JUSTIÇA

Caso Flordelis: veja pontos do depoimento de cada testemunha nos primeiros dias do julgamento

Nesta quinta-feira (10), mais testemunhas vão ser ouvidas. Até o momento, dez pessoas prestaram depoimento no fórum

Flordelis dos SantosFlordelis dos Santos - Foto: Fernando Frazão / Agência Brasil

O julgamento da pastora Flordelis dos Santos de Souza — e de três filhos e de uma neta — entra no quarto dia. Nesta quinta-feira (10), mais testemunhas vão ser ouvidas. A ex-deputada é acusada de ser mandante da morte do marido, o pastor Anderson do Carmo, em 16 de junho de 2019, na garagem da casa da família em Pendotiba, Niterói.

Até o momento, dez pessoas prestaram depoimento no fórum. Os três primeiros dias foram marcados por como era a vida em família — que entre filhos biológicos, adotivos e afetivos, somam 55 —, que incluíram a relação de Flordelis e Anderson, da pastora com os filhos e a divisão por grupos, o que um policial civil definiu como "facção”.

Além de Flordelis, estão no banco dos réus neste julgamento os filhos Simone dos Santos Rodrigues, André Luiz Oliveira e Marzy Teixeira, além de uma neta, Rayane dos Santos.

Delegada Bárbara Lomba
Primeira a ser ouvida, a policial narrou aos promotores como ocorreram as investigações do caso e detalhou as descobertas da investigação sobre as relações dentro da casa. Bárbara, que conduziu a primeira investigação do caso, afirmou que o relacionamento entre Anderson e Flordelis era aberto e não se tratava de um casamento “tradicional”.



Ela acrescentou que, em relação a alguns integrantes da família, não havia relação de pai e mãe com Anderson e Flordelis. Bárbara também negou que a pastora tenha relatado à polícia que fora vítima de abusos sexuais ou violência física cometidos por Anderson. Segundo a delegada, no período em que esteve à frente da Delegacia de Homicídios, a ex-deputada foi ouvida pelos investigadores duas vezes.

— (O relacionamento) Era aberto. As coisas eram abertas lá dentro. Havia um casamento e eles, como pastores, se comportavam como num casamento tradicional. Não estou dizendo isso para julgar. Mas é que isso foi importante para a investigação. A gente desmonta algo que era construído de uma outra forma. Era passado como se fosse de outra forma. Não havia um amor de pai e mãe. Pessoas já tinham tido relações com Flordelis, com Anderson — disse a delegada, em depoimento que durou cerca de cinco horas.

Delegado Allan Duarte Lacerda
O policial foi o segundo a conduzir as investigações do caso. Ele também detalhou sua atuação no inquérito e foi questionado pela defesa de Marzy sobre a conclusão da polícia de que a mesma estava acordada no momento da morte de Anderson. Os advogados apresentaram dados do celular da acusada, contestando essa informação.

Em seu relatório final de investigação, Duarte alegou que Marzy estava acordada porque um aplicativo de saúde de seu telefone constatou que a filha afetiva de Flordelis estava se movimentando por volta das 3h. O crime ocorreu cerca de 30 minutos depois. Marzy é acusada de ter sido a responsável por avisar para o irmão Flávio, que confessou ter atirado em Anderson, da chegada do casal na residência da família. De acordo com os dados do telefone apresentados pela defesa, ela se movimentou à 0h07 do dia 16, data do crime, e depois, novamente, apenas às 7h40.

Regiane Rabello
Os advogados de Flordelis também solicitaram que ela não prestasse depoimento, uma vez que a ex-deputada está processando a testemunha em razão de entrevistas dadas sobre o caso. O pedido foi negado pela juíza Nearis dos Santos Carvalho Arce. Em seu depoimento, Regiane afirmou que sofria intimidações por parte de integrantes da família de Flordelis.

