"Cebolinha": entenda como a hortaliça virou símbolo de protesto nas eleições da Coreia do Sul
O país tem eleições legislativas nesta quarta-feira, e o pleito é considerado crucial para que o presidente, Yoon Suk Yeol, consiga prosseguir com a agenda conservadora
A visita do presidente Yoon Suk Yeol a um mercado para observar os preços virou objeto de piadas e memes, entre a população coreana. Além disso, a hortaliça se tornou um símbolo da oposição a ponto da Comissão Nacional Eleitoral proibir que os eleitores a apresentem nos locais de votação. Yoon enfrenta um descontentamento público e críticas sobre sua administração econômica, devido à inflação, que ultrapassa os 3%. De acordo com as pesquisas do instituto Gallup, esses motivos representam uma das principais razões para a rejeição ao governo.
Durante uma visita ao estabelecimento, Yoon se aproximou do alimento e comentou: "Já fui a muitos mercados e acho que 875 won (0,65 dólar, 3,37 reais) é um preço razoável". Porém, antes de sua visita o mercado teria abaixado o preço do item, segundo a imprensa sul-coreana.
O valor normal do produto é três a quatro vezes superior ao mencionado pelo presidente. A cebolinha desempenha um papel significativo na culinária e cultura da coreana, sendo essencial em diversos pratos, como o tradicional kimchi (prato fermentado coreano), pajeon (panqueca de cebolinha), e ensopados.
O acontecimento gerou tumulto nas redes sociais, e os eleitores levantaram a hashtag #cebolinha875won.
Em uma entrevista recente, o ex-deputado Yoo Seung-min declarou que os sul-coreanos votaram em Yoon com a esperança de uma recuperação econômica, mas ficaram decepcionados. "A declaração equivocada de Yoon sobre a cebolinha adicionou fogo a este sentimento", disse.
Eleições legislativas
Os sul-coreanos começaram a votar nesta quarta-feira, para as eleições legislativas consideradas, um plebiscito sobre o presidente do país, Yoon Suk Yeol, e sua agenda conservadora, após uma campanha eleitoral polarizada. Segundo as pesquisas coreanas de boca de urna, o Partido Democrático (PD, centro-esquerda), de Lee Jae-myung, principal legenda de oposição, e seus aliados conquistariam entre 184 e 197 cadeiras de um total de 300 na unicameral Assembleia Nacional, contra 156 atualmente.
Leia também
• Oposição vence eleições legislativas na Coreia do Sul, mas não consegue maioria absoluta
• China, Coreia do Norte e Rússia: conheça os países em que o X, antigo Twitter, é bloqueado
• Sob tensão com o Norte, Coreia do Sul confirma envio ao espaço de segundo satélite-espião
Nas eleições presidenciais de 2022, Yoon venceu por uma margem estreita contra Lee. No entanto, como presidente, adotou uma postura rígida em relação à Coreia do Norte, fortalecendo os laços com os Estados Unidos e se aproximando do Japão, apesar das tensões históricas. E também a respeito das promoções de sua agenda, que inclui a reforma do sistema de saúde e a promessa de acabar com o Ministério da Igualdade de Gênero.
Desde 20 de fevereiro, o sistema de saúde sul-coreano enfrenta uma greve de médicos, resultando no cancelamento de cirurgias e tratamentos. Esses trabalhadores protestam contra as reformas propostas por Yoon, que visam aumentar as admissões nas faculdades de Medicina para lidar com a escassez de profissionais.
Além disso, o presidente está envolvido em um escândalo devido a imagens de câmeras escondidas que mostram sua esposa, Kim Keon Hee, recebendo uma bolsa de luxo da Dior no valor de 2.200 dólares (R$ 11.000), violando as leis sul-coreanas que limitam presentes para funcionários públicos e seus cônjuges a US$ 750 (R$ 3.770). Yoon chamou o vídeo de "armação política", alegando que sua esposa aceitou a bolsa devido às circunstâncias difíceis de recusar.