Lyra, e da vice, Priscila Krause, troféus em reconhecimento às contribuições para as tradições culturais do Estado. Também esteve no evento para receber a homenagem a viúva de Capiba, Dona Zezita Barbosa.
Segundo o governo, cada um dos homenageados representa uma das mais emblemáticas expressões da cultura de Pernambuco.
Capiba, que é um dos maiores compositores do gênero, simboliza o frevo. Almir Rouche, por sua vez, é um embaixador do ritmo.
A tradição do maracatu foi representada por Dona Nira. Já a Mestra Ana Lúcia é reconhecida por sua contribuição ao pastoril e ao coco, além de ser Patrimônio Vivo do Estado.
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"Pernambuco respira cultura e é ela que nos faz diferente de qualquer outro lugar do mundo. Estamos aqui levantando o nome de quem leva o nosso Estado para todos os cantos desse país. Para nós, é uma honra poder trabalhar junto com essas personalidades, estamos nos bastidores abrindo os palcos para que eles possam estar neles nos enchendo de orgulho. É muito bom ver que as tradições seguem de geração em geração e elas estão aqui firmes defendendo o seu legado", destacou Raquel Lyra.
Dona Zezita Barbosa, viúva de Capiba, disse estar emocionada com a homenagem. "Sempre lembrarei deste dia inesquecível", comentou.
Já Almir Rouche afirmou se tratar de um dia emocionante. "Depois de 38 anos de carreira, passa um filme na cabeça. Eu não escolhi a música, ela que me escolheu", externou.
Dona Nira citou a homenagem como reconhecimento de uma trajetória marcada por anos de dedicação. "São muitos anos trabalhando com o maracatu. Estou me sentindo muito realizada por esse momento que eu nunca esperei viver", declarou.
A Mestra Ana Lúcia agradeceu a honraria recebida. "Eu trabalho há 69 anos carregando essa bandeira. Sem essa cultura, eu não posso viver", disse.
A secretária de Cultura do Estado, Cacau de Paula, disse que a escolha dos homenageados reforça a força da cultura popular.
"Sabemos que escolher apenas quatro nomes é uma missão difícil, pois são muitas as pessoas que poderiam estar aqui hoje representando a nossa rica tradição cultural. Esta seleção reflete de maneira fiel a importância de locais e trajetórias fundamentais para a história do nosso Carnava", enfatizou.
Em 2024, o Governo de Pernambuco elegeu como homenageados Alceu Valença, Lia de Itamaracá e Claudionor Germano.
Capiba (in memoriam)
Lourenço da Fonseca Barbosa, o Capiba, nasceu em 1904, em Surubim, e faleceu em 1997. Com uma vida inteira dedicada à música, Capiba deixou um legado de mais de 200 composições e é considerado um dos maiores compositores de frevo do Brasil.
A história de Capiba com a música teve início ainda na infância, pois seu pai, Severino Atanásio de Souza Barbosa, era maestro da banda municipal de Surubim. Aos 8 anos, tocava trompa e, aos 10, começava a compor e tocava vários instrumentos.
Entre 13 e 14 anos já se apresentava com a Banda Bacurau em Campina Grande, na Paraíba. Na mesma cidade, aos 16, começou a trabalhar como pianista do Cine Fox. Já aos 20 anos, editou sua primeira música, a valsa instrumental “Meu Destino”.
Aos 27 anos, em 1931, fundou a Jazz Banda Acadêmica. Em 1934, Capiba compôs o primeiro frevo-canção, “É de Amargar”, um tributo ao seu irmão Sebastião que faleceu aos 39 anos. A composição venceu o concurso do Diario de Pernambuco naquele ano e marcou o início da carreira de Capiba como compositor de músicas de Carnaval.
Além do frevo, estão entre as melodias de Capiba valsas e serestas. Além de músico, era formado em Direito pela Faculdade de Direito do Recife e apaixonado por futebol, tendo jogado como atacante, quando jovem, em times em Campina Grande e no Recife.
Almir Rouche
Cantor e compositor, Almir Cavalcanti de Lima tem 38 anos de carreira disseminando o frevo e a cultura do Nordeste ao redor do Brasil e do mundo. Autor ou coautor de centenas de composições, entre elas “Galo eu te amo”, “Deusa de Itamaracá” e “A vida inteira te amar”, Almir Rouche é considerado um dos melhores intérpretes da atualidade.
Nascido em Igarassu, na Região Metropolitana do Recife, Almir começou seu contato com a música ainda na infância. Quando criança, morou por alguns anos em São Paulo onde participou de dois festivais locais, ganhando o primeiro lugar com melodias de Roberto Leal. Aos 17 anos, já de volta ao Recife, começou a se apresentar nos tradicionais bailes carnavalescos pernambucanos e iniciou oficialmente a carreira artística na Turma do Pinguim. Entre as décadas de 1980 e 1990, foi o início de Almir nos trios elétricos, sem o ano de 1987 sua estreia puxando um trio no Galo da Madrugada.
Além do frevo, seu repertório tem uma mistura própria e personificada de ritmos pernambucanos como coco, ciranda e maracatu. Almir já esteve à frente das bandas Turma do Pinguim e Almir Rouche e Banda Humm e desde 2022 segue em carreira solo. Ao longo da carreira, são 27 CDs e 07 DVDs gravados.
Dona Nira
Com décadas dedicadas aos folguedos populares, Maria Janira da Silva, a Dona Nira, de 88 anos, é referência entre as mulheres brincantes. O começo de sua vivência foi no Engenho Cumbe, em Nazaré da Mata, no entanto foi sua passagem pelo Maracatu Estrela de Ouro de Aliança que consolidou sua história como brincante tendo se tornado, por quase 15 anos consecutivos, uma das mais importantes baianas da agremiação.
Grande amiga do Mestre Batista, fundador do Estrela de Ouro em 1951, Dona Nira foi a baiana de frente e costureira do grupo. Artesã de mão cheia, anualmente, um mês antes do Carnaval, mudava-se com sua máquina de costura para Chã do Camará, na casa de Batista e sede do Maracatu. O objetivo: confeccionar as roupas das baianas, dos valetes, da rainha e do rei. Depois da costura, tornava-se a dona da Calunga e conduzia as demais baianas.
Com a idade avançada, deixou de dançar Maracatu, mas ainda segue dedicada aos festejos. Produz cachos de flores usados pelas baianas de vários maracatus da região e borda golas para os caboclos e todos os anos faz questão de ir à sede para acompanhar o toque do Maracatu Estrela de Ouro.
Mestra Ana Lúcia
Patrimônio Vivo de Pernambuco, Ana Lúcia Nunes da Silva, mais conhecida como Mestra Ana Lúcia, tem 80 anos de idade e várias décadas de contribuição para a cultura popular pernambucana. Uma das primeiras a receber a titulação de Notório Saber em Cultura Popular pela Universidade de Pernambuco, em parceria com a Secretaria de Cultura do Estado, Mestra Ana Lúcia é coquista de roda e líder do pastoril Estrela de Belém e do Acorda Povo, procissão dançante que anuncia a chegada do ciclo junino.
Mestra Ana Lúcia foi discípula de Dona Jovelina, importante personagem na história do coco em Pernambuco. Já em casa, sua grande referência foi o pai Severino Nunes, que costumava trabalhar cantando as melodias do coco trazidas de Nazaré da Mata, sua terra Natal. Além disso, ela cresceu rodeada de mestras e mestres da cultura popular do bairro de Amaro Branco, em Olinda, onde assumiu o Coco do Amaro Branco e depois fundou o Raízes do Coco.