Cauã Reymond e Lady Gaga são adeptos da banheira com gelo: o hábito faz bem para a saúde?
Prática é utilizada para tratar inflamações, tirar dores do corpo e até tratamento contra estresse, porém pode causar hipotermia, arritmia e ataques cardíacos
Cauã Reymond aproveitou o domingo para esfriar a cabeça e o corpo. O ator, de 42 anos, publicou em suas redes sociais uma foto em que mergulha seu corpo em uma banheira lotada de gelo. Não é de hoje que ele é adepto da crioterapia, um tipo de tratamento que trata inflamações e tira dores do corpo provenientes de treinos pesados, por exemplo.
Cantores, como Lady Gaga e pilotos de fórmula 1, como o Charles Leclerc, também costumam mergulhar em gelo. A prática tem o mesmo objetivo quando aplicamos gelo no local após uma contusão, por exemplo.
Justamente por atuar diretamente no metabolismo celular, os principais benefícios englobam a redução do inchaço, o alívio da dor e a melhoria no sistema imunológico. Além disso, pode servir para fins estéticos, auxiliando na queima da gordura localizada, celulite e flacidez.
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Ao mergulhar as partes do corpo mais doloridas em uma banheira ou tanque cheio de água e gelo, a temperatura deve ser de, mais ou menos, 4 °C, e o tempo de tratamento de, aproximadamente, quatro minutos.
O ator costuma ficar em torno de 5 minutos. Mas passar por toda essa aflição gelada, vale mesmo a pena e faz bem para à saúde.
Técnica Wim Holf
Existe uma técnica, muito usada também por esportistas, chamada de Wim Hof, atleta radical e guru fitness, que combina exposição ao frio com respiração e meditação, para ajudar a controlar a ansiedade e o estresse.
Praticantes da técnica, como a autora de livros de autoajuda, Mel Robbins, afirmam que a água gelada provoca o que parece ser um ataque de pânico no início. Mas, depois de um tempo, seu corpo relaxa e sua mente se acalma.
A imersão em água fria tem atraído muita atenção ultimamente, especialmente por seus supostos benefícios à saúde mental. O método normalmente envolve imersão em um banho de gelo ou um banho frio, mas outros se voltaram para seus benefícios na saúde mental.
As pessoas usam água fria para promover a saúde há séculos. Hipócrates acreditava que a terapia com água poderia aliviar a fadiga, e os médicos do século XVIII recomendavam banhos frios para tratar doenças como febre e raquitismo.
Hoje em dia, aqueles que juram que existem benefícios na água fria dizem que ela os deixa revigorados, lúcidos e mais capazes de lidar com o estresse. Alguns afirmam que a técnica ajudou a lidar com o luto, a ansiedade, a depressão e outros desafios.
Evidências preliminares sugerem que eles podem estar certos em alguma coisa, mas a ciência por trás de como ou por que a água fria afeta a saúde mental ainda não está clara.
A água fria pode mesmo melhorar a saúde mental?
Nenhum estudo mostrou que o método Wim Hof ou a imersão em água fria por si só melhora a saúde mental, mas algumas pesquisas sugerem que a natação em água fria pode melhorar o humor e o bem-estar. Várias equipes de pesquisadores, especialmente na Europa, exploraram os efeitos psicológicos da natação em águas frias e obtiveram resultados encorajadores.
Um estudo de 2020 realizado no Reino Unido descobriu que 61 pessoas que fizeram um curso de 10 semanas para aprender a nadar na água fria do mar experimentaram mais melhorias no humor e no bem-estar do que 22 de seus amigos e familiares que os assistiram da costa.
Alguns cientistas também suspeitam que um mergulho em água gelada pode ajudar a tratar doenças mentais, como ansiedade e depressão. Um estudo britânico de 2018, descreve uma mulher de 24 anos com depressão e ansiedade que fez natação em água fria e, após quatro meses, não precisou mais de medicação. As descobertas iniciais são promissoras, mas obter evidências fortes é um desafio.
— Mesmo que não seja um efeito placebo, ainda não está claro qual componente da natação em água fria pode contribuir para melhorias relatadas no humor e bem-estar — conta Mike Tipton, professor de fisiologia humana da Universidade de Portsmouth.
Existem várias razões para pensar que a água fria pode trazer benefícios à saúde mental. Mergulhar em água gelada desencadeia a liberação de hormônios do estresse, como noradrenalina e cortisol.
— É provavelmente por isso que as pessoas dizem que um mergulho na água fria as acorda — afirma Tipton.
Alguns estudos também relataram aumentos nas substâncias químicas cerebrais que regulam o humor, como a dopamina, após uma imersão em água fria, o que pode explicar a sensação de bem-estar pós-natação. Além disso, colocar o rosto em água fria pode ativar a parte do sistema nervoso parassimpático, que leva o corpo a relaxar após um evento estressante.
Isso pode ajudar as pessoas a se sentirem calmas e conter a inflamação. De acordo com Mark Harper, do Royal Sussex County Hospital, que estuda natação em água fria, várias condições, incluindo a depressão, estão ligadas à inflamação crônica.
A imersão em água fria pode ser prejudicial?
Sim. Os pesquisadores sabem mais sobre os perigos da água fria do que seus potenciais efeitos terapêuticos. Uma das mais óbvias é a hipotermia, que geralmente se instala após cerca de 30 minutos em adultos. Mas a água fria apresenta riscos significativos muito antes disso.
O choque inicial de ser mergulhado em água gelada pode causar arritmias e ataques cardíacos. O risco de arritmias aumenta quando as pessoas colocam seus rostos debaixo d'água para esse “choque frio” inicial.
A combinação ativa ramos opostos do sistema nervoso, que enviam sinais contrários ao coração. O choque frio também desencadeia o reflexo de suspiro, seguido de hiperventilação. Se suas vias aéreas estiverem debaixo d'água, isso pode levar ao afogamento. Além disso, nadar em águas geladas leva rapidamente à exaustão.
A maioria dos especialistas recomenda consultar um médico antes de mergulhar no frio. As pessoas que planejam nadar ao ar livre também devem considerar se juntar a um grupo, certificar-se de que conhecem os perigos locais da água, evitar mergulhar de cabeça e garantir que tenham uma maneira de sair da água antes de entrar.
Especialistas recomendam que fazer a imersão com segurança pode valer a pena, porém a água não precisa ser congelada: a resposta ao choque frio atinge um pico entre 10°C e 15°C e poucos minutos na água são suficientes.