Policial civil Tiago Vaz
No segundo dia de julgamento, na terça-feira, o agente, que faz parte da equipe do delegado Allan Duarte, disse que a casa da pastora era dividida em "facções". Flordelis está no banco dos réus com três filhos pela morte de Anderson, e outros três já foram julgados e condenados pelo homicídio. Segundo Vaz, havia divisões. Na família, parte tinha privilégios em casa, e outra não. O policial disse que mesmo os filhos que ficaram contra a ex-deputada após a morte do pastor, seis participando como testemunha de acusação, também tinham vantagens, como Wagner Andrade Pimenta, o Misael, que prestou depoimento no mesmo dia.

— Dinâmica complicada. Aos poucos, foi aparecendo. Uma família rachada, que tinha privilégios para um grupo e outros não. Eram facções. Uma facção ajudou no cometimento do crime, outra ficou insatisfeita. Então uma facção denunciou a existência desse conluio — disse o policial.

Alexsander Felipe Matos Mendes, filho afetivo
O primeiro dos seis filhos a serem testemunhas no julgamento que ficaram contra Flordelis, e o primeiro a prestar depoimento por videoconferÊncia mesmo estando presente no fórum, Alexsander falou da relação da família em casa e de como Anderson era visto por parte do grupo, de figura central do núcleo familiar a gerar descontentamento pelos gastos. O filho afetivo disse que, antes de se casar com Flordelis, Anderson era um dos filhos de consideração da ex-deputada.

Alexsander afirmou que o choro da pastora “não era verdadeiro” e disse ter tomado conhecimento de que a mãe tinha trocado de roupa três vezes durante o velório do pastor. Ele ainda relatou ter presenciado, na casa da família, o momento no qual Flordelis falou para a neta Rayane, batendo em seu ombro, para que ela não chorasse. “A gente agora vai ter mais pra gente, vamos sair juntas”, teria dito a ex-deputada.

Wagner Andrade Pimenta, filho afetivo
Misael, nome recebido por Wagner quando ele foi morar na casa de Flordelis, aos 12 anos, foi o terceiro a prestar depoimento no terça-feira e falou sobre a relação no ambiente familiar. Ele contou sobre a história que a pastora apresentava sobre ele, em que afirmava que Misael teria sido salvo da vida crime por intervenção dela, o qual nega que seria verdade.

Misael contou ainda que um outro filho alertou para que quando ele tivesse em casa não deveria tomar sucos ou comer a comida de Anderson pois a “mãe” estava tentando matar o “Niel”, apelido carinhoso que o pastor tinha. Ele ainda narrou que Anderson recebeu uma ameça de morte em seu computador no gabinete da Câmara de Deputados, em Brasília.

— Uma das filhas tomou um suco que estava reservado para o Anderson e passou mal três dias seguidos. No dia da eleição em 2018, outro filho também passou mal, tendo muitos vômitos. Minha mãe (Flordelis) falava que ele (Anderson) não gosta de tomar remédio e tinha que dissolver no suco dele. Mas até então, para mim, ela passava ser medicamento de ansiedade. Quando ela não fazia, pedia a Nelinha (cozinheira da casa) e a Marzzy — revelou Misael.

Luana Vedovi Rangel, nora de Flordelis
O terceiro dia de julgamento, nesta quarta-feira, começou com o depoimento de Luana, esposa de Misael. Ela contou como descobriu um plano dentro da casa para matar Anderson, definindo-o como um episódio digno de "Os Trapalhões". De acordo com as investigações, o texto do plano para matar Anderson foi escrito por Flordelis e enviado pela filha afetiva Marzy Teixeira, para Lucas Cézar dos Santos de Souza, filho adotivo da ex-deputada. Luana contou que Marzy relatou a ela que o texto foi escrito por Flordelis deitada em sua cama.

— Um dia, deitada na cama, Flordelis escreveu no Ipad (do pastor Anderson do Carmo) e disse para mandar para o Lucas. Mandou a mensagem para o Lucas e por algum motivo não apagou. Parece os Trapalhões, na verdade. Por algum motivo, não apagaram a mensagem do Ipad dele e ficou em tudo que é lugar. No celular, Ipad, e-mail. E ele viu.

