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FRANÇA

Caso Pelicot: Francesa dopada pelo marido para estupros "não tem medo" que condenados recorram

Mulher que foi abusada por estranhos durante uma década diz que não se arrepende de ter defendido a abertura do julgamento ao público

Gisèle Pelicot decidiu expor os crimes a que foi submetida ao público para motivar uma Gisèle Pelicot decidiu expor os crimes a que foi submetida ao público para motivar uma  - Foto: Christophe Simon/ AFP

Gisèle Pelicot "não tem medo" de que um ou vários dos homens condenados por estuprá-la após um longo julgamento na França recorram da sentença e seja necessário realizar um outro julgamento em apelação, disse nesta sexta-feira seu advogado, Stéphane Babonneau. Durante décadas, a francesa foi dopada pelo próprio marido, que recrutava estranhos para violentá-la. Mais de 50 homens foram condenados.

— Ela não tem medo. Em outras palavras, se isso acontecer, ela já nos disse que enfrentará, caso esteja com boa saúde, evidentemente, já que agora tem 72 anos — declarou Babonneau na rádio France Inter.

 

Na quinta-feira, o tribunal de Avignon, no sul da França, condenou 51 homens, entre eles seu ex-marido Dominique Pelicot, por drogá-la durante uma década para fazê-la dormir e estuprá-la junto com dezenas de desconhecidos.

A advogada de dois acusados já anunciou que recorrerão da sentença. A representante legal do ex-marido, Béatrice Zavarro, também afirmou que está avaliando recorrer da pena de 20 anos de prisão imposta a seu cliente.

Questionado sobre o estado de ânimo de sua cliente após este julgamento emblemático das agressões sexuais contra mulheres, Babonneau declarou que Pelicot "está muito feliz por voltar para casa e muito aliviada".

— Ela não quer ser vista como um ícone, como alguém extraordinário. Na verdade, é alguém que continua muito simples e que decidiu tentar viver sua vida da forma mais normal possível — acrescentou: — A última coisa que ela quer é que outras vítimas pensem que esta mulher tem uma força extraordinária.

Gisèle Pelicot tornou-se um ícone mundial da luta contra a violência sexual contra mulheres por rejeitar um julgamento a portas fechadas, ao qual tinha direito como vítima, para "que a vergonha mude de lado".

Na quinta-feira, toda a classe política francesa e até líderes internacionais, como o chanceler alemão Olaf Scholz ou o primeiro-ministro espanhol Pedro Sánchez, elogiaram sua "coragem".

"Obrigado, Gisèle Pelicot (...) pelas mulheres que sempre terão [em você] uma pioneira para falar e lutar", escreveu nesta sexta-feira na rede social X o presidente francês, Emmanuel Macron, que exaltou sua "dignidade" e "coragem".

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