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RIO DE JANEIRO

Caso do brigadeirão: Saiba quem é o empresário encontrado morto no Rio de Janeiro

Filho único, Luiz Marcelo Ormond foi descrito por familiares como alguém solitário após a morte dos pais, no início do ano

Empresário teria sido envenenado por namoradaEmpresário teria sido envenenado por namorada - Foto: Reprodução

O empresário Luiz Marcelo Antônio Ormond, de 44 anos, foi encontrado morto em seu próprio apartamento no Engenho Novo, na Zona Norte do Rio, no fim de maio. Foi visto pela última vez no dia 17 daquele mês, no elevador do prédio, acompanhado da namorada, a psicóloga Júlia Andrade Cathermol Pimenta, de 29, e segurando um prato onde estaria um brigadeirão envenenado. A mulher, principal suspeita, chegou a prestar depoimento, ficou foragida por uma semana e se entregou no fim da noite desta terça-feria na 25ª DP (Engenho Novo), que investiga o caso.

Segundo parentes, Marcelinho, como era carinhosamente chamado, era um homem simples e de poucos amigos. Bruno Luiz Ormond, primo da vítima, contou ao Globo que o empresário chegou a comentar que Júlia estaria combinando de fazer "sua sobremesa favorita".

De acordo com a investigação policial, Luiz Marcelo morreu após comer o brigadeirão, que teria sido envenenado pela parceira com compridos moídos de um forte analgésico com morfina. Na segunda-feira, representantes da farmácia, que fica na Zona Norte da cidade, estiveram na delegacia e confirmaram a compra de uma caixa do medicamento, por R$ 158, com apresentação de receita, segundo narraram.

 

Relacionamento com Júlia
Dias antes de desaparecer, o empresário contou a pessoas próximas que "estava feliz com seu novo relacionamento" com a principal suspeita de assassiná-lo.

Em áudio enviado dias antes do crime, Luiz Marcelo falou com uma amiga sobre sua relação com Júlia e deixou claro que a namorada o pressionava por uma oficialização do relacionamento, mas que ele não pretendia acelerar esse processo. Na mensagem, o empresário reflete sobre sua condição de um homem solitário, sem filhos e sem pais vivos:

“Eu também tenho que ter uma companhia, né? Eu, se eu morrer amanhã, as minhas coisas ficam todas pro Estado; Eu não tenho ninguém pra deixar minhas coisas”, disse em trecho.

Júlia e Luiz Marcelo viviam uma relação esporádica há pelo menos 10 anos, tornada mais estável desde abril deste ano, quando a convidou para morar com ele, em seu apartamento. A mulher aparece ao lado dele, no elevador, no último dia 17, quando foi visto pela última vez com vida. Em um momento eles se beijam, enquanto o empresário segura o prato onde estaria o brigadeirão envenenado.

As versões de como o casal se conheceu são conflitantes. Para alguns amigos, Marcelo contou que foi por meio de redes sociais; para outros, que viu Júlia pela primeira após bater de carro, acrescentando que ela o ajudou.

Uma das testemunhas ouvidas pela polícia, que conhecia Luiz Marcelo desde a adolescência, disse aos policiais que se preocupou quando o empresário falou das “intenções de levar Júlia para morar com ele” e afirmou que o alertou de que a namorada “não era a pessoa certa, devido ao fato de se relacionar com outra pessoa ao mesmo tempo, ter relações escusas com agiotagem e nunca estar presente quando Luiz Marcelo mais precisou”, referindo-se ao enterro da mãe dele, um ano antes.

Conta conjunta
Júlia afirmou, em depoimento à polícia, que teria convencido Luiz Marcelo a abrir uma conta conjunta no banco por uma questão de "segurança" dela. Ela diz que estava em processos de se casar com o empresário, e que foi com ele a um cartório, no Méier, na Zona Norte do Rio, no início de maio.

No mesmo dia que foram ao cartório, segundo Júlia, o casal foi ao banco abrir a conta, em que ela seria segunda titular de uma conta já existente do namorado.

"(...) É uma segurança para mim. Poxa, vamos lá, né? A gente precisa ter uma conta conjunta. Qualquer coisa você deixa um dinheiro lá e eu uso. Vai que acontece alguma coisa? Vai que tem uma emergência? Aí eu fico sem nada", disse a psicóloga à polícia.

Em entrevista ao Globo, um primo de Luiz Marcelo disse que, com a morte dos pais, o empresário herdou, além do apartamento no Engenho Novo, mais dois imóveis: um no Méier, na Zona Norte, e o outro na Ilha de Paquetá.

— Ela fez isso por dinheiro. Por pouco dinheiro. Ele não era um homem rico. Ela estava tentando fazer união estável com Marcelo. Júlia dizia que queria ajudá-lo a fazer investimentos com o dinheiro dele. Por isso, decidiram abrir uma conta conjunta — disse Bruno Luiz Ormond.

Relembre caso
O corpo do empresário Luiz Marcelo Antonio Ormond foi encontrado no dia 20 de maio, em seu apartamento. Ele não era visto pelos vizinhos, desde o dia 17, que desconfiaram e chamaram socorro. O cadáver já estava em estágio avançado de decomposição, mas uma marca que indicava um possível golpe na cabeça fez os agentes investigarem como morte suspeita.

 

Segundo a Polícia Civil, ao decorrer do inquérito “os agentes apuraram que a namorada de Luiz Marcelo esteve no apartamento enquanto ele já estava morto e agiu com ajuda de sua comparsa, que trabalharia como cigana”.

A suposta comparsa, Suyany Breschak, confessou ter ajudado a dar fim aos pertences da vítima e revelou que boa parte de seus ganhos vinha dos pagamentos de uma dívida de Júlia. Em depoimento à polícia, a cigana informou que a mulher teria colocado 50 comprimidos em um brigadeirão “envenenado”.

'Cigana' ouvida sobre morte
O delegado Marcos Buss, titular da 25ªDP (Engenho Novo) disse que há indícios de que Suyany Breschak, presa por suspeita de participar do assassinato do empresário Luiz Marcelo, tinha conhecimento “antes, durante e depois” da execução do crime. Segundo o delegado, a mulher, que se apresenta como “cigana”, é uma “espécie de mentora espiritual” de Júlia.

À polícia, Suyany contou que Júlia é uma cliente antiga, a quem fazia trabalhos de limpeza, descarrego e banhos. A “cigana” aguardava o pagamento de uma dívida de R$ 600 mil de Júlia, que já havia quitado R$ 200 mil. O delegado afirmou que Suyany foi a destinatária de todos os bens furtados e roubados de Luiz Marcelo, que incluem um carro avaliado em R$ 75 mil, entregue por Júlia à suposta cigana após o crime.

O advogado que defende Suyany, Etevaldo Tedeschi, afirmou que a cliente acredita que o carro foi um presente de Luiz Marcelo a Júlia.

— Se ela (Suyany) soubesse que o carro não era um presente, jamais o teria aceitado como parte do pagamento.

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