Luana afirma que, quando soube da mensagem, antes da conversa com Marzy, logo desconfiou de Flordelis, uma vez que a ex-deputada “profetizava” que Anderson morreria, mas não teve coragem de falar para a vítima de sua suspeita.

Daniel dos Santos de Souza, filho afetivo
Filho afetivo de Flordelis e Anderson, Daniel depôs por videoconferência. Ele sempre foi apresentado como filho biológico de Flordelis e Anderson, mas, após o assassinato do pastor, a Delegacia de Homicídios de Niterói e São Gonçalo descobriu que o rapaz era, na realidade, filho afetivo.

Daniel estava na casa da família no momento do crime e se emocionou ao relembrar o momento em que ouviu os disparos feitos contra o pai, Anderson do Carmo. O rapaz não viu quem atingiu o pastor, já que estava dentro do seu quarto. Ele só saiu do local após os disparos e ajudou a socorrer a vítima, que já chegou morta ao hospital. Ele relatou ainda ter ouvido do próprio Lucas Cézar dos Santos, seu irmão, que tinha recebido uma proposta de Marzy Teixeira para matar Anderson.

— Ele estava indo para a igreja comigo e foi quando ele contou que a Marzy estava pedindo pra ele matar meu pai, oferecendo um dinheiro pra ele — detalhou, contando ainda sobre uma conversa que teve com Flordelis dias após o crime. Segundo ele, o diálogo durou cerca de uma hora e a mãe tentou “se justificar”:

— Ela (Flordelis) ficou falando do meu pai, que ele não era tudo aquilo que eu pensava. Ficou tentando se justificar, meio que se explicar. Ela dizia pra mim que Deus já tinha falado que ia levar ele.

Daiane Freire, filha afetiva de Flordelis
Daiane relatou que a desigualdade entre os integrantes da família começou a surgir após a ex-deputada e o pastor Anderson começarem a ganhar mais dinheiro.

— Tinha certeza de que a minha família era eles. Quando éramos crianças, éramos iguais, mas a desigualdade veio aparecer na nossa família quando o dinheiro entrou. Também, de alguma forma, a Simone, que era mais íntima de Flordelis, inventava fofoca das meninas adolescentes e a Flordelis acabava brigando conosco. Xingava dizendo que “você é piranha”, achando que éramos “foguenta”. Ela tentava nos corrigir usando palavras de baixo calão — relatou Daiane Freire.

Ela ainda contou que uma vez flagrou Simone dos Santos Rodrigues, filha biológica de Flordelis, colocando uma substância escondida na comida do pastor Anderson. Daiane lembrou ainda de um episódio em que ouviu de André Luiz de Oliveira, irmão afetivo e um dos réus na ação, que estaria com Flordelis “até o final”, mesmo se ela estivesse envolvida com o crime.

Raquel dos Passos Silva, neta de Flordelis
Filha do Carlos Ubiraci e neta de Flordelis, Raquel afirmou que, após o pastor Anderson do Carmo ser baleado, ouviu membros da família gritarem “ele morreu!”, como se estivessem comemorando. Além disso, ela contou que viu Ramon Oliveira catando as cápsulas de bala no chão e ele falou “sem as balas não há crime”.

— Ali entendi que a família Oliveira tinha alguma coisa com isso. Assim que vimos que ele havia sido baleado e não sabíamos ainda se o Anderson estava morto, ouvi a Rafaela, irmã de Ramon, dizer: “se ele estiver vivo, eu pego minhas coisas e meto o pé dessa casa” — revelou Raquel.

Raquel também contou que, na noite do crime, após o pastor ser socorrido a um hospital privado em Niterói, Flordelis fingia chorar na ligações que recebia. Ela ainda afirmou que a ex-deputada disse várias vezes para Flávio dos Santos sair da unidade: "O Flávio tem que sair daqui”.

Raquel revelou ainda ter sido orientada por uma mulher que se apresentava como "psicóloga” e secretária de Flordelis a mentir em seu depoimento na polícia. Ela conta que todos na casa tiveram que participar de uma simulação de depoimento.

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