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INVESTIGAÇÃO

Caso Marielle: Élcio de Queiroz diz que Ronnie Lessa teria sido extorquido por policiais

Justiça realiza primeira audiência de instrução e julgamento de Maxwell Simões, citado em delação e denunciado pelo MP por envolvimento nas mortes

Ex-policial militar Élcio de Queiroz fez delação premiadaEx-policial militar Élcio de Queiroz fez delação premiada - Foto: Reprodução MP

Em quase duas horas de depoimento, o ex-policial militar Élcio de Queiroz — que fez delação premiada e admitiu ter participado do assassinato de Marielle Franco e Anderson Gomes —, detalhou a participação do ex-bombeiro Maxwell Simões, o Suel, no crime.

Queiroz também afirmou que Ronnie Lessa, acusado de ser o executor dos homicídios, teria sido extorquido por um policial a quem chamou de "Marquinhos da DH", da Delegacia de Homicídios, que investigava o caso.

— Houve comentário de extorsão do Ronnie. Como eu vou confiar numa polícia que estava o tempo todo negociando com Ronnie? Eu confio na PF (Polícia Federal) e no Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado) — afirmou Queiroz, que também disse ter conhecimento de extorsão ao o ex-capitão da PM Adriano da Nóbrega, morto em 2020.

A afirmativa foi refutada pelo Promotor de Justiça do Júri, Fábio Viera, em entrevista no intervalo do julgamento:

— Estamos em uma audiência em que vamos juntar elementos das partições do Ronnie Lessa, Élcio e Maxell. Nesse processo específico está respondendo só o Maxell. Isso não é objeto de questionamento dentro desse processo. Essa informação pode dar início a uma nova investigação - afirmou o promotor.

Queiroz admitiu ter recebido ajuda financeira de Maxell enquanto esteve preso. Segundo ele, foram R$ 5 mil reais para pagar a mensalidade do colégio da filha. Na virada de 2017 para 2018, Ronnie teria desabafado a Queiroz ter recebido uma "encomenda paga". Segundo o delator, Lessa referia-se a "uma mulher da Tijuca", sem citar que o alvo seria a vereadora Marielle. Ele também pontuou que Maxell foi responsável por se desfazer do carro, um Cobalt prata, usado pelo grupo no crime.

— Estava na casa do Ronnie. A gente tinha bebido e ele disse ter um alvo que estava há três meses acompanhando. Disse ser uma mulher da Tijuca. Mas não que era a vereadora — afirmou em depoimento.

Segundo Queiroz, Maxell e Lessa vinham planejando a execução meses antes do ocorrido e que ele só teria ficado sabendo que se tratava de um homicídio no dia do atentado.

Viúva de Marielle cobra por respostas
A vereadora Mônica Benício, viúva de Marielle Franco, foi a primeira a ser ouvida na audiência de instrução e julgamento do ex-bombeiro Maxwell Simões Correa, o Suel, nesta terça-feira, no 4º Tribunal do Júri da Capital. Ele foi apontado na delação de Élcio de Queiroz como a pessoa que monitorou os passos da vereadora, assassinada com seu motorista Anderson Gomes, em 2018. Em depoimento, a viúva respondeu aos promotores perguntas sobre a rotina da companheira à época do crime.

Ao juiz, Mônica afirmou que "Marielle não costumava chegar tarde. Postava seus compromissos nas redes sociais como figura política e que as idas aos bares sempre acabavam em reuniões”.

— É muito doloroso. Muito desgastante, mas a gente entende a importância de querermos respostas. Espero que a gente não chegue a mais um 14 de março, completando seis anos, sem resposta — afirmou a vereadora em entrevista após a audiência.

Sentado no banco dos réus, e por videoconferência de Brasília, onde está preso em uma unidade de segurança máxima, Maxwell Simões acompanha a audiência ao lado dos advogados. Sem expressar reações, o ex-bombeiro encarou a vereadora Mônica Benício, viúva de Marielle, enquanto ela prestava depoimento.

Ele foi preso no dia 24 de julho, durante a Operação Élpis, deflagrada pela Polícia Federal e pelo Ministério Público do Rio, após delação premiada de Queiroz. Durante a audiência, serão ouvidas testemunhas do Ministério Público do Rio e de defesa do ex-bombeiro.

Em seguida, a viúva de Anderson Gomes, Agatha Arnaus, foi ouvida. Suel, novamente, acompanhou o depoimento sem muitas expressões. Do lado de fora, no auditório, apenas algumas pessoas acompanhavam o julgamento.

A viúva do motorista Anderson Gomes, Agatha Arnaus, foi ouvida logo em seguida. Emocionada, disse que o marido "não tinha medo de trabalhar com a vereadora" e que "não achava a rotina dela perigosa". Élcio Queiroz foi o terceiro a ser ouvido.

A audiência acontece na semana em que o governo do Rio inicia uma série e operações de combate ao crime organizado, com foco na facção responsável pela execução de três médicos na Barra da Tijuca, na última quinta-feira. Marcos de Andrade Corsato, de 62 anos, Perseu Ribeiro Almeida, de 33, Diego Ralf de Souza Bomfim, de 35, estavam em um quiosque quando foram alvos de 33 disparos. Eles participavam de um congresso de ortopedia no Rio.

Mônica lamentou episódio, mas condenou as operações das polícias Civil e Militar no Complexo da Maré, área conflagrada pelos criminosos. Disse ainda que, assim como Marielle, é cria da região e afirmou que se ela estivesse aqui "estaria vendo tudo com muita tristeza".

O enfrentamento não é com mais armas. Não é mais violência que é a linha do Estado. A linha que Cláudio Castro escolheu para atuar. Combater violência com mais violência. Marielle é da Maré de onde eu também sou. O que acontece nesses territórios é criminoso. O governador escolhe quem pode viver e quem é que deve morrer através dessa política que ele opera — afirmou a vereadora após completar que as tomadas de decisões das autoridades, no Completo da Maré, são ineficazes:

— É ineficaz porque a única coisa que oferecem para a favela é o braço armado. É a violência. Principalmente quando o governador, por exemplo, anuncia que quer subir um muro à prova de bala na Maré para que não cheguem até as vias de quem está passando, mas favelado pode morrer. É uma herança maldita desse círculo de política de 'tiro na cabecinha' e de operações que acontecem nos horários de saída e entrada de escola — criticou Benício.

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