Logo Folha de Pernambuco
EUA

Casa Branca instrui militares a desenvolver planos para "reaver' o Canal do Panamá

Opções vão desde uma parceria mais estreita com as forças panamenhas até uma menos provável de tropas americanas tomarem o canal à força

Navio entra no Canal do Panamá, pelo lado do Oceano PacíficoNavio entra no Canal do Panamá, pelo lado do Oceano Pacífico - Foto: Martin Bernetti / AFP

A Casa Branca ordenou que as Forças Armadas dos Estados Unidos avaliem opções para aumentar a presença militar no Panamá, com o objetivo de "reaver" o Canal do Panamá, segundo disseram fontes oficiais à rede americana NBC News, em anonimato.

Na semana passada, durante um discurso perante o Congresso americano, o presidente Donald Trump voltou a declarar tal intenção de recuperar o canal, como já havia mencionado até mesmo antes de tomar posse para seu segundo mandato.

Segundo as fontes, o Comando Sul dos EUA estuda desde uma cooperação ampliada com as Forças Armadas panamenhas, até a possibilidade menos provável de tomar o canal à força, a depender do "nível de colaboração" do Panamá com Washington.

O almirante Alvin Holsey, comandante do Comando Sul dos EUA, já teria apresentado, segundo as fontes, um rascunho de estratégias ao secretário de Defesa Pete Hegseth, que deve visitar o Panamá no próximo mês.

As autoridades também afirmam que uma invasão dos EUA ao Panamá é improvável e só seria considerada caso o aumento da presença militar não alcançasse o objetivo de Trump de recuperar o canal.

Segundo a NBC, citando outra fonte anônima, os EUA mantêm mais de 200 tropas no Panamá, embora esse número possa variar.

Parte dessas tropas inclui as Forças Especiais, que colaboram com militares panamenhos para conter ameaças internas e insurgências.

Os EUA também discutem reabrir as chamadas Escolas de Selva no Panamá, semelhantes às usadas antes da entrega do canal em 1999, diz a reportagem.

O planejamento ainda considera posicionar tropas próximas ao Panamá para responder a ameaças regionais ou proteger o canal em caso de um conflito.

Presença chinesa
Mesmo antes de tomar posse, Trump criou um incidente diplomático com o país centro-americano ao afirmar que o Canal do Panamá era um "bem nacional vital" e que estava sendo explorado pela China. Panamá e China, entretanto, negam interferência estrangeira, e Pequim acusa Washington de pressionar o país para bloquear projetos chineses.

Em visita ao país no mês passado, o secretário de Estado Marco Rubio disse ao presidente panamenho José Raúl Mulino que a presença chinesa no país era inaceitável e que "medidas" seriam tomadas caso "mudanças imediatas" não fossem feitas.

Por sua vez, Mulino respondeu que seu país administra o canal de forma independente e negou qualquer concessão de sua operação à China.

Porém, desde então, Mulino também buscou apaziguar os ânimos, tomando medidas drásticas contra as rotas migratórias, como a Iniciativa Cinturão e Rota chinesa.

A iniciativa prevê o financiamento chinês para projetos de infraestrutura para impulsionar o comércio e a conectividade na Ásia, Europa, África e América Latina. Mais de 100 países integram o acordo, um dos pilares da diplomacia do governo de Xi Jinping, lançado em 2013.

A autoridade chinesa, em resposta, disse que esperava que o país resistisse à "interferência externa".

O governo americano, por sua vez, classificou a medida como um "grande passo" para fortalecer as relações com Washington.

No entanto, o líder americano decidiu ir além — e, inesperadamente, passou a exigir a única coisa que o líder do pequeno país não pode ceder: o controle do Canal do Panamá.

Os Estados Unidos concordaram em construir a via marítima em 1903, quando assinaram um tratado garantindo a independência do Panamá da Colômbia em troca de direitos permanentes para operar a hidrovia.

Na metade do século XX, porém, o controle dos EUA tornou-se fonte de tensão regional, o que levou o presidente Jimmy Carter (1977-1981) a assinar, em 1977, um acordo para devolver o canal em 1999.

Esse acordo contribuiu para o desenvolvimento do Panamá e ajudou o país a se tornar um estável oásis financeiro em uma região turbulenta. Em 2024, o canal gerou quase US$ 5 bilhões, o equivalente a cerca de 4% do PIB do país.

Trump, contudo, sempre considerou a decisão de Carter um erro. Além da redução das taxas de passagem para as embarcações americanas, Trump teme a influência chinesa sobre o canal, por onde passa 75% da carga que tem como origem ou destino os EUA.

Isso complica a posição de Mulino, que havia se comprometido a manter laços estreitos tanto com Washington quanto com Pequim — uma postura comum na região, mas que se torna cada vez mais insustentável com Trump no poder.

A recusa do ex-presidente em descartar o uso da força militar também pode despertar um sentimento patriótico no Panamá, onde os EUA têm um histórico de intervenções: apoiaram um regime militar durante a Guerra Fria antes de invadir o país em 1989.

— Se ceder demais aos Estados Unidos, arrisca enfrentar protestos nacionalistas — disse Orlando Pérez, professor de ciência política da Universidade do Norte do Texas em Dallas, que estuda o Panamá há três décadas.

— Se irritar os EUA, coloca em risco o aliado mais importante do país. É um caminho estreito.

Veja também

Newsletter