SAÚDE

Carne de serpente é consumida como alternativa para dieta rica em proteínas na Tailândia

Fazendas de criação de pítons se espalha por países asiáticas

Cobra australiana Cobra australiana  - Foto: Stephen Mahony / Australian Museum

Em uma criação no centro da Tailândia, milhares de pítons se amontoam enroladas em contêineres, erguendo-se e golpeando o vidro quando pessoas passam por perto.

Os criadores vendem sua pele robusta e com padrões de diamantes para grandes casas de moda europeias, mas alguns cientistas e atores da indústria consideram que o verdadeiro valor desses répteis pode estar em sua carne.

A demanda por carne cresce globalmente apesar da pegada de carbono associada ao gado tradicional. E, embora muitos apontem as dietas vegetarianas como a melhor alternativa, alguns especialistas consideram que os répteis não têm sido suficientemente considerados.

 

As serpentes podem tolerar altas temperaturas e seca, se reproduzem rapidamente e crescem mais rapidamente que outras fontes de proteína animal, consumindo menos alimento.

Os pesquisadores estimam que só na China e no Vietnã há pelo menos 4 mil fazendas de pítons, que produzem vários milhões de serpentes, na maioria para a indústria da moda.

"A criação de pítons pode oferecer uma resposta flexível e eficiente para a insegurança alimentar global", concluiu um estudo publicado este ano na revista Nature.

Seus autores passaram um ano estudando quase 5 mil pítons reticuladas e birmanesas em duas fazendas comerciais no Vietnã e na Tailândia.

"Elas podem sobreviver meses sem comida nem água e não perdem a forma", afirmou Patrick Aust, diretor do Instituto Africano de Herpetologia Aplicada e um dos autores.

Além disso, sua alimentação, que se baseava em restos de frango e roedores caçados na natureza, gerava melhor rendimento econômico do que a fornecida a aves de corral, gado bovino ou até grilos.

Também se reproduzem mais rápido, assegura Aust, que aponta que as pítons fêmeas põem entre 50 e 100 ovos a cada ano.

'Não há mercado'
Isso é música celestial para Emilio Malucchi, um italiano instalado há mais de quatro décadas na Tailândia, onde administra uma fazenda com 9.000 pítons.

No entanto, a maioria de sua carne é descartada ou vendida a preços baixos para pisciculturas.

"É um completo desperdício", lamenta o homem desde sua fazenda em Uttaradit, no centro da Tailândia. "Não há um mercado para a carne de píton", acrescenta.

Embora ele mesmo não hesite em comer suas serpentes, admite que deve "educar as pessoas sobre as possibilidades que esse réptil oferece".

As pítons selvagens são consumidas há muito tempo no sudeste asiático, mas sua carne, com uma textura semelhante à do frango e baixa em gordura saturada, ainda não atrai interesse internacional.

O impacto climático da pecuária está amplamente documentado. Os especialistas em mudança climática da ONU disseram que a carne de gado, especialmente bovino, é "o alimento com maior impacto no meio ambiente".

Mas enquanto a ONU e ativistas ecológicos defendem uma dieta mais vegetal, a OCDE estima que a demanda por carne terá crescido 14% em 2032 devido ao aumento demográfico em regiões de baixa renda e à melhoria dos padrões de vida nos países asiáticos.

Ao mesmo tempo, a seca e os fenômenos meteorológicos extremos tornam cada vez mais difícil a pecuária em partes do mundo onde a necessidade de proteína é urgente.

Em 2021, segundo um estudo do Global Burden of Disease, a desnutrição proteico-energética causou 190.000 mortes no mundo.

Assada, ensopada ou frita
Essa paradoxa incentiva a busca por alternativas à carne, desde insetos comestíveis até carne fabricada em laboratório, todas ainda em um estado muito embrionário.

Os criadores de pítons também enfrentam obstáculos como padrões de processamento de carne muito rigorosos que, dentro da indústria, são considerados antiquados.

Patrick Aust mantém sua confiança no "enorme potencial" dessa carne. "Você pode grelhá-la ou comê-la com curry ou em ensopados. Eu gosto de fritá-la na manteiga de alho até ficar crocante", assegura.

As organizações de defesa dos animais estão menos entusiasmadas. Este ano, o grupo PETA acusou a fazenda de Malucchi de crueldade após gravar secretamente serpentes sendo abatidas com martelos antes de terem a pele retirada.

O empresário italiano colocou enormes cartazes nas paredes ensinando como matar pítons "humanamente" e assegura que sua indústria não é diferente de outras.

"Animais de fazenda são mortos no mundo todo", afirma. "As pítons não são diferentes".

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