Derramamento de óleo pode ter provocado deformidades em cavalos-marinhos no Litoral de Pernambuco
Foram capturados machos grávidos que viviam no Rio Massangana e Ilha de Cocaia
O derramamento de óleo no litoral brasileiro em 2019 pode ter provocado graves deformidades em cavalos-marinhos que vivem na região do Complexo Portuário de Suape, em Pernambuco.
Pesquisadores do Instituto Hippocampus, que monitoram a espécie Hippocampus reidi há 30 anos, realizaram um estudo que detalha as mudanças encontradas na estrutura dos animais. Entre as anomalias apontadas está o nanismo.
A pesquisa foi publicada na revista científica internacional Environmental Toxicology and Chemistry.
Segundo a presidente do Instituto Hippocampus, Rosana Beatriz Silveira, que atuou no estudo, foram capturados machos grávidos que viviam no Rio Massangana e Ilha de Cocaia, situados entre o Cabo de Santo Agostinho e Ipojuca, na Região Metropolitana do Recife.
Inicialmente, o objetivo era aguardar o nascimento dos filhotes para estimar a fertilidade das populações daquelas áreas, foi quando identificaram as seguintes alterações entre os nascidos da Ilha de Cocaia:
- Escoliose/lordose;
- Focinho deformado;
- Boca deformada (maxila e mandíbula);
- Edema ocular;
- Ausência de globo ocular;
- Olhos em roseta;
- Edema de saco vitelínico;
- Anões.

"Todos os peixes com deformidades na coluna vertebral foram coletados no fundo dos aquários, pois não apresentavam capacidade natatória devido à severa lordose. Houve um aumento na ocorrência de anões, que são recém-nascidos de tamanho reduzido e proporções corpóreas não habituais", detalhou Rosana Beatriz Silveira.
Segundo a pesquisadora, os cavalos-marinhos investigados desenvolveram tais deformidades biológicas antes do nascimento, e aponta duas possíveis causas para as mutações:
"São duas hipóteses e uma não exclui a outra. Quando o óleo chegou em nossas praias, ele intoxicou os animais de forma aguda e crônica. Resumidamente, a forma crônica (que não matou os cavalos-marinhos) agiu sobre as células reprodutivas, causando mutações genéticas", inicia Rosana.
A segunda causa apontada está relacionada a uma possível intoxicação e diminuição da espécie. A pesquisadora detalha o que pode ter ocorrido: "A forma de intoxicação aguda matou grande parte dos cavalos-marinhos adultos, diminuindo drasticamente a população e promovendo casamentos consanguíneos, o que intensificou as más formações".

A presidente do Instituto Hippocampus destacou nunca ter presenciado situação semelhante ao longo dos 21 anos de estudos sobre a espécie em Pernambuco, o que a faz, diante de evidências e tamanho desastre ambiental, relacionar o derramamento de óleo às deformações encontradas nos cavalos-marinhos.
"Para compreendermos a magnitude do derramamento de petróleo bruto que atingiu Pernambuco, cerca de 1500 toneladas foram na nossa costa, quase um terço do petróleo encalhado em todo o País. Consideramos algumas evidências para a relação dos cavalos-marinhos malformados da Ilha de Cocaia e o acidente com vazamento do petróleo", afirmou Rosana, destacando-as:
- O estado de Pernambuco juntamente com Alagoas foram as unidades federativas mais afetadas pelo derramamento;
- a Ilha de Cocaia foi fortemente atingida pelas manchas de petróleo;
- variação na taxa de malformação e severidade do dano às proles da Ilha de Cocaia;
- inexistência de prole malformada no Rio Massangana.
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Para a definitiva comprovação da causa, a pesquisadora destaca a necessidade em retomar os estudos já elaborados, realizar análises da qualidade da água e sedimentos, além da manutenção do monitoramento das características biológicas e genéticas dos cavalos-marinhos.
Rosana Silveira também alertou que as três espécies de cavalos-marinhos existentes no Brasil (Hippocampus reidi, Hippocampus erectus e Hippocampus patagonicus) são reconhecidas como ameaçadas de extinção pela União Internacional de Conservação da Natureza e Ministério do Meio Ambiente.
"Se não executado um manejo adequado para esta população, ela estará fadada à extinção local", chama a atenção a presidente do Instituto Hippocampus, Rosana Beatriz Silveira, que também destaca a necessidade de apoio financeiro para manter as pesquisas.
"Estamos precisando muito de apoio financeiro para continuar este trabalho", relatou.
Sobre o Instituto Hippocampus
O Instituto Hippocampus é uma Organização Não Governamental (ONG), membro da União Internacional para a Conservação da Natureza, e que trabalha com a conservação de cavalos-marinhos.
O projeto, que está sediado há mais de 21 anos no município do Ipojuca, no Litoral de Pernambuco, atua em parceria com diversas universidades federais do Brasil, além de órgãos ambientais municipais, estaduais e federais.
Atualmente, o instituto busca financiamento e novos parceiros. Doações financeiras podem ser feitas para os seguintes dados bancários:
Instituto Hippocampus
Banco do Brasil
Ag: 2138-5
Cc: 50716-4
CNPJ: 04.534.382/0001-94
Pix: 04.534.382/0001-94